Leitura Matinal -170
Nem vida, nem morte. Nem consciência, nem vazio. Nem
liberdade, nem necessidade. Que papel para os sonhos, na
vida do Homem. Tidos por vagos e difusos ,quando pensamos
os menos agitados de entre eles, demasiado presentes e precisos,
quando acordamos no auge de vis pesadelos. Janelas para o futuro
como tanta gente, desde Artemidoro aos livrinhos de significação
deles querem? Ou Vista para o passado, segundo pretendem os
psicanalistas? O certo é que são indispensáveis à vida, conforme
comprovaram os crueis estudos em animais, num gato,
nomeadamente, onde foi cortado o sono nos períodos em que se
sonhava, com a consequente instabilidade psíquica e irritabilidade.
É que, em boa parte, constituem como que uma compensação ou
pela tranquilidade, ou pela intensidade, do pesadelo tépido em que
vai correndo a vida exterior, com inerente insuportabilidade que só
fazendo das tripas coração se consegue aguentar.
De Anrique Paço D´Arcos:
O que é sonhar? é ver a noite escura
Abrir-se de repente em claridade
Nas mais remotas amplidões da altura.
Contemplar ainda em vida a Eternidade,
Sofrer além da dor e além do Amor,
Ser apenas um vulto de saudade
Nas distâncias brumosas do sol-pôr
Às horas em que a Terra é já do Céu
E em que o silêncio cresce em derredor
Como a fala de tudo o que morreu
Quem saberá dizer a que profundo
Abismo a nossa alma já desceu
Quando, fechando os olhos para o mundo,
Os abre para o outro e vê a Morte
Tal como a vê o olhar do muribundo;
E vê seu mesmo vulto errando à sorte
Em remotas paragens de tristeza,
Onde o vento se extingue e onde é mais forte
O marulhar dos astros, - luz acesa
Por Deus para afastar do seu caminho
A sua própria sombra que lhe pesa
Mais do que o Mundo imenso ao pobrezinho
Coração que em mim vive, porque eu sou
Uma árvore de dor e o mundo é um ninho
Que em meus ramos de sonho a Dor criou;
Um ninho cheio de astros, como brasas
De algum antigo lar que se apagou...
Andorinhas do Além tentando as asas
Num ímpeto de luz, para voar
E vêm pousar sôbre os beirais das casas
Como pousam também no meu olhar...
liberdade, nem necessidade. Que papel para os sonhos, na
vida do Homem. Tidos por vagos e difusos ,quando pensamos
os menos agitados de entre eles, demasiado presentes e precisos,
quando acordamos no auge de vis pesadelos. Janelas para o futuro
como tanta gente, desde Artemidoro aos livrinhos de significação
deles querem? Ou Vista para o passado, segundo pretendem os
psicanalistas? O certo é que são indispensáveis à vida, conforme
comprovaram os crueis estudos em animais, num gato,
nomeadamente, onde foi cortado o sono nos períodos em que se
sonhava, com a consequente instabilidade psíquica e irritabilidade.
É que, em boa parte, constituem como que uma compensação ou
pela tranquilidade, ou pela intensidade, do pesadelo tépido em que
vai correndo a vida exterior, com inerente insuportabilidade que só
fazendo das tripas coração se consegue aguentar.
De Anrique Paço D´Arcos:
O que é sonhar? é ver a noite escura
Abrir-se de repente em claridade
Nas mais remotas amplidões da altura.
Contemplar ainda em vida a Eternidade,
Sofrer além da dor e além do Amor,
Ser apenas um vulto de saudade
Nas distâncias brumosas do sol-pôr
Às horas em que a Terra é já do Céu
E em que o silêncio cresce em derredor
Como a fala de tudo o que morreu
Quem saberá dizer a que profundo
Abismo a nossa alma já desceu
Quando, fechando os olhos para o mundo,
Os abre para o outro e vê a Morte
Tal como a vê o olhar do muribundo;
E vê seu mesmo vulto errando à sorte
Em remotas paragens de tristeza,
Onde o vento se extingue e onde é mais forte
O marulhar dos astros, - luz acesa
Por Deus para afastar do seu caminho
A sua própria sombra que lhe pesa
Mais do que o Mundo imenso ao pobrezinho
Coração que em mim vive, porque eu sou
Uma árvore de dor e o mundo é um ninho
Que em meus ramos de sonho a Dor criou;
Um ninho cheio de astros, como brasas
De algum antigo lar que se apagou...
Andorinhas do Além tentando as asas
Num ímpeto de luz, para voar
E vêm pousar sôbre os beirais das casas
Como pousam também no meu olhar...
1 Comments:
At 11:56 AM, Anonymous said…
«De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos em que estamos despertos»
PESSOA, Fernando in "Livro do Desassossego"
I
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