As Cedências Fatais
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Não tenho a ilusão de compartilhar o que Filomena Molder diz do recuo da Filosofia nos programas escolares. Será sempre uma ínfima minoria a que se sinta cativada para as interrogações fundamentais que a disciplina desperta e fomenta, tanto pelos apelos de qualidade decrescente do Mundo exterior, como pelas predisposições próprias. Mas há que lamentar profundamente esta regressão, na medida em que vai privar muitos adolescentes do contacto com uma forma de pensamento, melhor, A verdadeira forma de pensamento, de cujo registo e possibilidades muitos nem sequer desconfiarão. Os nossos governantes, sempre tão preocupados com a Igualdade, deveriam atentar no fosso que estão a cavar, entre os que venham de famílias em que os pais tenham capacidade e disponibilidade para introduzir os rebentos no domínio da equação dos sentidos e da ginástica mental e os que provenham de meios em que essas vantagens estejam ausentes. Na transigência com as dificuldades de aprendizagem reside a mediocridade mais brutal. Que raio de Progresso!
O Tríptico, que não suporta bem que lhe retirem peças, é «Filosofia», de Penellope Nikotin. Por favor, nada de justificar o tabagismo pelo apelido!
8 Comments:
At 11:27 AM, Anonymous said…
Mais uma vez tem toda a razão: aqui procura-se a igualdade, nivelando por baixo. Não tarda, estaremos no nível da indigência.
At 11:32 AM, Paulo Cunha Porto said…
Caro Anónimo:
É incrível a obcessão de facilitar, em vez de estimular. E depois queixam-se, com hinos à cultura e lágrimas se não de crocodilo, de certeza reptilíneas, sobre a falta de apetência dos jovens que eles abdicaram de formar...
Abraço.
At 11:58 AM, Jansenista said…
Belíssimo tríptico, a condizer com o nível do post. Em todo o caso, discordo um pouco do pessimismo, algum declínio é o resultado da irrelevância a que muita das especulação filosófica se remeteu (com os habituais tiques esotéricos e iniciáticos).
AbraSSo!
At 12:20 PM, Paulo Cunha Porto said…
Corrigenda à resposta anterior:
obsessão.
Meu caro Jansenista:
Claro que o esoterismo divulgado a metro - ai a contradição nos termos! - e o galgar de caminhos que não levam a parte nenhuma terão contribuído para fundamentar esta (des)orientação, ao menos nas cabeças dos decisores. Mas não deveríamos alinhar por esse diapasão, sim treinarmo-nos e treinar os próximos para separar o trigo do joio...
Abraço.
At 5:40 PM, Anonymous said…
Para a disciplina de Filosofia é necessário, não é bom, é óptimo professor.
Ás vezes é melhor não ter.
Para mim foi das cadeiras que mais gostei.
At 7:17 PM, Paulo Cunha Porto said…
Querida Marta:
Inteiramente de acordo! Um docente sem jeito para tocar as cordas sensíveis do cérebro da miudagem pode ser nocivíssimo para o laço que as prenda a essa específica frequência pensante.
No meu caso tive três boas professoras no Secundário, embora nenhuma marcante, ao contrário do que aconteceu em Português e em Matemática, por exemplo. Já na faculdade, em Filosofia do Direito, apanhei um Homem muito erudito mas sem qualquer jeito para comunicar.
Beijinho.
At 7:31 PM, Anonymous said…
A propóstido de Filosofia tenho que lhe aconselhar o blogue da minha confrade - Jade.
At 8:49 PM, Paulo Cunha Porto said…
Já lá fui. Devo dizer que tenho gostado imenso dos comentários Dela ao Portuga, chegando mesmo ao atrevimento de interpelá-La, Caro Capitão-Mor.
Abraço.
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