Da Lavagem ao Cérebro, Perdão, do Ensino

Parecerá impossível aos meus habituais Leitores, mas estou
inteiramente de acordo com a posição de Manuel Alegre, que
defende que a Constituição deve ser ensinada nas escolas. Não
com os mesmos fundamentos, mas que diabo, não se pode
querer tudo. Acho que devem fazer as criancinhas debitá-la,
pois é bom que se conheça o inimigo. Recordo o ano lectivo
de 1974-1975, em que, na minha turma da 4ª classe, nos
obrigavam a cantar cançonetas de louvor ao 25A. Dessa safei-me
com a verdade, pois confessando não ter o menor jeito para
entoar, não conviria à revolucionária mestra que as loas fossem
enveredando por desafinação tão notória como a dos sucessos
políticos que cantavam. Quando chegámos à redacção é que
não encontrei escapatória. E lá tive de passar ao papel umas
aldrabices ao gosto da época. Ou seja, iam incutindo nos miúdos
vícios que se poderiam tornar duradouros; no caso, a produção
de afirmações que, pela variação de nota correspondente ao
alinhamento pretendido, ou à sua desconformidade, suscitavam
a debitação de frases com reserva mental.
Ao pé disto o ensino do Estado Novo, com o culto do Infante D.
Henrique e o panegírico da Obra de Salazar, parecia um antro
de liberdade acolhedor das heterodoxias.