Necrofilia Compensadora
A Mão Amiga do Carlos Portugal, a quem agradeço, fez-me chegar ao conhecimento a notícia da lebre levantada pelo Deputado Pignatélli Queiroz, segundo a qual o túmulo do nosso Primeiro Rei já teria sido, de facto, aberto, sem respeito pela decisão superior. A notícia foi negada, mas, na hipótese de corresponder à verdade, concretizaria uma escalada no atentado à paz pública portuguesa, na medida em que deixaria de ser uma intenção fora da sensatez, para passar a ser um acto fora da lei. Além do que, nessa hipótese, cresceria avassaladoramente o risco de as ossadas devolvidas não corresponderem à titularidade creditada. Ele já existe assim, mas o aumento de probabilidades seria exponencial.
Por outro lado, chegou ao conhecimento público ser a operação macabra contemplada com os patrocínios de um conhecido banco, uma importante empresa de construção e a Fundação Luso-Americana. Por muito úteis que sejam os patrocínios numa investigação histórica, deveria haver pudor em aceitar sponsors privados e apoios estrangeiros numa operação controversa e cujos benefícios para o conhecimento histórico ainda não foram capazmente dilucidados. Se os organismos particulares interessados estão tão obcecados com a publicidade à conta do Conquistador, mais valia fazer a estátua de D. Afonso Henriques envergar uma t-shirt com o respectivo logotipo...
8 Comments:
At 10:58 AM, Anonymous said…
Caro Misantropo, uma historia muito mal contado essa do tumulo do nosso Primeiro. Ele há certos indivíduos, para não dizer instituições, que deveriam era estar enjaulados e amordaçados.
Reparo agora (!) que nascemos no mesmo ano da Serpente.
Legionário
At 11:23 AM, Paulo Cunha Porto said…
Uma colheita "Vintage", é o que se pode concluir, Caro Legionário.
Não é? Aquela conversa da argamassa tresanda a podridão. E não deve ser dos restos mortais, que a carne já há muito não deve dar para tanto!
Eu cedia a jaula para o efeito, mas, pela segunda razão, não lhes podia deixar o computador, hihihihihi!
Grande abraço.
At 3:36 PM, JSM said…
O que é que eles querem do Fundador se nem respeitam a sua memória, se nem empunham a sua insígnia de Cruzado, se não conseguiram manter-se fiéis ás cores da sua Devoção! Querem os ossos para quê? Para ganhar dinheiro? Para descobrirem alguma relação secreta com o 'Priorado do Sião'! Se querem fazer um filme, retratem-se e exibam-se, o título, já existe: o triunfo dos porcos.
Um abraço Caríssimo Misantropo.
At 5:10 PM, Anonymous said…
Não acredito que essa história seja verdade...e isto porque conheço as pessoas
envolvidas, nomeadamente a Prof. eugénia Cunha, que sei que é de uma honestidade intelectual e científica total...
Quanto à "operação", em si, fiquei com a ideia de que ia aproveitar-se o facto de se ter de mexer no túmulo, por questões de restauro, para colher esses dados. Não vejo mal intrínseco nisso, a não ser no facto de determinados mitos poderem vir a ser desmontados pela ciência...ou não!
E o argumento da "sacralização" também não cola, já que o túmulo foi aberto várias vezes ao longo da história, com objectivos bem menos "nobres" do que este...
O que esta história acabou por mostrar é que:
1. A tão apregoada "descentralização" não passa de propaganda
2. A competência de muitos altos (e baixos) funcionários do Estado deixa muito a desejar...
3. E/ou muitas delegações regionais de serviços/ministérios são completamente inúteis e só servem para gastar o dinheiro dos contribuintes e para arranjar "tachos" para algumas pessoas...
Abraços
T
At 6:29 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro JSM:
Partilho todas as Suas dúvidas quanto à valia das revelações que o túmulo pudesse dar e quanto à consistência dos objectivos, para além dos promocionais.
Uma coincidência e significativa, a do significado na União num ideal.
Lá irei ver.
Meu Caro TSantos:
Ora viva, isto é uma ressurreição.
Não ponho em dúvida a honestidade pessoal da Senhora, mas ponho completamente o interesse científico da abertura. Que abram a tumba de um fgaraó egípcio, é perfeitamente natural, dado o mundo de objectos e obras de arte que lá colocavam para o servir para além da morte,
Aqui nada disso há. Cinge-se a justificação a «determinar o perfil biológico do Rei». Que interesse tem tal determinação, Senhores? E mitos, que mitos? O único que vi referido foi o de Ele poder empunhar ou não uma espada grande. Sempre gostava que me dissessem qual a relação entre os centímetros e o peso de uma espada. Ninguém consegue dizê-lo, porque depende, em grande parte da presença muscular, que não pode ser determinada através da reconstituição biológica, por ser necessário ter em conta o factor exercício.
E não creio que as aberturas para demandar inspirações e canonizações sejam motivos menos npbres do que a cientificidade estéril.
Abraços.
At 3:29 PM, Anonymous said…
Caríssimo
Não vejo diferença entre abrir um túmulo do faraó ou o do D. Afonso Henriques...Até pq este, supostamente, tb devia ter contido objectos e obras de arte que teriam interesse para estudo/exposição, só que isso já desapareceu há séculos...
Ao contrário do que é moda pensar-se, actualmente, não acho que a ciência deva ter necessariamente uma aplicação prática. A ciência existe para nos proporcionar o conhecimento, é essa a sua função principal. A "aplicabilidade" é acessória...
Neste contexto, acho interessante poder fazer-se o "perfil biológico" do rei, é um contributo para esclarecer a história, não apenas dele, mas da época em que viveu. E não te iludas: a partir do estudo do esqueleto, pode-se tirar muita informação, desde a dieta, às patologias e à constituição física (sim, a massa muscular pode ser inferida a partir da observação dos pontos de inserção dos músculos nos ossos...).
Já quanto ao pedido de abertura do túmulo, tb concordo que não se deve andar a abrir túmulos ao deus-dará, sem um motivo muito forte. Neste caso, porém, iam-se fazer obras que implicariam mexer no túmulo. Porque não aproveitar para colher esses dados?
De qq modo, como disse, o assunto, em si é um fait-divers. O grave, para mim, é o que está a montante e a jusante: o modo como a nossa adminsitração pública (ainda) funciona...
E tenho dito!
Abraços
T
At 8:57 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro TSantos:
não sei que tipo de objectos contavas encontrar lá, mas o problema não se põe porque, como reconheces, já lá não estão.
Informações sobre a dieta? E sobre as patologias? Mas se a alimentação das Cortes do Século XII não oferece mistério e se encontra estudada abundantemente! E se há documentação quanto à célebre fractura, não existindo razões para se suspeitar de muito mais...
Inserções? Das origens, suponho que quererás dizer, que as inserções são os pontos mais afastados dos ossos. Mas, como sabes, a menos que haja embalsamamentos, fossilizações, ou outras conservações extraordinárias, os traços delas nos ossos humanos tendem a apagar-se após 150/170 anos. Além de que apenas seriam relevantes para a determinação da massa muscular de partida, não da ampliação dela por sobrecargas.
E mexer não significa abrir, infelizmente para muita gente. Como não vejo que uma qualquer benfeitoria legitime remexer no que Foi um Homem e um Rei.
Já, quanto às reservas administrativas, nada a opor.
Abraço.
At 6:20 PM, Anonymous said…
Independentemente de todas as considerações que teces a propósito das fontes escritas, há sempre o problema de se saber quão fiáveis elas são...Além disso, não seria interessante ver essas fontes confirmadas por fontes externas, mais...digamos, "objectivas"?
"E mexer não significa abrir, infelizmente para muita gente. Como não vejo que uma qualquer benfeitoria legitime remexer no que Foi um Homem e um Rei."
Claro que há mexer e mexer. Sei, por experiência própria, os cuidados (e o respeito) que se têm ao mexer em ossadas humanas...independentemente de terem pertencido a reis ou plebeus, que nestas coisas são todos iguais...
Posto isto, continuo a achar que seria uma boa oportunidade de se saber algo mais sobre o Homem que foi o nosso primeiro Rei...
Abrços
T
Post a Comment
<< Home