Misantropo, Malgré Lui
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De cada vez que - como no dia de hoje - a escassa atracção dos acontecimentos, a multiplicação das solicitações e as dificuldades técnicas do blogger se coligam para atacar a verve bloguística deste mísero redactor, sinto-me irmanado a esse extraordinário escritor que foi Paul Léautaud, na medida em que sobrevivia apavorado pela mais paralisante perspectiva, a da falta de inspiração. Grande conhecedor do mundo editorial e da imprensa do «MERCVRE DE FRANCE» e de Gourmont, defendia que o grande mal dos «negócios públicos, actualmente, vem da liberdade de imprensa Devia-se suprimir toda a imprensa de Esquerda e, quanto ao resto, nada deixar publicar, mesmo a literatura, e sobretudo a literatura, sem um rigoroso visto prévio». E era assim em tudo. Vivia com quarenta gatos e quinze cães, maltrapilho e com higiene quase inexistente, repleto de achaques, mas sem dispensar a amásia do dia, que várias se foram sucedendo, apesar da misoginia. E, no entanto, da sua pena saiu do mais puro francês do Século XX. Mais do que a obra ficcional, por estes olhos pouco conhecida, os seus diários, na imensidão do «JOURNAL LITTÉRAIRE», exerceram sobre mim poderosa influência, tendo havido tempos em que ia tardes a fio para a biblioteca do Franco-Portugais lê-los. Este homem que se confinava à retirada e ascética prisão do seu labor era, contudo, o que decretava que o Homem deve viver entre os outros Homens e não isolar-se. As eternas chamadas de atenção com fundo moral encontravam contraponto na sentença lapidar a que sempre se manteve fiel: «As qualidades morais são património universal, são os vícios que formam a personalidade». Um velho precoce, bem cedo falto do amor dos Pais, que não elencava a pobreza entre a legião viciosa. Afinal, dizia, os vícios são, por definição, divertidos...
De cada vez que - como no dia de hoje - a escassa atracção dos acontecimentos, a multiplicação das solicitações e as dificuldades técnicas do blogger se coligam para atacar a verve bloguística deste mísero redactor, sinto-me irmanado a esse extraordinário escritor que foi Paul Léautaud, na medida em que sobrevivia apavorado pela mais paralisante perspectiva, a da falta de inspiração. Grande conhecedor do mundo editorial e da imprensa do «MERCVRE DE FRANCE» e de Gourmont, defendia que o grande mal dos «negócios públicos, actualmente, vem da liberdade de imprensa Devia-se suprimir toda a imprensa de Esquerda e, quanto ao resto, nada deixar publicar, mesmo a literatura, e sobretudo a literatura, sem um rigoroso visto prévio». E era assim em tudo. Vivia com quarenta gatos e quinze cães, maltrapilho e com higiene quase inexistente, repleto de achaques, mas sem dispensar a amásia do dia, que várias se foram sucedendo, apesar da misoginia. E, no entanto, da sua pena saiu do mais puro francês do Século XX. Mais do que a obra ficcional, por estes olhos pouco conhecida, os seus diários, na imensidão do «JOURNAL LITTÉRAIRE», exerceram sobre mim poderosa influência, tendo havido tempos em que ia tardes a fio para a biblioteca do Franco-Portugais lê-los. Este homem que se confinava à retirada e ascética prisão do seu labor era, contudo, o que decretava que o Homem deve viver entre os outros Homens e não isolar-se. As eternas chamadas de atenção com fundo moral encontravam contraponto na sentença lapidar a que sempre se manteve fiel: «As qualidades morais são património universal, são os vícios que formam a personalidade». Um velho precoce, bem cedo falto do amor dos Pais, que não elencava a pobreza entre a legião viciosa. Afinal, dizia, os vícios são, por definição, divertidos...
4 Comments:
At 6:56 AM, Anonymous said…
Magnífico "post", de mestre. E revelador.
At 9:15 AM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigado.
At 10:43 AM, Anonymous said…
Oui oui oui, très bien écrit, vraiment, M. Misanthrope.
Je crois deviner que, peut-être, la récente privation d'eau que vous et vos chats avez éprouvé chez Vous ne fut totalement dépourvue de (secret) plaisir... sous le signe de Léautaud.
L'Homme au Masque de Fer
At 10:53 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Máscara de Ferro:
Pois, mas por cá foi uma "leautidização" forçada, hihihihi. Quanto aos Bichanos, encontraram meio de se lavar muito mais auto-suficiente do que o dos donos. Quer os do Paul, quer os do Paulo.
Abraço.
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