Leitura e Carácter

Com perigo para a própria reputação de convivência aceitável, sempre que visito alguém pela primeira vez não consigo deixar de percorrer com a vista as prateleiras onde tenha os livros, para aprofundar o meu conhecimento sobre o anfitrião. E tanto escrutino sob a hipótese de estar realmente a lê-los, como tendo em conta o projecto que alimenta de o fazer, já que uma e outra dessas indicações são preciosas para formar um juízo.

Bem sei, entretanto, que as prioridades de leitura de hoje raramente deixam espaço aos Clássicos, mas é esse facto que permite avaliar alguém pelas opções que faz, pois na Antiguidade todos liam o mesmo grupo de Autores, muito mais reduzido, o que eliminaria a possibilidade desta apreciação prévia.

Era assim que Noel Coward fazia seu o «Diz-me o que lês, dir-te-ei quem és». Ao que Madeleine Ozeray retorquiu: «eu leio Shakespeare, Dante, Plínio, Nietzsche, Espinosa. Diga lá, quem sou?

Resposta do interpelado: «Uma mentirosa».

Mas poderia ter tirado alguma conclusão do desejo de ler estes cinco eleitos, que ela expressara...