Homens Rumando a Deus
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Foi no 3 de Dezembro de 1563 que o Concílio de Trento oficialmente estabeleceu como Doutrina a ser observada o reconhecimento da existência do Purgatório, o que, para mim, constitui a feliz coincidência da minha Religião com a maior conciliação que a Teologia alcançou entre as Divinas Virtudes da Justiça e da Misericórdia. O reconhecimento de uma Bondade Essencial, embora manifestamente imperfeita, é o que me vai impelindo para a expectativa no relacionamento com os meus Semelhantes e assegurando a Esperança, sem a qual não me aguentaria, diferente contudo das concretizaçõezinhas egoístas Dela, razões primeiras da minha misantropia.
Jacques Le Goff, num livro prodigioso, mas informado pela aversão protestante da sua linhagem a tudo o que seja medir as obras com a plena imputação à Liberdade que lhes dá conteúdo, estabelece a origem do fundamento deste local de refrigério em Santo Agostinho, Tão Grande Santo e Mente que permitiu ver nos seus Escritos fundamentada uma diminuição do absolutismo livre, na concepção da Graça que alguns de Lá retiraram, como, muito mais ortodoxamente, a recompensa das acções das vidas que aos negadores ou mitigadores da capacidade de escolha custa aceitar.
E no entanto, um outro pessimismo - o ingénuo, porque oposto ao meu que algo soberbamente pretendo sagaz - foi, na contemporaneidade, acentuando a vertente de sofrimento da Espera, qual castigo menor, quando o fulcro da elaboração do Conceito assentava na Certeza da Reunião ao Divino, sujeita somente à dilação que limasse pequenas falhas não-comprometedoras. Reconhecimento da nossa indignidade de hoje?
Parece-me ser esse, um pouco, o sentido a retirar, conforme esta pintura, «Purgatório», de Pia di Stefano.
8 Comments:
At 3:46 PM, Anonymous said…
Caro amigo foram sempre estas imagens obscuras e mórbidas que me afastaram um pouco da minha religião de baptismo. Nunca gostei muito da apologia da dor, sofrimento e sentimento de culpa.
At 6:40 PM, Anonymous said…
O Paulo que me perdoe, mas estou consigo Caro Capitão-mor.
Beijinho aos dois
At 6:50 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Capitão-Mor:
Pois também por isso fiz o "post", insurgindo-me contra as visões que aproximam este estado pré-Celestial do Inferno, em vez de o reconhecerem ortodoxamente como antecâmara do Paraíso.
Querida, Querida Marta:
Pelo que acabo de dizer, discordância nenhuma, logo, nada a perdoar.
Beijinho e abraço.
At 8:26 PM, Anonymous said…
o que me descansa, paulo, é que já sei que vou para o inferno!:)
At 8:47 PM, Anonymous said…
:) :)
At 1:10 AM, António Viriato said…
Caro Paulo Cunha Porto,
A ideia do Purgatório, apesar de inventada por mentes humanas não me ofende. Imagino-o assim como um lugar ou um tempo destinado a depurar a nossa mais íntima natureza de seres incompletos, fracos, na carne e no espírito, para no final, ganharmos força e convicção em nós mesmos.Talvez nem precisemos de fé ou de religião para essa almejada depuração do nosso ser.
Um abraço e mais uma boa semana,de ânimo renovado, agora que entrámos no Advento.
At 9:34 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro António Viriato:
Que bom é tê-Lo de regresso a esta casa, após momentos mais difíceis de que, na Sua, nos deu conta. Embora o meu enquadramento esteja dentro da Fé e da Igreja, penso que a disposição regeneradora que teve a bondade de enunciar é bem apta a melhorar todos os que não se hajam enfronhado demasiado no Mal e corresponde à mais lídima acepção do Purgatório e à aspiração correspondente.
Abraço.
At 9:35 AM, Paulo Cunha Porto said…
Querida Teresa:
Só se for por mentiras dessas...
Aristaeus:
Obrigado.
Beijinhos e abraços.
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