Leitura Matinal -179
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Na hora da aflição, do falhanço, vira-se o Homem para Deus, mesmo muito que enquanto em trilhos satisfatórios pouco Nele atentara. Será a cunha que se mete a um Maior Poder, para ultrapassar falhas curriculares? O egotismo de que fala Fradique Mendes, como motor universal da prece? A soberba de quem sente que Lá Alto lhe devem algo pelo que é e que o Devedor está em mora? Ou, mais chãmente, a sensibilidade aguçada pela carne viva em que deixou a globalidade de um ser a chicotada do duro infortúnio, qualidade de Esperança maior do que as cautelas que procuram esgotar os meios? Deve ser nessa sagrada descoberta do Mistério que da consciência da pequenez une ao Imensamente Grande pela reversibilidade da suficiência derrotada, que das cinzas do ridículo estagna a revolta e faz cortar a meta do deslumbramento da inclusão na Serena Eternidade, pelo devoto acto de rezar.
Eis como António Cabral sentiu:
FRACASSO
Porque será Senhor, que te Procuro,
com mais sinceridade,
ao dar comigo no amolecimento do fracasso?
Nada me enreda, vou,
isolado na minha ânsia,
ardente e lúcido, para a destruição.
É que procuro em Ti a perfeição
disto que só conhece
o inacabado, o efémero?
Procuro-Te, ferido atrozmente
por este orgulho de homem
que não consegue realizar-se duma vez?
Será o orgulho? Não, só sei que vou
como sou, todo no meu remorso.
Destruísse-me, como o vento,
sublime,
no rochedo
do teu imperecível absoluto!
A imagem: «Mãos Rezando», de Tim Ashkin.
Na hora da aflição, do falhanço, vira-se o Homem para Deus, mesmo muito que enquanto em trilhos satisfatórios pouco Nele atentara. Será a cunha que se mete a um Maior Poder, para ultrapassar falhas curriculares? O egotismo de que fala Fradique Mendes, como motor universal da prece? A soberba de quem sente que Lá Alto lhe devem algo pelo que é e que o Devedor está em mora? Ou, mais chãmente, a sensibilidade aguçada pela carne viva em que deixou a globalidade de um ser a chicotada do duro infortúnio, qualidade de Esperança maior do que as cautelas que procuram esgotar os meios? Deve ser nessa sagrada descoberta do Mistério que da consciência da pequenez une ao Imensamente Grande pela reversibilidade da suficiência derrotada, que das cinzas do ridículo estagna a revolta e faz cortar a meta do deslumbramento da inclusão na Serena Eternidade, pelo devoto acto de rezar.
Eis como António Cabral sentiu:
FRACASSO
Porque será Senhor, que te Procuro,
com mais sinceridade,
ao dar comigo no amolecimento do fracasso?
Nada me enreda, vou,
isolado na minha ânsia,
ardente e lúcido, para a destruição.
É que procuro em Ti a perfeição
disto que só conhece
o inacabado, o efémero?
Procuro-Te, ferido atrozmente
por este orgulho de homem
que não consegue realizar-se duma vez?
Será o orgulho? Não, só sei que vou
como sou, todo no meu remorso.
Destruísse-me, como o vento,
sublime,
no rochedo
do teu imperecível absoluto!
A imagem: «Mãos Rezando», de Tim Ashkin.
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