Tudo Partido
Queixa-se, no editorial do mesmo matutino, António José Teixeira, da pretensa regressão que significaria a opção por leaders em vez de ser efectuada em função de cores partidárias. A questão é absolutamente desprovida de sentido. Os dirigentes não chefiam o vácuo. Assentam nessas feiras de vaidades que são os partidos, destinadas a manter vivo o braseiro dos antagonismos artificiais. E porque feiras são, não admira que, quando as Pessoas de tal se apercebem, se arme uma grande barraca. Procuram na adesão à estrita pessoalidade dos condutores um drible ao horror que é a criação tenebrosa de uma elite cujo solitário critério de constituição se baseia no cartãozinho mágico. É da sua essência, não da sua decadência, depender das clientelas. E o facto de existirem é sempre o condicionamento fatal da transparência e a eliminação da legitimidade, na medida em que os cardápios postos periodicamente à escolha tentam sonegar a única fonte de autoridade natural, a que seria transmitida pelos séculos, como garantir o cheque em branco que lhes permita a absolutização do abuso, durante o mandato que se segue. Ao contrário do que ingenuamente pensa o editorialista, não «é suposto os partidos organizarem a representação democrática», mas aproveitarem-se da que como tal quer ser chamada. Para que o entretenimento das polémicas parlamentares anestesie a crítica das governações.
4 Comments:
At 5:51 PM, Anonymous said…
Veja as outras espécies. Assim de repente, não me lembro de nenhuma das que se organizam em grupos de indivíduos cuja ordem assente em partidos. Mas há líderes. O natural é haver líderes, não partidos. Estes, se se formam, figuram luta pelo poder. Tal como nas sociedades humanas. Já para os humanos, hoje, natural é cada um usar o cabelo com que nasceu. É para isso que lhes serve a cabeça.
(E a mim, nem isso.) :)
Brilhante escrito, caro Paulo!
Cumpts.
At 6:58 PM, L. Rodrigues said…
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At 6:59 PM, L. Rodrigues said…
"A única autoridade natural, a que é transmitida pelos séculos"
Contesto. A unica autoridade natural é a que é concedida pelo povo.
É essa a substancia do "Mandato dos Céus" dos imperadores do Oriente, e foi essa autoridade que permitiu aos Reis do ocidente afirmarem-se sobre os feudos. A ligação directa do rei ao povo, via impostos, lei e exército, contornando o poder regional do barão, e assim criando o poder nacional. Ou pelo menos assim o entendo
At 8:26 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro SA:
...que é o mais baixo, no que ao interesse público importa...
Meu Caro Bic Laranja:
Obrigado, Caríssimo. Realmente nunca soube de seguidismo de bandeiras fracciomistas da comunidade nos restantes animais. Deveríamos tirar ilações, sem dúvida.
Quanto à utilidade remanescente, vamos pelo mesmo, hihihihi!
Meu Caro L.Rodrigues:
sou, encarniçadamente, contra a criação absolutista de um Direito Divino dos Reis, tal como foi teorizado por Bodin, Bossuet & Cª interessada nos Sécs. XVI e XVII, Vejo-a como o oposto das constituições essenciais que foram construindo paulatinamente os séculos. Do Povo? No sentido de "para satisfazer as necessidades dele". Porque um qualquer pacto instantâneo como fundamento do poder só poderia brotar da cabeça daquele Jean-Jacques que confessava prescindir dos factos. Um acordo enformador vai sendo construído extensivamente, entre homens desiguais como o são sempre, uns providenciando protecção, outros fornecendo a contrapartida do seu labor. Sou contra qualquer centralização niveladora, logo falsa.
Abraços aos Três.
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