A Qualidade do Espectador

Este artigo de Vasco Graça Moura merece muita atenção, mas, sendo inegáveis as duas situações contemporâneas que aponta, a da degradação do esforço de aprendizagem e a do entusiasmo pela Selecção de Futebol, não se concede razão na ligação entre ambas. Os gregos antigos também se manifestavam nos estádios pelos seus atletas e ninguém põe em dúvida a sua capacidade, ou persistência, no aperfeiçoamento intelectual e moral. Além de que a situação de um espectador que sinceramente presta tributo consegue reunir a capacidade de admirar outro, o que é importantíssimo num País historicamente apostado em denegrir os seus, sejam os vizinhos, ou os Maiores. E combate o individualismo numa segunda frente, que é a da identificação com uma Comunidade, a mais acessível possibilidade de esbater o egoísmo, porque assente numa mesma mecânica reactiva, apenas alargando o amor do indivíduo para o da Nação.

Mas VGM tem muita razão acerca do carácter nocivo da falta de exigência escolar. Não é de hoje. Tudo começou com a revolução pós-Abrilina dos programas, em que se optou por pedir aos alunos uma compreensão enquadrada, fraudulenta porque não considerada como tal quando a reflexão pessoal conduzisse a outro caminho, em vez da comprovação de conhecimentos armazenados pelo esforço. E prosseguiu com as sucessivas aproximações forçadas das notas, transformando a escala de 1 a 20 em 1 a 5, culminando na eliminação de avaliações com consequências nos anos inferiores.

São muito raros aqueles que tentam melhorar-se, ou ao menos cumprir, sem as motivações da obtenção da recompensa, ainda que seja a do reconhecimento, ou da ameaça do castigo. Quando a Escola - e atrás dela a Sociedade - prega uma indiferenciação, a qual facilmente descamba em indiferentismo, perante o mérito maior ou menor, quando não uma surda hostilidade à ideia elitista da Excelência, os membros dela, fatalmente, preferirão a via que menos custe. Primeiro, no campo do intelecto. A breve trecho no próprio âmbito da honestidade.