A Pequenez do Ecrã
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Leitura desta interessante análise de Giovanni Sartori, em que se defende que o desproporcionado triunfo da televisão sobre a leitura contribui para um retrocesso do Homem, definido como «Animal Simbólico» a um estádio em que se mostra incapaz da dose de abstracção essencial ao pensamento, ficando refém da imagem, manipulada ou não, que lhe é posta à frente. A tese tem muito de acertado, a meu ver. Mas enferma da fraqueza de parecer para este efeito considerar os homens como iguais, ou aproximados. Ora, a estagnação daqueles que se contentam com o visionamento das imagens e da solidariedade grupal reduzida à companhia, sem debate, dos outros que também as viram é precisamente a dos maioritários antecessores que não liam livros, ou jornais. Assim, a hierarquização produzir-se-á sempre, separando os que se servem da peça exibida no televisor como estímulo para um processo mental aprofundador e os que se dão por satisfeitos. São poucos os primeiros? Pouquíssimos! Mas duvido que a maioria supere em muito os que antes optavam por um passeio ou uma soneca. E quanto ao hipertexto, se é válida a crítica que faz acerca da obstrução à concentração na coerência discursiva do escrito, também pode potenciar o entendimento das inserções dele, tudo dependendo das referências e aptidão de relacionar que sejam ministradas em tenra idade. O segredo está, julgo, em não ser o pequeno ecrã o primeiro "contacto cultural", sim um acrescento. O que também se passará com o uso da Internet, igualmente abordado, em que importará injectar uns rudimentos metodológicos e acicates de curiosidade que tornem o seu uso sadável.
Acompanha-se totalmente a crítica que se faz às sondagens, quer pela armadilha que muitas vezes é a pergunta, quer pela incompetência que sobre o assunto específico tenha um inquirido desconhecedor, que constituirá a maioria. Mas este argumento de deficiente informação pode ser estendido para proscrever o voto. E o Autor não vai até essa última e lógica consequência. Assim como quando critica Rousseau, por ter opinado que entre os dois actos eleitorais o votante «é sempre escravo», opondo que as sondagens, subitamente tomadas de virtude, fazem com que o governante vá ao encontro das aspirações dos governados. Isso será mais verdade nos sistemas à americana, em que a Pessoa ultrapassa o partido na razão do voto, pois este cria amarras de pertenças difíceis de ultrapassar. E aplicar-se-á mais aos políticos tímidos, pois os mais arrojados, donde costumam sair os Leaders sufragados, têm facilidade em contrabalançar o receio da desaprovação com uma confiança inabalável na sua capacidade de convencer o público da conveniência das suas acções.
Sartori é um elitista, no que tem toda a razão. Mas pára antes de deixar de ser um democrata, no que a perde.
Leitura desta interessante análise de Giovanni Sartori, em que se defende que o desproporcionado triunfo da televisão sobre a leitura contribui para um retrocesso do Homem, definido como «Animal Simbólico» a um estádio em que se mostra incapaz da dose de abstracção essencial ao pensamento, ficando refém da imagem, manipulada ou não, que lhe é posta à frente. A tese tem muito de acertado, a meu ver. Mas enferma da fraqueza de parecer para este efeito considerar os homens como iguais, ou aproximados. Ora, a estagnação daqueles que se contentam com o visionamento das imagens e da solidariedade grupal reduzida à companhia, sem debate, dos outros que também as viram é precisamente a dos maioritários antecessores que não liam livros, ou jornais. Assim, a hierarquização produzir-se-á sempre, separando os que se servem da peça exibida no televisor como estímulo para um processo mental aprofundador e os que se dão por satisfeitos. São poucos os primeiros? Pouquíssimos! Mas duvido que a maioria supere em muito os que antes optavam por um passeio ou uma soneca. E quanto ao hipertexto, se é válida a crítica que faz acerca da obstrução à concentração na coerência discursiva do escrito, também pode potenciar o entendimento das inserções dele, tudo dependendo das referências e aptidão de relacionar que sejam ministradas em tenra idade. O segredo está, julgo, em não ser o pequeno ecrã o primeiro "contacto cultural", sim um acrescento. O que também se passará com o uso da Internet, igualmente abordado, em que importará injectar uns rudimentos metodológicos e acicates de curiosidade que tornem o seu uso sadável.
Acompanha-se totalmente a crítica que se faz às sondagens, quer pela armadilha que muitas vezes é a pergunta, quer pela incompetência que sobre o assunto específico tenha um inquirido desconhecedor, que constituirá a maioria. Mas este argumento de deficiente informação pode ser estendido para proscrever o voto. E o Autor não vai até essa última e lógica consequência. Assim como quando critica Rousseau, por ter opinado que entre os dois actos eleitorais o votante «é sempre escravo», opondo que as sondagens, subitamente tomadas de virtude, fazem com que o governante vá ao encontro das aspirações dos governados. Isso será mais verdade nos sistemas à americana, em que a Pessoa ultrapassa o partido na razão do voto, pois este cria amarras de pertenças difíceis de ultrapassar. E aplicar-se-á mais aos políticos tímidos, pois os mais arrojados, donde costumam sair os Leaders sufragados, têm facilidade em contrabalançar o receio da desaprovação com uma confiança inabalável na sua capacidade de convencer o público da conveniência das suas acções.
Sartori é um elitista, no que tem toda a razão. Mas pára antes de deixar de ser um democrata, no que a perde.
1 Comments:
At 9:14 AM, Paulo Cunha Porto said…
Por isso, Visconde Amigo, importa que um polotólogo de primeira linha como Sartori se debruce sobre eles. Eu creio que o problema que ele foca é grave, se "apanhar" a extrema juventude, ainda indefesa. Não creio que mude substancialmente as capacidades e inclinações de adultos feitos, apesar da sagacidade na identificação dos mecanismos psíquicos.
Abraço.
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