O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, November 02, 2005

Leitura Matinal -167

Creio que foi Lord Byron que disse alguma vez que «se o
Amor fosse eliminado como tema da poesia, quatro quintos
dos poemas que o Mundo conhece teriam de ser deitados fora».
É matéria perigosa. Muita boa poesia tem sido feita, cantando
outras temáticas. E há sempre o perigo de não conseguir o
poeta cunhar a obra com uma reconhecibilidade universal do
sentimento que, daquela maneira e àquele Objecto, espera ser
o único capaz. Paradoxo que quer partilhar o conhecimento de
uma intimidade, embora não compartilhar a intensidade desse
sentir. Um risco acaba por ser grande: onde se prometeu falar
do Amor e do Ser Amado, passar a falar de si. Mas, se assumido,
pode também ser um ganho, na medida em que permita pôr de
lado a renúncia ao canto e, mais genericamente, a viver.
Ou, como Carlos Queirós põe as coisas:

A sombra que velou o meu olhar sem rumo
Pôs um dedo nos lábios;
E um silêncio caiu, absurdo, como a neve
numa paisagem tropical.

As próprias coisas se calaram.

Eu fugia das plantas e das flôres,
- com vergonha talvez de que me vissem
aquelas cujos nomes ignorava...

(Perdôa-me, Natureza!
A culpa não é minha: é da cidade)

Mais ao longe dois versos
que se evadiram de um poema antigo,
sulcaram bruscamente,
o meu difuso espírito alheado:
- Uma vida serena, simples, casta,
que para ser feliz tanto me basta!...

É triste ser poeta - meditei;
e é tão pouco ser homem...

Pois sim, mas o Amor?
- E esta palavra encheu
a curva azul do ceu...

Não foi sonhada, não, essa tarde estival!
- A sua blusa asul, aos seios tão cingida!

Nos olhos, de ternura humedecidos,
tremulinava a lívida lembrança
duma dúvida morta:
Seus finos dedos, frágeis, friorentos,
nos meus entrelaçados...

- Não foi sonhada, não, essa tarde estival,
Era verdade o Amor! Era verdade a Vida!

1 Comments:

  • At 3:35 PM, Anonymous Anonymous said…

    "Todas as coisas têm o seu mistério, e a poesia é o mistério de todas as coisas"

    LORCA,Federico in «Conversas Sobre o Teatro»

    I

     

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