O Mundo na Mão

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No dia em 20 de Agosto de 1694 a Academia Francesa dedicou a Luís XIV com o Dicionário que esse conjunto de Beaux Esprits se tinha entretido a elaborar. Que seria de nós sem o instrumento, cuja configuração moderna teve neste momento pioneiro a sua instituição? Não resisto, todavia, para evidenciar os espinhos de cada rosa, a recordar-Vos a pequena anedota que encontrei em «INDIVIDUALIDADES», de Henrique das Neves, 1910.
Encontrava-se o Autor em casa do grande erudito e enciclopedista Pinho Leal, quando ele se gabava do pequeno museu "Pré-Histórico" que possuía e das peças antiquíssimas que lá figuravam. O interlocutor, então, disse-lhe que trazia, justamente, no bolso um fóssil com que pretendia presentear um amigo, mas que, se lhe agradasse, o anfitrião poderia ficar com ele. Imediatamente Leal começou a salivar, dizendo que, provavelmente, se trataria de um machado de pedra neolítico, conhecido pelo Povo como pedra de raio e pedindo que o convidado o exibisse. Assim fez este, revelando-se, nada mais, nada menos, do que uma vulgaríssima batata.
O sábio amuou e mandou o presenteador «para o Diabo». Ao que o daimoso conviva, vivamente, garantiu estar inteiramente dentro da razão. Como prova, foi à estante e retirou o famoso «DICIONÁRIO ROQUETE DE LÍNGUA PORTUGUESA», pedindo que o Mestre lesse certo verbete, o qual rezava assim:
«Fossil, adj. e s. m.: tudo o que se tira da terra, cavando-a.»
Ao que o Dono da casa, em acto contínuo, atirou o volume janela fora, perante as gargalhadas de Júlio Machado.
Lição que bem podemos ter presente, meditando em como, por vezes, a preocupação de corrigir enganos pode levar a outros, maiores. E daí partirmos para a humildade que falece ao sentirmo-nos senhores de uma certa dose de saber.