Leitura Matinal -173
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Este post é dedicado à Adryka, que fez anos ontem, até porque se fala no nome do Seu blogue.
Quem não recorda «A Mulher Falcão», esse filme sedutor sobre a medieval lenda de uma maldição lançada por despeito sobre um casal, que, transformando os seus membros, um em lobo, durante a noite, a outra em falcão, de dia, impedia que se juntassem e se amassem?
Mas quando a impossibilidade da fusão amorosa radica na própria interioridade que repele as juras anteriores e os projectos, ou surge a sordidez das desilusões, ou, com sublimação artística ou mítica, se eterniza o fosso da distância com o prestígio conferido pelo sofrimento de entes abstractos, tão diverso da pena que sentimos pelos conhecimentos concretos, a qual, se sincera, é dor e se formal, é desconforto.
Ou, como viu J. M. Boavida-Portugal:
UMA LENDA
A Aurora e o Crepúsculo nasceram
Na mesma hora
E como juntos cresceram,
O projecto rosado conceberam
De irem sempre juntos pela vida fora.
Sonharam um noivado, uma ventura,
Um lar, um filho, uma ilusão de amor.
Mas como a felicidade pouco dura,
Surgiu a Noite, desfez-se a ventura,
O lar, o sonho, a ilusão de amor...
A Aurora tinha saúde,
Um rosto alegre, alentador, contente,
Uma coragem de perfeito herói.
Enregelado a miude,
O Crepúsculo foi
Sempre um menino doente.
E como a Noite era escura, misteriosa,
Teve por ela uma paixão enorme, violenta dolorosa
E, fraco, triste, procurou fugir.
Chorou a Aurora, tanto que a Tristeza
Sentiu piedade.
E para ver se matava esta saudade,
Ao Senhor omnipotente foi pedir
A criação de um novo ser, todo beleza.
Com a força colossal donde irradia
A vida, o alento.
E o Senhor, num pensamento,
Fêz o Dia.
Mas a Aurora, fiel ao velho sonho,
Sempre fugiu do Dia
Para andar chorando o seu amor tristonho
O seu Crepúsculo doente.
Foi então que o Luar, o casto monge,
Pediu à noite silente
Que os deixasse aproximar.
- Mas quando surge o Luar vai o poente longe
E a Aurora longe vem nos trilhos de além mar...
As esculturas incluídas são «Crepúsculo» e «Aurora»,
de Miguel Ângelo.
Este post é dedicado à Adryka, que fez anos ontem, até porque se fala no nome do Seu blogue.
Quem não recorda «A Mulher Falcão», esse filme sedutor sobre a medieval lenda de uma maldição lançada por despeito sobre um casal, que, transformando os seus membros, um em lobo, durante a noite, a outra em falcão, de dia, impedia que se juntassem e se amassem?
Mas quando a impossibilidade da fusão amorosa radica na própria interioridade que repele as juras anteriores e os projectos, ou surge a sordidez das desilusões, ou, com sublimação artística ou mítica, se eterniza o fosso da distância com o prestígio conferido pelo sofrimento de entes abstractos, tão diverso da pena que sentimos pelos conhecimentos concretos, a qual, se sincera, é dor e se formal, é desconforto.
Ou, como viu J. M. Boavida-Portugal:
UMA LENDA
A Aurora e o Crepúsculo nasceram
Na mesma hora
E como juntos cresceram,
O projecto rosado conceberam
De irem sempre juntos pela vida fora.
Sonharam um noivado, uma ventura,
Um lar, um filho, uma ilusão de amor.
Mas como a felicidade pouco dura,
Surgiu a Noite, desfez-se a ventura,
O lar, o sonho, a ilusão de amor...
A Aurora tinha saúde,
Um rosto alegre, alentador, contente,
Uma coragem de perfeito herói.
Enregelado a miude,
O Crepúsculo foi
Sempre um menino doente.
E como a Noite era escura, misteriosa,
Teve por ela uma paixão enorme, violenta dolorosa
E, fraco, triste, procurou fugir.
Chorou a Aurora, tanto que a Tristeza
Sentiu piedade.
E para ver se matava esta saudade,
Ao Senhor omnipotente foi pedir
A criação de um novo ser, todo beleza.
Com a força colossal donde irradia
A vida, o alento.
E o Senhor, num pensamento,
Fêz o Dia.
Mas a Aurora, fiel ao velho sonho,
Sempre fugiu do Dia
Para andar chorando o seu amor tristonho
O seu Crepúsculo doente.
Foi então que o Luar, o casto monge,
Pediu à noite silente
Que os deixasse aproximar.
- Mas quando surge o Luar vai o poente longe
E a Aurora longe vem nos trilhos de além mar...
As esculturas incluídas são «Crepúsculo» e «Aurora»,
de Miguel Ângelo.
2 Comments:
At 12:44 PM, Crepúsculo Maria da Graça Oliveira Gomes said…
Fantástico adorei, gostava de o ter nos meus arquivos se me deres essa autorização.Beijinhos amigo
At 3:27 PM, Paulo Cunha Porto said…
Querida Adryka:
Claro que me dá imenso prazer que guardes este pobre "post". A história tem o seu "quê".
Atenção, que corrigi um inexplicável lapso de transcrição, de «chegou» para «chorou».
Beijinho.
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