Altos e Baixos de um Termo

"GÓTICO" é palavra que dá para muita coisa. E que tem vogas e eclipses tão acentuados como as diferentes concepções que designa. Outrora foi estilo arquitectónico em que a grandeza das naves e das ogivas era vista como meio de aproximar de Deus. Na Inglaterra dos princípios de oitocentos, ao contrário, etiquetou um tipo de romance, passado em atmosferas lúgubres de abadias ou castelos arruinados, com laivos de satanismo. Numa reedição depauperada é termo que identifica certos grupos de jovens que se reinventam numa estética de peles mais brancas que o mármore, roupas e maquilhagem de contrastante negrume e acessórios de joelheria de sabor macabro. E quando estas "pinturas de guerra vivencial" estão in, deixam de o estar os caracteres germânicos que góticos eram...

Tudo a propósito de um texto de Ana Maria Ribeiro, publicado hoje no «CORREIO DA MANH», que nos dá conta de um «show de sexo gótico» oferecido pelo Teatro da Luz, em Carnide, que deixará, segundo a Autora, o espectador «mergulhado num clima de esquizofrenia contagiante».

Outrora era meio para nos dirigirmos à Realidade Suprema que ambicionávamos. Hoje dão-no-lo como propaganda da situação em que se não consegue percepcionar o Real!