Bigger Brotherhood
O Sonho de todos os poderes está para acontecer no País que lhe pareceria território mais avesso: é em Inglaterra que se está prestes a transformar uma população inteira numa rede de informadores. Na localidade de Shoreditch, ainda na esfera londrina, os habitantes começam a receber imagens do bairro no televisor, fornecidas por circuito fechado. A intenção é levá-los a ligar para a polícia logo que descubram qualquer coisa suspeita. Para além de isto prometer resultar numa cascata de falsos alarmes, é evidente que será usado para a bisbilhotice, pura e simplesmente para espiolhar a vida do vizinho. Não é por acaso que a ideia partiu dos moradores do bairro. A avidez de espreitar os outros ameaça criar uma sociedade policiesca, na Pátria do Homem que alertou contra a utopia negativa do Big Brother. Começou-se por desinfectá-lo de conteúdos negativos em programas de televisão. Subido esse degrau, em que, contudo, só eram filmados voluntários, estende´se agora, universalmente, naquela comunidade, o conceito. As nossas fragilidades, pobres ocidentais no dealbar do Século XXI, atiraram-nos, direitinhos, para as garras da Irmandade Maior. Que é muito mais opressiva, a prazo, que o «Grande Irmão». E que vai fazer tudo menos diminuir as horas passadas em frente à televisão...
10 Comments:
At 11:07 AM, L. Rodrigues said…
É muito curioso que isto ganhe tais contornos precisamente em Inglaterra, o berço das liberdades individuais...
Eles que provavelmente há uns anos não aceitavam a Via Verde por ser uma intolerável intromissão na privacidade dos cidadãos.
At 11:10 AM, Anonymous said…
Pode incluir-se publicidade nesta programação? Pode ser uma mina...
(Já nada disto leva emenda.) Cumpts.
At 11:14 AM, Flávio Santos said…
Essa evolução deve ser quase a 100% creditada ao sinistro Blair, que conseguiu tornar a Inglaterra num país como os outros, com a cartilha politicamente correcto martelada a todos os níveis da sociedade (incluindo funcionários públicos, corpos de polícia, onde reina um clima de medo por receio de qualquer desvio, mesmo que de linguagem, supostamente racista) e as tentações totalitárias características do mundo dito livre levadas a cabo naquele país.
Vai-se embora daqui a um ano mas deixa uma pesada herança.
At 11:18 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro L. Rodrigues:
Foi precisamente isso que me fez espécie. Como é que elementos de um povo tão cioso dos seus direitos, privacidade incluída, como respeitador das particularidades alheias, caíram nesta?
Meu Caro Bic Laranja:
Ui! Os preços disparariam! Já viu se isto pega por cá? As "cuscas" substituindo a janela clássica por esta e as revelações de porta de entrada por "e-mails"? Deve ser a isto que chamam o Progresso.
Abraços a Ambos.
At 11:22 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro FSAantos:
Não creio que sinistro seja a qualificação exacta para o simpaticão Tony, mas reconheço que lhe cabe responsabilidade grande nesta matéria, até por projectos rejeitados nos comuns com o auxílio de elementos da sua própria maioria, que já debatemos.
Não deixa de ser curioso: Um Blair (Eric-Orwell) alertou para o perigo. Outro, Tony, facilitou a sua institucionalização.
At 11:40 AM, Francisco Múrias said…
Vivemos nela e muita gente ainda não deu por isso
A institucionalização legalização e obrigação do bufo
At 12:51 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Francisco:
e o que mais dói é a generalização dessa postura indigna. Sempre os houve, mas antigamente escondiam-se.
At 2:14 PM, Francisco Múrias said…
Agora não só não se escondem como é obrigatório por lei
Ver por exemplo o «Código de Boas Praticas de higiene e Segurança Alimentar» publicado pela ARESP
At 7:15 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Francisco:
No nosso tempo, a coisa pública ainda reconhecia a decência como mais exigente do que a legalidade. Agora, tudo se inverteu...
Caro Sapka:
se me conhece sabe que nunca habitei ou habitarei em condomínios, fechados, ou não. E que em matéria de riqueza estou tão longe de Pluto como a Terra de Plutão. O resto... nada. A sua descrição aplica-se talvez a bairros problemáticos da Amadora, não àquela zona inglesa, tive o cuidado de verificar. Mas que se aplicasse! Só há duas maneiras de combater a criminalidade - aumentando a capacidade das polícias e fazendo crescer a dureza das punições. Sou frontalmente contra qualquer democratização das actividades relativas à justiça ou à segurança, sejam milícias partidárias, comissariados do povo vermelhos, comitês de "Salut Publique" azuis, grupos de linchamento, piquetes de vigilantes ou nomeação de jurados. a ORDEM PÚBLICA E A REPRESSÃO DOS QUE CONTRA ELA ATENTAM TEM DE SER EXCLUSIVO DE CORPOS COM HIERARQUIA RÍGIDA E DISCIPLINA FÉRREA. E neste caso pior, que nem a assunção do acto se procura, mas sim a delação permanente, própria de vermes; e a observação da vizinhança levada ao extremo que torna o ar irrespirável.
Abraços a Ambos.
At 3:44 PM, Paulo Cunha Porto said…
Leia-se "salut public". A pecha de ver a Salvação sempre no Feminino...
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