Inversão dos Papéis
Como retrato do País também não é nada isolada a atitude dos pescadores de Matosinhos que acusaram a Armada de os perseguir. Informado de recentes irregularidades nas forças policiais, o zeloso misantropo correu a ver o que se passava. Afinal a «perseguição» consistiu na vigilância e detecção de ilegalidades confessadas pelos queixosos, quanto às condições das redes, sobretudo. Mas a desfaçatez foi ao ponto de bloquearem as entradas e saídas da Docapesca de Matosinhos, como protesto contra a fiscalização. E a dizer que as ilegalidades que cometem se justificam pelo aumento dos preços dos combustíveis e por o Governo não os apoiar nessa contingência. Já se sabe que é a eterna sobreposição do interesse pessoal ao público que justifica todas as infracções próprias e reserva o papel de maus às autoridades. Mas é mais: não pensando na delapidação de recursos que provocam, é também navegar no ganho imediato sem que para o Futuro se reserve mais do que um «depois se verá». Jesus mandou que se não pensasse no dia de amanhã, mas fê-lo na perspectiva da disponibilidade para o Bem, não para a trapaça. É atitude muito nossa diabolizar quem nos prejudica a vidinha, mesmo que ela seja pouco limpa.
6 Comments:
At 1:04 PM, Anonymous said…
Tenho para mim, que se a amostra de Estado português fiscalizasse o cumprimento da Lei, e aplicasse as devidas coimas a quem não a cumpre, arrecadaria o suficiente para baixar o IRS em 5% por cidadão.
At 7:20 PM, Paulo Cunha Porto said…
Mas talvez por isso mesmo, Caro Anónimo, quando mostra uns vestígios de eficiência em fazer cumprir a lei dão-no como... «perseguidor». Assim não vamos lá.
At 8:52 PM, Anonymous said…
Cada indivíduo é um semi-deus cheio de direitos. Ensina-se isso nas escolas.
At 9:03 PM, Paulo Cunha Porto said…
Hihihihi, Caro Bic Laranja. Mas o assunto é seríssimo e tem toda a razão, é por esse específico orgulho que começa a nova queda.
At 9:56 PM, Anonymous said…
Uma situação bem retratada, caro Paulo. Sendo imperiosa a preservação dos recursos piscícolas, no caso, a prática da redução da malha, que tem levado quase à sua exaustão, tem que ser parada. Se não os pescadores, os sindicatos têm obrigação de ter à sua frente gente que esteja preparada para perceber isto, por forma a que seja possível um diálogo civilizado entre as partes: os pescadores e o governo como representante e zelador da coisa pública, por forma a que daí resultem medidas, se não para a sua recuperação, o que seria desejável, ao menos para preservar o pouco que resta. Haverá bom-senso e força política para isso? É que é triste ver a autoridade, passo a passo, a cair à rua, neste como noutros casos. A democracia, por estes lados, tarda.
Zé
At 9:56 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Zé:
Esse depauperamento atingiu proporçoes preocupantes, apesar de, segundo julgo saber, não ser dos mais difíceis de repor, desde que se cumpram as abstenções piscatórias preconizadas. Que é o que esta gente não quer fazer, pondo em risco o Futuro de todos, inclusivamente o próprio. E a situação da falta de força e vontade das autoridades é tal que, quando elas querem, de facto, cumprir a função que lhes compete, é isto: insultos, vitimização às mãos delas, sabe-se lá que mais...
Abraço.
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