A Base de Tudo

A distanciação com que, de um modo geral, as propostas de
alteração legislativa em matéria de corrupção afloradas
pelo Presidente Sampaio foram recebidas constituem um passo
em frente, na medida em que se percebe, finalmente, que não
é necessária uma nova fornada de facilidades legais visando
apanhar os prevaricadores, há é que começar por fazer cumprir
o quadro legal existente, com os meios já disponíveis. De um
modo geral, concordo com o que Helena Garrido escreve, hoje,
no «DN», embora exceptue a parte da alteração da moldura penal,
porque nunca subestimarei o papel que o medo pode desempenhar.
Mas o cerne do problema não está nem nas propostas presidenciais,
nem na sua contestação. A grande culpada da derrocada do nível
da classe política, também no campo da honestidade, reside na
forma como ela é recrutada, por tarimba política ou favor de
directórios partidários. Não tenho em grande conta a possiblidade
de escolha directa, tipo "primárias", pelo eleitorado. Mas tudo
é melhor do que o sistema de cumplicidades ou de promoções por
acção parcial, na medida em que partidária. A meu ver, a única
maneira de diminuir a generalizada venalidade residiria na nomeação
a partir de cima. Seria, ainda assim, admissível a hipótese do
surgimento de surpresas desagradáveis? Evidentemente que sim.
Onde está o Homem pode morar o erro. Mas seria muito diferente de
institucionalizar este como critério oficial.