A Morte Sem Pena
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A preocupação em não tratar os culpados dos crimes mais graves contra Outrem como tais, assim como de não os inocentes que nunca fizeram mal a quem quer que fosse de acordo com essa condição, encontra um ponto de engasgo quando se fala de droga. É compreensível, na edida em que partilha do mal-estar que sentimos perante formas de suicídio mais expeditas. O atentado contra si próprio expresso na lenta degradação causará tanto ou mais sofrimento psíquico a quem vê do que a quem se injecta, se descontarmos a ansiedade pela nova dose, bem capaz de activar desesperos nada ignoráveis. Mas a incomodidade que semeia do exterior assenta num fundamental dilema, que é o de encontrar uma justa medida de reacção, sem cair na cumplicidade com a fraqueza, nem ceder à chantagem do que mutila a sua capacidade, para ganhar atenção, por um lado; e de não ceder à hostilidade boçal a quem atentou contra si, mas não, directamente, contra o próximo, pelo outro. Por essas e por outras defendi que o consumo de drogas não devia ter sido descriminalizado, embora ligeiramente punido, por ser comportamento anti-social, se não perceptível nos comportamentos acessórios que usualmente acompanham, ao menos por uma culposa e pouco reversível
diminuição de si para escapar ao mínimo convivencial, paralela à amputação que um conscrito fizesse para não cumprir o dever militar, no tempo em que ele existia, generalizadamente, fora da situação da Guerra.
Por isso, quando se constata que as mortes associadas ao consumo de heróína aumentam, mas decresce a incidência das doenças infecto-contagiosas que foram a principal razão apontada para a criação das salas de chuto, tenho de me manifestar contra estas.
A preocupação em não tratar os culpados dos crimes mais graves contra Outrem como tais, assim como de não os inocentes que nunca fizeram mal a quem quer que fosse de acordo com essa condição, encontra um ponto de engasgo quando se fala de droga. É compreensível, na edida em que partilha do mal-estar que sentimos perante formas de suicídio mais expeditas. O atentado contra si próprio expresso na lenta degradação causará tanto ou mais sofrimento psíquico a quem vê do que a quem se injecta, se descontarmos a ansiedade pela nova dose, bem capaz de activar desesperos nada ignoráveis. Mas a incomodidade que semeia do exterior assenta num fundamental dilema, que é o de encontrar uma justa medida de reacção, sem cair na cumplicidade com a fraqueza, nem ceder à chantagem do que mutila a sua capacidade, para ganhar atenção, por um lado; e de não ceder à hostilidade boçal a quem atentou contra si, mas não, directamente, contra o próximo, pelo outro. Por essas e por outras defendi que o consumo de drogas não devia ter sido descriminalizado, embora ligeiramente punido, por ser comportamento anti-social, se não perceptível nos comportamentos acessórios que usualmente acompanham, ao menos por uma culposa e pouco reversível
diminuição de si para escapar ao mínimo convivencial, paralela à amputação que um conscrito fizesse para não cumprir o dever militar, no tempo em que ele existia, generalizadamente, fora da situação da Guerra.
Por isso, quando se constata que as mortes associadas ao consumo de heróína aumentam, mas decresce a incidência das doenças infecto-contagiosas que foram a principal razão apontada para a criação das salas de chuto, tenho de me manifestar contra estas.
A imagem é «Americana Viciada em Heroína», de Fred Burkhart.
4 Comments:
At 1:43 PM, Anonymous said…
Querido Paulo
A droga é uma questão que sempre me horrorizou.
Desfaz uma família. Os pais sentem-se sempre culpados podendo, eventualmente, não o ser. Os irmãos não desculpam os pais pelas cedências e as mães choraram sempre lágrimas amargas, façam o que fizerem. A experiência não é minha felizmente.
Deveria-se estudar os resultados de outros países e fazer conforme. Não vivemos sózinhos no mundo.
Beijinho
At 1:53 PM, JSM said…
Atenção que as conclusões do IDT e seus próceres não são para levar a sério. Trata-se de pura maquillage no intuito de defenderem a 'velha dama'! Exemplo: há mais mortes, mas a causa pode não ser a heroína.! Então o que será? Naturalmente overdose , misturas de tudo e mais alguma coisa - a metadona que lhes dão mais aquilo que conseguem arranjar. Goulão admite subdiagnóstico no que respeita aos números do HIV! Parece uma conversa de surdos! Do que nunca falam é das causas, dos problemas educativos, da ausência da família, pais separados, exemplos de egoísmo feroz, incapacidade de transmitir valores, etc. e neste etc, vai um mundo de sentimentos e de frustração inimaginável. Nesta altura há sempre alguém que lembra que este flagelo atinge também famílias estruturadas e que tentaram transmitir algo mais do que este estilo de vida animalesco. É verdade, mas são pequenas ilhotas fácilmente submersas pelo tsunami da selvajaria.
Um abraço.
At 5:44 PM, Anonymous said…
É um problema complicado. As salas de chuto são uma contradição. Construir salas para facilitar o uso de drogas proíbidas? Naturalmente será estabelecido um perímetro de livre circulação, ou não?
At 12:24 PM, Paulo Cunha Porto said…
Querida Marta:
O problema parece ser da contradição entre diversas Nações com a mesma experiência, o que permite conclusões ao gosto do freguês. O ponto que julgo mais importante reter é que se está a incrementar ummeio dito de combate ao problema das doenças infecciosas conexas, que parece estar em regressão, virando as costas aos que progridem. Claro que subscrevo tintim por tintim toda a tragédia famiiar que rodeia os viciados.
Meu Caro JSM:
Alerta muitíssimo bem para a miopia que só vê causas imediatas, como se não tivessem raízes em problemas mais latos e gozassem de autonomia. E essa passagem da ideia de que as "overdoses" e as confecções dos "cocktails" exceptuam da causa da heroína...
Caro Anónimo:
Uma zona franquíssima, tem toda a razão, hihihihi.
Beijinho e abraço.
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