O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Sunday, September 03, 2006

Princípios de Cegueira

Num Três de Setembro, o de 1907, celebrava-se, de facto, entre Reino Unido, França e Rússia a Triple Entente, aliança que, na prática, significava a consagração da probabilidade da Guerra, sendo a aparente direcção britânica, que unificava num os acordos separados que celebrara com cada um dos outros, uma miragem, face ao élan vital do revanchismo francês, que latejava desde a Franco-Prussiana.
Desde as guerras napoleónicas que a Europa não conhecia o conflito generalizado, pelo que, intimamente, já dele duvidava. Metternich tinha-o evitado, com a Santa Aliança, integrante do Vencido da véspera. Mas o sistema que tão bem funcionou no plano externo não soube impedir as revoluções de 1848 nos diversos países. Passou-se pois para uma garantia da Paz não já por um grande sistema de segurança colectivo, mas pela política das alianças e soma de poderes, o que deu mais umas décadas sem incêndio generalizado. Foi a opção de Bismarck, com a Liga dos Três Imperadores, o Alemão, o Austro-Húngaro e o Russo, criando uma força de contenção pelo desproporcionado poder que exibia. Agora, com a passagem da Rússia para o lado francês, estavam excitadas as aspirações deste; e os temores de Berlim da "guerra em duas frentes" não eram dissuasão que se visse. Mais sete anitos e tudo se precipitou.

4 Comments:

  • At 2:53 PM, Anonymous Anonymous said…

    Notavelmente, este blogue permite debates altamente improváveis noutras esferas, e por isso o continuarei a visitar, mesmo se - ou antes: porque - geralmente estou em desacordo.

    "Mas o sistema que tão bem funcionou no plano externo não soube impedir as revoluções de 1848 nos diversos países."
    Parte do princípio que foi o "triunfo" das revoluções que extinguiu a Santa Aliança? As revoluções foram sufocadas, com excepção da França, e a Santa Aliança extinguiu-se quando a Áustria não apoiou a Rússia a propósito da Crimeia.

    "Agora, com a passagem da Rússia para o lado francês"

    E a que se deve essa passagem? Alguma facção francófila em S.Petersburgo, ou ao comportamento irresponsável do Kaiser?

     
  • At 3:06 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro Miguel:
    Como sabe, era a França que mais importava, mas, para lá dos Países menores, está a esquecer que foi a Revolução de 1848 que ditou a queda de Metternich. Sem ele e sem a França nunca mais o sistema de intervenção conjunta voltou a ter possibilidades de intervenção capaz, como tivera, antes, em Espanha.
    Não pense que sou adepto da ágitada actuação política de Guilherme II, o primeiro destrutor da Liga dos Três Imperadores e o homem que se afastou das linhas orientadoras o Chanceler de Ferro, sem encontrar sucessores e sucessoras à altura. Mas é mais do que a mera leviandade de um homem, é a cedência ao intelectualismo dominante, com as tendências pangermanistas actualizadas e expandidas, que levaram a melhor. Não sei onde viu escritas francofilias. mas aqui não foi, o que não quer dizer que também não tenham desempenhado um (pequeno) papel.

     
  • At 5:06 PM, Anonymous Anonymous said…

    Estava só a fazer um pouco de ironia. E, mais uma vez, o comentário complementa eficazmente o sentido do post.

    Metternich merece todo o meu respeito por ter tentado, tal como Wilson, e efectivamente conseguido, impôr a paz através da vigilância de uma comunidade da valores - embora, claro, opostos aos de Wilson.

    De resto, Kissinger, "nunca a guerra foi abordada de tão forma tão estúpida e tecnocrática."

     
  • At 8:03 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro Miguel:
    Kissinger, aliás, tem um livro sobre as diplomacias instituidoras da contemporaneidade traduzido em português, «A RESTAURAÇÃO DE UM MUNDO».
    Abraço.

     

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