O Culto e o Riso
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Podem todos os que mais ligeiramente tomem estas coisas rir da intenção alardeada pelos responsáveis da povoação bósnia de Bijeljna de erguer um monumento à couve. Talvez a maior parte deles ignore que se trata de vegetal que tem merecido muito mais atenção do que a que hoje lhe concedemos. Se é certo que mos habituámos a alarmes vários e intensos quando pensamos as virtualidades da manipulação genética na sua vertente bioquímica e industrial, tendemos a esquecer a outra, velha de séculos, que, através da contínua selecção de variantes morfológicas da planta e de diversos estados de maturação dela, nas opções de cultivo, vieram a orginar não só a mais vulgar do grupo, como as primas de Bruxelas, a couve-flor, a couve galega, os bróculos, a couve-rábano...
Mas a ostensiva ignorância que alardeamos da complexidade do que nos é servido, sem dificuldades, no prato, é afinal a de todos os que têm a vida material relativamente facilitada de chegar ao consumo sem passar pela luta quotidiana para fazer vingar a matéria-prima que o possibilitará. Para a pobre região balcânica aquele ser que crescerá e se desenvolverá, se tratado capazmente com o saber de séculos, é a própria condensação da Vida, enquanto que para uma superatestada sociedade ocidental não passará de uma vulgaridade indigna de mais atenção do que a da escolha de um item da ementa, indício seguro da subalternização de todos os mistérios vitais.
Hoje os meus sentimentos de simpatia vão para a Bósnia.
Podem todos os que mais ligeiramente tomem estas coisas rir da intenção alardeada pelos responsáveis da povoação bósnia de Bijeljna de erguer um monumento à couve. Talvez a maior parte deles ignore que se trata de vegetal que tem merecido muito mais atenção do que a que hoje lhe concedemos. Se é certo que mos habituámos a alarmes vários e intensos quando pensamos as virtualidades da manipulação genética na sua vertente bioquímica e industrial, tendemos a esquecer a outra, velha de séculos, que, através da contínua selecção de variantes morfológicas da planta e de diversos estados de maturação dela, nas opções de cultivo, vieram a orginar não só a mais vulgar do grupo, como as primas de Bruxelas, a couve-flor, a couve galega, os bróculos, a couve-rábano...
Mas a ostensiva ignorância que alardeamos da complexidade do que nos é servido, sem dificuldades, no prato, é afinal a de todos os que têm a vida material relativamente facilitada de chegar ao consumo sem passar pela luta quotidiana para fazer vingar a matéria-prima que o possibilitará. Para a pobre região balcânica aquele ser que crescerá e se desenvolverá, se tratado capazmente com o saber de séculos, é a própria condensação da Vida, enquanto que para uma superatestada sociedade ocidental não passará de uma vulgaridade indigna de mais atenção do que a da escolha de um item da ementa, indício seguro da subalternização de todos os mistérios vitais.
Hoje os meus sentimentos de simpatia vão para a Bósnia.
A imagem é «A Couve de Seda», de Judith Edge.
4 Comments:
At 6:47 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Espadachim:
Sério, sério, a couve tem que se lhe diga.
Mas reconheço que sob uma forma industrial frita e salgada essa rival é dominante.
Ab.
At 7:37 PM, Anonymous said…
Querido Paulo
Na agricultura vivi-se, pelo menos mais, mais puramente por se andar sempre com os olhos no céu à procura de sinais.
Os elementos tanto podem salvar como destruir uma produção, que são no mínimo 6 meses de trabalho.
Admiro a sua sensibilidade.
Beijinho
At 7:44 PM, Anonymous said…
Estão a variar o cardápio; antes não passavam da batatada...
At 8:35 PM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigado, Querida MFBA, Herculano talvez tenha procurado esses sinais quando o Mundo o desiludiu. Mas era Homem que escolhera. Nos Bósnios, para quem a acção sobre a terra e a retribuição dela se acha desde sempre entranhada é a própria realização da vida que leva ao Tributo.
O paladar está tão embotado como o humor e os humores respectivos. Mas alivia, não é?
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