A Frustração
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É raro lembrar D. Carlos I em momentos diferentes do do Regicídio. No dia em que se comemora a Sua subida ao Trono, em 1889, breve rememoração do muito que se esperava, então, estragado por um incidente internacional desencadeado pela diferença entre o sonho que a Classe Média de Lisboa e Porto tinha para o País e a dimensão real dele, bem como pela imperícia do governo da altura, que solicitou a passagem a escrito das pretensõees britânicas aos territórios africanos em disputa. A sequente normalização que empreendeu, com a grande ajuda de Soveral, estava condenada a ser vista como cedência ao inimigo. Com físico de estrangeiro, procurava tornar-se popular entre os políticos tratando-os por tu, o que não lhe trouxe qualquer fidelidade adicional e favoreceu a eliminação da distância conducente ao abuso. Querendo ser estimado pelos intelectuais, considerando-se um «Vencido da Vida suplente», pôs contra si o Povo, pois, como é sabido, são os literatos que gostam de adular este e não o contrário. Apostou enfim em João Franco, dando-lhe o expediente de governar por decreto à espera da aprovação definitiva das Câmaras seguintes, o que não era novo, mas sendo apresentado como tal, e como Escolha Real de um dissidente, veio a indispor também os preteridos senhores do Rotativismo. Prisioneiro da centralização liberal, presa fácil se tornou para a hedionda e difamadora propaganda republicana que desconhecia a palavra escrúpulo. O Rei mais dotado que Portugal teve, desde D. Dinis ou D. Duarte, mostrou-se incapaz de canalizar essas vantagens para o Cargo, tanto por insuficiências da possibilidade da acção como pelas maiores, dos elementos activos do País. Visto à distância, só o desgraçado crime Lhe garante alguma grandeza histórica, aquela que é infirmada pelos jogos de imprensa ao serviço de partidos.
7 Comments:
At 10:32 AM, Anonymous said…
No caso, o forte rei não fez forte a fraca gente.
Mas aproveito para relembrar algo que li há tempo atrás nas Combustões sobre o mérito da política externa de D. Carlos. A sublimar a desgraça do ultimato... Cumpts.
At 10:54 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Bic Laranja:
A diplomacia de D. Carlos foi importantíssima para o País. Infelizmente era vulnerável a ataques de má fé, que foram colhendo no sentimento anti-britânico.
Abraço.
At 2:56 PM, Anonymous said…
Querido Paulo
Nem sempre os mais dotados são os que melhor sabem conduzir a sua vida no dia a dia.
Conheço uma pessoa que considero,que é por todos considerado mo meio em que se move, das mais inteligentes; no entanto, não conseguiu tirar partido disso na sua vida.
Poder-se-à chamar inteligência teórica?
Beijinho
At 6:34 PM, Paulo Cunha Porto said…
É que as relações humanas pedem outras virtudes que não o mero intelecto, Querida MFBA.
Beijinho.
At 11:08 PM, Ricardo António Alves said…
Muito bom texto, muito bem lembrado. Abraço.
At 1:30 PM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigado Caríssimo. Tento sempre ver cada Homem com o seu Deve e o seu Haver.
Abraço.
At 7:01 PM, JSM said…
Um raio de luz sobre a personalidade do Rei...face às circunstâncias. É realmente difícil imaginar que Rei poderia ter vivido a sua vida com mais sucesso! Como teria sido possível ultrapassar tais bloqueios, aquela herança..."males que de longe vêm"!
Provávelmente terá pensado muitas vezes na guerra civil que levou o seu ramo ao trono...Nos ventos da história...
Mesmo hoje seria difícil refazer a história com outro desenlace. O enredo está sempre para lá das nossas possibilidades, podemos apenas entrar ou saír de cabeça erguida. E mesmo assim cativaremos muitas inimizades.
Os republicanos é que pensam que é fácil ser Rei!
Um abraço.
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