Leitura Matinal -181
Não é pequeno perigo o que estagna a clarividência de um
pequeno ponto do Mundo e da História, que se veja, sem
remédio, confinado à visão deformada de Dimensões que
o excedem, moldadas pelo orgulho medíocre e tacanho dos
seus habitantes. Estamos cansados de ver tão evidente
pequenez nos auto-proclamados expoentes civilizacionais,
redutores da visão individual, atrofiada na sua liberdade.
Exactamente o contrário do que pode acontecer com a Poesia,
a qual encerra a potencialidade de, a partir do acto livre de criar,
expandir o alcance de uma imagem restrita, quer pelo que de
original exiba a particular visão do Autor, quer pela união
que cria com o espírito do Leitor., ou, em casos menos concordantes,
pela visão alternativa que lhe fique a dever a génese.
Dois poemas de Vitor Matos e Sá, cada um tocando um dos
mencionados alcances:
PARA O OUTRO LADO DA POESIA
(Anti-Poema)
No charco civilizado onde cai o rosto do céu
as rãs muito actuais, as rãs muito antigas que têm sempre
....opiniões muito actuais,
digerem sonoramente os mosquitos
e chamam-lhes pássaros concretos da esperança!
No charco civilizado o céu é do tamanho verde do charco
e as rãs dão de toda a divindade a circular explicação do charco
nas margens indiscutíveis e rasas e unânimes do charco.
No charco civilizado onde cai a mão nocturna do luar
as rãs considerariam este poema a obra-prima da literatura coaxada
se falasse de outras rãs dialecticamente necessárias e contudo odiosas
apesar de rãs, também, batraquicamente sonoras,
e desenhando os mesmos círculos que sorriem sem margens
de seus mergulhos para dentro da água do charco
molhada de um céu estrelado de grandes distâncias...
AUTOBIOGRAFIA
Estive convosco em muitas palavras.
Algumas levaram-me ainda mais perto.
Com outras fiquei apenas mais só.
De muitas não vi que rosto as guardava.
Por outras me dei a quem não pedia.
Onde foram mentira alguém me faltava.
Mas todas cumpri por quem me cumpria.
E passaram ardendo em novos combates,
cobriram silêncios, provaram mistérios,
fizeram amigos que nunca terei.
Por serem verdade me trazem aqui.
E quando as sonhais na vossa esperança,
Um irmão me procura por entre as cidades
com todos os rostos que perdi.
pequeno ponto do Mundo e da História, que se veja, sem
remédio, confinado à visão deformada de Dimensões que
o excedem, moldadas pelo orgulho medíocre e tacanho dos
seus habitantes. Estamos cansados de ver tão evidente
pequenez nos auto-proclamados expoentes civilizacionais,
redutores da visão individual, atrofiada na sua liberdade.
Exactamente o contrário do que pode acontecer com a Poesia,
a qual encerra a potencialidade de, a partir do acto livre de criar,
expandir o alcance de uma imagem restrita, quer pelo que de
original exiba a particular visão do Autor, quer pela união
que cria com o espírito do Leitor., ou, em casos menos concordantes,
pela visão alternativa que lhe fique a dever a génese.
Dois poemas de Vitor Matos e Sá, cada um tocando um dos
mencionados alcances:
PARA O OUTRO LADO DA POESIA
(Anti-Poema)
No charco civilizado onde cai o rosto do céu
as rãs muito actuais, as rãs muito antigas que têm sempre
....opiniões muito actuais,
digerem sonoramente os mosquitos
e chamam-lhes pássaros concretos da esperança!
No charco civilizado o céu é do tamanho verde do charco
e as rãs dão de toda a divindade a circular explicação do charco
nas margens indiscutíveis e rasas e unânimes do charco.
No charco civilizado onde cai a mão nocturna do luar
as rãs considerariam este poema a obra-prima da literatura coaxada
se falasse de outras rãs dialecticamente necessárias e contudo odiosas
apesar de rãs, também, batraquicamente sonoras,
e desenhando os mesmos círculos que sorriem sem margens
de seus mergulhos para dentro da água do charco
molhada de um céu estrelado de grandes distâncias...
AUTOBIOGRAFIA
Estive convosco em muitas palavras.
Algumas levaram-me ainda mais perto.
Com outras fiquei apenas mais só.
De muitas não vi que rosto as guardava.
Por outras me dei a quem não pedia.
Onde foram mentira alguém me faltava.
Mas todas cumpri por quem me cumpria.
E passaram ardendo em novos combates,
cobriram silêncios, provaram mistérios,
fizeram amigos que nunca terei.
Por serem verdade me trazem aqui.
E quando as sonhais na vossa esperança,
Um irmão me procura por entre as cidades
com todos os rostos que perdi.
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