Uma Morte Evocativa
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Com a idade de 92 anos faleceu Nina, a Viúva do Coronel Conde Klaus von Stauffenberg, um patriota alemão formado no círculo de Stefan George, que tentou, pelo assassínio de Adolfo Hitler, permitir que o Exército Germânico tomasse conta do Reich e, na iminência da derrota, pudesse negociar uma paz separada com o Ocidente, prosseguindo a luta contra a União Soviética. A sua acção levantava problemas éticos que ainda hoje têm resposta difícil. Será lícito o tiranicídio? Ernst Junger, que tinha muitos amigos na conspiração, recusou-se a alinhar, por lhe repugnar o assassinato político. Sabe-se, desde Júlio César, que este aumenta o vulto do sacrificado e reduz a proporções ínfimas os matadores. E será lícito ao militar de um país em guerra criar uma frente interna contra o governo da sua Nação? Os pratos da balança, em que o que se jogava era a sobrvivência alemã, tornam muito difícil a resposta. A falecida, unicamente pela relação familiar, após a execução do Marido, foi internada, grávida, em local separado do dos outros filhos e só libertada e a eles reunida após o termo do conflito. É do casal a fotografia que aqui vemos.
Com a idade de 92 anos faleceu Nina, a Viúva do Coronel Conde Klaus von Stauffenberg, um patriota alemão formado no círculo de Stefan George, que tentou, pelo assassínio de Adolfo Hitler, permitir que o Exército Germânico tomasse conta do Reich e, na iminência da derrota, pudesse negociar uma paz separada com o Ocidente, prosseguindo a luta contra a União Soviética. A sua acção levantava problemas éticos que ainda hoje têm resposta difícil. Será lícito o tiranicídio? Ernst Junger, que tinha muitos amigos na conspiração, recusou-se a alinhar, por lhe repugnar o assassinato político. Sabe-se, desde Júlio César, que este aumenta o vulto do sacrificado e reduz a proporções ínfimas os matadores. E será lícito ao militar de um país em guerra criar uma frente interna contra o governo da sua Nação? Os pratos da balança, em que o que se jogava era a sobrvivência alemã, tornam muito difícil a resposta. A falecida, unicamente pela relação familiar, após a execução do Marido, foi internada, grávida, em local separado do dos outros filhos e só libertada e a eles reunida após o termo do conflito. É do casal a fotografia que aqui vemos.
22 Comments:
At 12:04 AM, Jansenista said…
Não conhecia a foto, extraordinária! E um herói!
At 6:36 AM, Pedro Botelho said…
This comment has been removed by a blog administrator.
At 6:46 AM, Pedro Botelho said…
Quanto ao Jünger, as tréguas eram mútuas. O tio Adolfo também dizia sempre "não lhe toquem".
Mas é claro que a distância que vai da passividade à bomba até pode ser menor que a que vai da bomba ao tiro próximo ou à faca.
Nunca se saberá (a distância, digo).
Comparada com a problemática aristocrática, a inegável virtude republicana à Bruto é muito mais chã e directa.
"Sic semper tyrannis", já lá dizia o Wilkes Booth.
6:36 AM
At 8:36 AM, Paulo Cunha Porto said…
É, Caro Jansenista. Ganha uma dimensão extraordinária quando pensamos em tudo o que a biografia lhe acrescentou...
Meu Caro Sapka: Stauffenberg foi fuzilado. E, tanto quanto sei, sem intervenção judicial, mesmo do tribunal especial para os casos de traição política, que era uma espécie de tumor, dentro do sistema judiciário. Tudo para um general trafulha mostrar serviço e não comprometimento com uma rebelião na qual, contudo, estava atolado. Não lhe veio a servir de nada. O ponto positivo foi furtar Stauffenberg ao triste cerimonial de julgamento e crueldade de execução com que se foi vexando outros implicados. Freisler, julgo que a ele se refere, interveio sim, presidindo ao "julgamento" dos Irmãos Scholl e restantes implicados no movimento «ROSA BRANCA». E foi com a ameaça dele e de perseguições à família, que convenceram Rommel a suicidar-se. O Marechal sabia bem do grau de "independência" que por ali pairava.
Caro Pedro:
Foi, até ao fim. O Próprio pensava que isso se tivesse ficado a dever ao culto que todos os ex-combatentes nutriam pelos seus livros em que relatava a experiência da Grande Guerra, "maxime" as «TEMPESTADES DE AÇO». Quanto a virtudes republicanas, lá vamos parar a contradição nos termos, hihihihihi!
Abraços a Todos.
At 11:08 AM, Pedro Botelho said…
A propósito da execução dos conspiradores, é interessante notar que existem indicações de que nem o seu suposto visionamento em filme pelo Hitler (uma invenção do tempo da guerra do Sefton Delmers em que os historiadores que funcionam em círculo vicioso pegaram e nunca mais largaram), nem as cordas de piano (menos certo) são verdadeiros. Não tenho as fontes à mão, mas se quiser procuro-as e transmito-lhas.
Outros prováveis mitos à volta do assunto:
-- O Rommel não era anti-nazi. Durante a primeira fase da guerra foi dos mais nazis dos militares profissionais do Hitler. As distâncias só começaram com o declínio da situação militar.
-- O juiz Freisler não era boa rés, mas o trecho de filme sonoro que existe do julgamento, em que se ouve o dito Freisler a gritar imprecações (salvo erro ao Von Witzleben), é quase de certeza uma falsificação soviética usando o footage alemão. O filme passa com frequência na TV (Canal H etc.) e a falcatrua do som acrescentado percebe-se deste modo: a câmara está centrada no juiz que está muito tranquilo e caladinho; depois temos um longo plano em que se vê um dos acusados e a assistência, e é apenas durante este plano que se ouvem as invectivas absolutamente histéricas, em altos berros, supostamente provenientes do juiz. Ora vê-se a assistência a olhar de forma contínua para o acusado e para um ponto que não fica na direcção do juiz, e quando começa o berreiro não há um único olhar que mude de direcção, como seria normal. Se se está a olhar para alguém à nossa direita e de repente alguém que estava calado à nossa esquerda começa aos berros, não é normal não olhar... Repare bem quando apanhar o filme.
Já agora, aproveito para retirar o trema que tinha colocado ao Junger.
At 11:20 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Pedro: há factos que nunca foram contestados e que foi a própria imprensa alemã do regime a difundir: os ganchos de carniceiro, como forcas, a privação de cintos e botões aos acusados, repetida em Nuremberg, com a desculpa de ser meio de evitar o suicídio, mas acompanhada do "fornecimento" de números acima das medidas, para que, de pé estivessem sempre a segurar nas calças; e por aí fora...
Rommel nunca foi nazi, embora tenha sido sempre um militar disciplinado, como o continuou a ser, mesmo nesta conjura, em que não entrou. Os seus contactos com o grupo limitaram-se a uma sondagem sobre a aceitação da Chefia do Estado, em caso de êxito. E à leitura clandestina do programa escrito por Junger, «A Paz», ambos os casos relatados por um amigo dos Dois, o General Speidel.
Ah e Junger tem trema, claro. Eu é que o não sei pôr, aqui, no "blogger".
At 12:41 PM, Anonymous said…
Exacto, Paulo. O Rommel era sobretudo um militar "puro e duro". Lembra-me alguém que nós bem conhecemos, não lembra?...
É certo que sofreu uma evolução moral, a partir de 1942-43, quando se apercebeu que Hitler estava a conduzir a Alemanha ao abismo. Contudo, não chegou ao ponto de se envolver na conspiração propriamente dita.
At 1:44 PM, Pedro Botelho said…
Meu Caro Pedro: há factos que nunca foram contestados e que foi a própria imprensa alemã do regime a difundir: os ganchos de carniceiro, como forcas, a privação de cintos e botões aos acusados, repetida em Nuremberg, com a desculpa de ser meio de evitar o suicídio, mas acompanhada do "fornecimento" de números acima das medidas, para que, de pé estivessem sempre a segurar nas calças; e por aí fora...
Sim, até aí é verdade, embora o caso das calças largas se aplique apenas ao Von Witzleben. Pode ser resultado da ausência de suspensórios (que os militares usavam com frequência para não sobrepor cintos a cinturões) nas suas próprias calças porque não se vê o mesmo em mais nenhum. O Hoepner, por exemplo, aparece no filme do julgamento normalmente vestido com roupa civil à sua medida.
Mas o que eu disse é que era muito pouco provável que o Hitler tivesse visto o filme e que a história das cordas de piano era duvidosa. Hoje não posso, mas procuro os detalhes quando puder e se os encontrar (está cada vez mais difícil encontrar o que quer que seja!) envio-lhos.
Quanto ao Rommel, tem razão até certo ponto. Exagerei de facto quando escrevi "durante a primeira fase da guerra foi dos mais nazis dos militares profissionais do Hitler". Havia quem fosse mais entre os militares de carreira, e até se pode dizer que, nessa fase, o Rommel foi muito mais um seguidor e admirador da pessoa do Hitler que politicamente nacional-socialista. Mas o entusiasmo pelos sucessos do regime e do seu chefe existia e os lugares que ocupou ainda antes da guerra -- oficial de ligação com a Juventude Hitleriana e comandante do batalhão de protecçao pessoal do Hitler -- não devem ter sido por acaso. E os menos políticos do corpo de profissionais (Estado-Maior etc.) não gostavam muito dele precisamente por esse seu "fraquinho" e proximidade.
Já agora, o seu braço-direito e amigo Speidel (quando queriam falar em privado sem que ninguém os percebesse usavam o dialecto suábio comum...) que cita é que não faz grande figura no contexto do complot. Estava muitíssimo mais comprometido que o Rommel, mas parece que só se safou traindo outros para se conseguir fazer de novas...
Quanto ao trema do Jünger, existe de facto e conseguiu enganar-me... Se não consegue no seu teclado e tem o + e o * na mesma tecla, experimente fazer o que eu faço no meu: [Control + Alt + essa tecla] e a seguir a letra a acentuar.
At 3:05 PM, Pedro Botelho said…
Anote uma correcção sff: onde menciono o gen. Hoepner, posso estar enganado. Pode ser outro. É o que se vê de pé no filme para além do Witzleben. Julgo lembrar-me que um comentário falado assim o identificava, mas não tenho a certeza .
At 4:42 PM, Rafael Castela Santos said…
Querido Paulo:
La controversia sobre si el tiranicidio es legitimo ha sido saldada hace tiempo para los catolicos. Si que lo es y, si mi memoria no me falla, Von Stauffenberg tambien lo era. La doctrina catolica, en un tema ya suscitado por Santo Tomas de Aquino y luego perfeccionado por las aportaciones de los teologos espanholes de la Escuela de Salamanca y del Siglo de Oro, tiene como consenso que el tiranicidio es legitimo. Solo se pone como condicion que haya una cierta esperanza, siquiera minima, de que las cosas puedan ir a mejor tras matar al tirano.
Que pena que Von Stauffenberg fallara en su intento. Como pena fue otros tiranicidas no mataran a los tiranos que ordenaron el bombardeo de Dresde y organizaran la ignominia de Nuremberg. Porque tiranos, en rigor, los hubo en las Potencias del Eje y tambien entre los Aliados. Tirano fue Hitler, pero tirano igualmente fue Truman, quien consintio el bombardeo de Nagashaki e Hiroshima aleccionado por un general de escuadra y compas.
Un abrazo,
RCS
At 5:05 PM, o engenheiro said…
Ó Paulo:
O que é que isto contribui para a nossa felicidade?
É um pedaço de História irremediavelmente inquinado pela cosmética dos vencedores. Tudo o que pudermos perorar sobre o tema não passa de um exercício de sabichonice vão e inconsequente.
Deprende-se da História do Exército Alemão do Bénoist- Méchant (antes de 39) para perceber o posicionamento futuro de compagnon de route de alguma elite militar mais tarde alinhada com Hitler mas nunca intrinsecamente convertida ao NS, sobretudo pelo característico marxismo branco (como o define o Zé Adelino)...
Quanto ao Pedro Botelho, o seu heterónimo que o carregue para a caldeira das furnas que lhe pertence, ou então, mande-o descobrir o Speidel entre as figuras dos painéis de São Vicente
At 7:51 PM, Pedro Botelho said…
Misantropo,
Não encontro outros dados que tenho reunidos sobre o assunto, mas sobre os testemunhos directos dos próximos do Hitler sobre o visionamento das cenas, indico-lhe este comentário do Irving.
E também esta referência no seu livro sobre o Goebbels:
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Goebbels had commissioned a film of the trial and hangings.[1] Hitler however forbade its release fearing a backlash, an ‘undesirable debate’ about the trial.[2] He ordered the execution footage particularly kept under lock and key. Despite this newspapers reported that the British legation in Switzerland had shown a print to Swiss officers there. Investigations showed that it was a fake furnished by a Mr Saunders, a British secret service agent; it was evidently the origin of several post-war legends about the executions including rumours that the men were hanged from meathooks and took ten hours to die.[3]
[1] JG, 'Der Einsatz des eigenen Lebens,' in Das Reich, No.15, Apr 15, 1945.
[2] Wilfried von Oven, Mit Goebbels bis zum Ende (republished as Finale Furioso. in Tübingen in 1974), 'Apr 19, 1945.'
[3] Naumann testimony, May 18, 1950 (IfZ, ZS.274).
******
Do que não ha dúvida é que os enforcamentos se realizaram na prisão de Plötzensee em Berlim. Se na prisão existiam ganchos "de prisão" ou "de carniceiro" (como diz) não sei. O que sei é que os locais de execução costumam ser lúgubres.
Outros comentários:
Sapka,
O "juiz vociferador" que de facto presidiu a um show-trial à Vichinsky não foi inventado pelos soviéticos, mas não foi isso que eu disse. O que eu disse é que o filme conhecido em que se ouvem os gritos (sem se ver quem os emite) parece claramente trucado pelas razões expostas acima. Quem quiser julgar por si próprio depois de ver esteja atento à próxima oportunidade. E mais não digo, porque mais não sei.
Engenheiro de Obras Feitas,
Era o Speidel que estava em contacto com a conjura e o Rommel apenas tinha sido sondado sobre a sua disponibilidade. O argumento com que o Speidel se conseguiu safar foi o de que tinha efectivamente sido contactado, mas tinha imediatamente posto o seu superior directo (o Rommel, é claro) ao corrente, julgando que ele procederia em conformidade e mostrando-se surpreso por isso não ter sucedido. Ou seja, comprometendo o Rommel em vez de negar o seu envolvimento. Quando se considera que as denúncias do Speidel provinham de vários dos que foram executados e que o Rommel foi obrigado a suicidar-se, sem que nada tivesse sucedido ao próprio Speidel, pode-se avaliar melhor o seu tour-de-force. Quanto ao Vicente, tem que me explicar o que tem ele a ver com o complot...
At 5:54 AM, Pedro Botelho said…
Outra coisa que se pode dizer é que o Hitler era o que era, mas tinha gestos honrados um tanto desconcertantes em termos da pior lenda negra.
Por exemplo, depois do atentado demitiu todos os implicados das forças armadas, para os poder julgar em tribunal civil em vez de militar (tinha uma permanente desconfiança da classe militar profissional). Mas depois das execuções, no fim de Agosto de 1944, no entanto, atribuiu às famílias próximas dos defuntos conspiradores as pensões a que teriam direito se a expulsão não tivesse tido lugar. Tinha feito exactamente a mesma coisa em relação às famílias dos executados durante a purga do Röhm, dez anos antes.
Por isso, achei curiosa a sua notícia de que a mulher e filhos do von Stauffenberg tinham sido internados, embora tivessem sobrevivido todos. Ignorava esse dado e gostaria de saber mais. Se puder indicar as suas fontes e os locais de internamento, agradeço.
Naturalmente a mesquinhez não era exclusiva de nenhum lado. Imagino o Staline a zelar pelos interesses das famílias dos conspiradores anti-comunistas... E também não é edificante, por exemplo, o caso do cidadão americano (naturalizado) Fritz Kuhn, chefe do Bund de antes da guerra, internado num campo do Texas quando ela estalou e "exportado" em 1946, como se fosse estrangeiro, para a Alemanha, onde veio a morrer no cadafalso em 1951. Não sei o que terá acontecido á sua família.
At 6:02 AM, Anonymous said…
Traidores são traidores. A traição é a coisa mais ignóbil que existe à face da terra!
Se o Conde estava tão preocupado com a situação e queria tanto ser herói podia ter escolhido outra "solução".
Porque é que não levou uma Luger em vez da bomba? Isso sim era d'homem!
E não venham com a treta da falta do bracinho...
At 6:19 AM, Anonymous said…
Engenheiro: Ó Paulo: O que é que isto contribui para a nossa felicidade?
Presumindo que "nossa" se refere aos leitores do Paulo, é naturalíssimo que ele não saiba responder cabalmente. Pela minha parte, a modesta contribuição deste tipo de posts para a minha felicidade advém de novas informações sobre assuntos que me interessam. Digo "modesta" em ordem à felicidade cósmica que não me parece acessível na blogosfera. E naturalmente agradeço a intenção do autor.
At 6:41 AM, Pedro Botelho said…
Traidores são traidores. A traição é a coisa mais ignóbil que existe à face da terra!
Pois, esse é um velho dilema que não desaparece hoje nem amanhã. Mas não é tão simples como o pinta. O traidor ao Bilhete de Identidade (partidário, nacional etc.) que não trai interiormente nem trai a confiança que intencionalmente inspira, não é necessariamente o pior dos criminosos. Até pode ser um herói. O gen. Vlasov, por exemplo, traiu o regime do Staline, mas não me parece pior o traidor que o traído. E por aí fora que nunca mais acaba...
At 11:05 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Engenheiro: Como Alguém respondeu, gentilmente, mais abaixo, o conhecimento da História e o debate de um dilema ético penso que podem contribuir para nos melhorarmos um pouco. Quanto à resistência das chefias do Exército ao predomínio do NSDAP, ela achava-se ainda representada, numa linha de continuidade, pelo General Beck, que participou nas obstruções de antes da Guerra e na conjura.
Meu Caro A: o tema da traição é interessantíssimo e suscitou um importante debate, há algum tempo, entre o Miguel Castelo-Branco, o Je Maintiendrai, o Jansenista e, noutro plano, a Viajante. Preparo um "post" grandinho, sobre a matéria. Quanto a Stauffenberg, o próprio passado de grande inválido de guerra fala da coragem dele. E não esqueçamos que mesmo na mão que lhe restava, faltavam alguns dedos, o que tornaria inviável empunhar uma pistola. O próprio mecanismo de activação da bomba teve de ser modificado, para que ele o pudesse accionar.
Meu Caro Rafael: na sequência da bela doutrinação de S. Tomás e Suarez, que introduziram em relação ao pensamento convergente dos antigos, Cícero à cabeça, essa morigeração da crueza do assassinato pelo requisito possibilidade de inversão opressiva, resultante do acto, tenho-me muitas vezes perguntado se os aliados aceitariam a paz separada com um governo militar alemão, já que uma reversão de alianças contra os vermelhos não creio que fosse sequer considerada pelos principais conselheiros militares da presidência americana. Claro que, no que toca à mudança de conformação interna já se poderiam encontrar justificativos para a acção, conforme o pensamento de Karl Goerdeler, outro dos conspiradores. E sim, Stauffenberg era católico convicto.
Meu Caro TSantos: Grande oportunidade, para relembrares esse saudoso Mestre. A Raposa do Deserto terá mesmo dito aos emissários o mesmo que Jünger escreveu - a repugnância em alinhar com um assassinato. Uma ética própria de homens oriundos das mesmas unidades especiais de Infantaria da Grande Guerra, ambos condecorados com a prussiana "Pour le Mérite".
Meu Caro Pedro Botelho: antes do mais, obrigado pela dica tremática. Conforme se pode ver acima, resultou. Antes de me deitar andei, ontem, à procura de um livro que tenho, sobre o 20 de Julho, para reavivar algumas ideias, porém não o achei. De qualquer forma, prometo ir ao outro computador, onde tenho o ficheiro, para lhe dar notícia desse item bibliográfico.
Donde tirou a informação de que Speidel traiu os conjurados? Nunca vi acusações disso e seria estranho que ele tivesse chegado, no pós-guerra, a comandante da NATO, com essa mancha... E nem Givesius, o homem que detinha maior conhecimento de pormenores da conjura, para além de Stauffenberg e Hofacker, que se salvou rocambolescamente, adiantou nada nessa linha, quando foi muito loquaz em acusações a toda a gente, a começar pelo seu testemunho em Nuremberg... A lenda diz que, interrogado preliminarmente pela GESTAPO, ele teria feito valer a sua fama de filósofo, que também tinha; e dado respostas tão "fora do mundo" que teria convencido os investigadores de que nunca uma conjura integraria um incapaz daqueles! Quanto aos pormenores humilhantes, há documentos oficiais com alguns. Não sei se a corda de violino estará lá, mas existe registo, por exemplo da instrução para que Olbricht fosse enforcado nu. E os vexames dos julgamentos também constam das actas, como Freisler a interrogar Hoepner acerca de ele ser um cão, da resposta negativa deste e sequente admissão de ser um asno. Aliás, a impressão geral de quem assistiu ao "julgamento" foi de que o ex-cabo de blindados tinha sido drogado. Segundo se diz, o único que parecia deter algum domínio de si seria Schulenburg, talvez por ter acabado de ser preso e ainda não estar demasiado torturado.
Há uma excelente biografia «STAUFFENBERG, THE LIFE AND DEATH OF AN OFFICER», de Joachin Kamarz - A. Deutsch, Londres, 1967, 255pgs.
Mas sobre a Nina, a maior parte das notícias da morte, nos jornais estrangeiros, davam conta dessa parte da vida. Para os de cá é que não passou. Mas já se sabe...
Meu Caro Sapka: tudo confere, então.
Abraços a todos.
At 1:53 AM, Pedro Botelho said…
Donde tirou a informação de que Speidel traiu os conjurados? Nunca vi acusações disso e seria estranho que ele tivesse chegado, no pós-guerra, a comandante da NATO, com essa mancha...
Não é estranho que nunca tenha visto porque os escritos sobre esse e outros assuntos similares são quase sempre decalcados uns dos outros. Cada historiador lê as obras dos anteriores e compõe um "nova" narrativa com os seus próprios floreados, sendo depois muito felicitado com palmadinhas nas costas por todos eles, pela nova obra "repleta de profundos insights". É por isso que é mais importante ler os muito escassos historiadores "de campo", que investigam realmente os arquivos empoeirados e procuram documentações e testemunhos que não são fáceis de obter.
Para o caso em foco tem aqui um ponto de vista "oficial", para exemplo, sintetizado da Wikipedia:
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Under interrogation, he admitted nothing and did not betray anyone. Speidel appeared before an Army Court of Honour but Gerd von Runstedt, Heinz Guderian ans Wilhelm Keitel decided not to expel him from the German Army, meaning he was not turned over to Roland Freiser's People's Court. Rommel, in his final letter to Hitler on Oct. 1, appealed for Speidel's release, but received no answer. [...] Speidel was one of the inner circle of conspirators (the only one to not be executed or commit suicide), and had been delegated by anti-Hitler forces to recruit Rommel for the conspiracy - which he had cautiously begun to do prior to Rommel's injury in a British straffing attack on July 17, 1944.
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E, a seguir, outro ponto de vista menos oficial -- mas que faz bastante mais sentido -- de The Trail of the Fox do David Irving. Que cada um formule a sua opinião própria. Mais logo mando-lhe outra mensagem com mais alguns comentários e perguntas. Para já, deixe-me dizer-lhe que o que eu acho estranho é que o prezado Mistantropo se admire pela carreira na NATO do dito Speidel, como se isso estivesse em contradição com os superiores interesses das nações que os podem ter...
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However, Hofacker’s story was significantly different. He claimed to have discussed the actual assassination plot with Speidel, before going in to see the field marshal. The Gestapo hammered away at Speidel to know whether or not he had reported this to Rommel (so evidently Hofacker himself did not claim to have discussed it with Rommel). Either way, Speidel was in a jam. Unless he were to put all the blame on Rommel, he could only accuse Hofacker of lying. Unfortunately, the actual Gestapo interrogation records on Speidel are missing. He himself wrote in an unpublished 1945 manuscript: "The series of interrogations ended with a face-to-face confrontation with Hofacker, lasting several hours. Hofacker had complete control of himself, although showing signs of physical ill treatment. He shielded me magnicently. When his earlier testimony was put to him, he withdrew what he had said about my having been an accessory to the assassination plot, saying, 'My memory must be at fault.' " It must be said that there are reasons to doubt Speidel’s memory of events, however.
Eventually, Speidel and Hofacker did set their signatures to at least one joint statement of some sort for the Gestapo, because the Gestapo then showed it to Max Horst -- so Horst recalled.
I had walked in heavy rain up the steep hill to Max Horst's villa in an exclusive suburb of Bonn one morning in 1976. His wife, who was Frau Speidel's sister, tactfully withdrew while Horst described his Gestapo imprisonment and interrogations to me.
It was Horst, a jovial Central European of medium build and light blue eyes, who had driven Hofacker to the château for the first, innocuous meeting with Rommel in 1944 "The Gestapo didn't use violence or torture us," Horst told me. "They preferred more refined psychological techniques. For instance, I was suddenly awakened at three or four a.m. in Moabit prison, driven across Berlin to the Gestapo and interrogated by intimidating plain clothes officials. They screamed at me, 'You're lying!' but I didn't react to that. Once the official opened a folder, took out a document and covered it so I could see only one line. 'Do you recognize these two signatures?' he shouted. And of course I did -- there was Hans Speidel's on the left and Hofacker's on the right. The man shouted at me, 'Either these two are lying, or you are.' After that I was taken, back to Moabit prison."
[...]
The Gestapo interrogations of General Speidel were also complete, and on October 4, 1944, the army's Court of Honor was specially reconvened to hear the evidence. Speidel was not present. As chief of the High Command, Field Marshal Keitel himself presided, with five generals -- including, ironically, the cautious Guderian -- nominated as the panel of judges. One of the five, however, was killed in a road accident, and Lieutenant General Heinrich Kirchheim, an Afrika Korps veteran whom Rommel had insulted after the failure of the last unsuccessful attack on Tobruk in 1941, found himself ordered to attend. Kirchheim and Guderian both swore affidavits later describing the hearing.
In a sense, not only Speidel but Rommel too was on trial now -- and by the most unfavorable of juries, his fellow generals. The judges had to decide, as it turned out, whom to hang -- Speidel or Rommel. According to Kirchheim's testimony, Gestapo chief Ernst Kaltenbrunner (for whom Speidel had developed quite a liking) himself stated the prosecution case. "Speidel," said Kaltenbrunner, "has admitted under interrogation that he was informed of the assassination plot by an emissary from Stülpnagel," no doubt indicating Hofacker. "But Speidel claims to have duly reported this to his immediate superior, Field Marshal Rommel, and he says it is not his fault if the field marshal did not pass his warning on. In fact -- this is Speidel's case -- he did not realize that Rommel kept the warning to himself."
Kaltenbrunner argued in response to this that Speidel's excuse was not good enough. "If we assume," he continued, "that what Speidel claims did in fact happen, would Rommel really have kept it secret from his own chief of staff that he intended to sit on the warning? The fact remains that if Speidel had himself reported the plot to the High Command, then the assassination attempt could have been nipped in the bud." Thus, Kaltenbrunner argued, Speidel was at the very least an accessory to murder. (Four men had died as a result of the bomb blast, including Rudolf Schmundt -- Rommel's friend -- who had just succumbed to his injuries after ten weeks of agony.)
"At this," wrote Kirchheim in his deposition, "there was an uneasy silence. Probably the same thought occurred to the other judges that occurred to me -- that the case as set out incriminated not only Speidel but also Rommel, and to a far graver degree." Kirchheim, of course, had had a rough deal from Rommel in 1941; Guderian lost no love for the field marshal either. Both knew that a "thumbs down" for Speidel would clear Rommel. Both opted the other way. When Keitel nonetheless announced, ominously, "The Führer has expressed the view that there can be no doubt that Speidel is guilty," Kirchheim boldly pointed out that the burden of proof was on the prosecution, and that if General Speidel said he had reported the plot to Rommel, it was for the prosecution to prove the contrary. Guderian supported this argument.
Kirchheim described the hearing in a private letter to Speidel on August 18, 1945. "I spoke out for your acquittal," he wrote, "but your close relationship with Rommel was adduced as being particularly damning, since it appeared to be out of the question for Rommel to have kept from you something as important as this -- as not having forwarded your report. Guderian defended you at length, with great force and skill." Thus the ball was put back in the Gestapo’s court. Speidel was not thrown out of the army -- the People’s Court could not get hold of him. And the witch-hunt against Rommel accelerated.
Distinctly uncomfortable, I had to raise directly with General Hans Speidel the curious question of how he had passed through the jaws of the Gestapo and survived, while Rommel had had to die.
Speidel, after all, became one of NATO’s top commanders and one of West Germany’s most venerated figures. News photographs bear testimony to his solicitude for the Rommel family -- Lucie leans heavily on his arm as they attend Bundeswehr military parades to mark the field marshal’s anniversaries.
Speidel looked me squarely in the eye, and emphatically denied making any statements to the Gestapo. "If Kaltenbrunner produced any," he asserted, "then they were forgeries." I argued that the Gestapo would not have dared to produce forgeries to the six shrewd army officers of the Court of Honor, risking subsequent exposure. Besides, why had Speidel not denied them in his reply to Kirchheim’s 1945 letter? I quoted to him one of my favorite ironic lines from Friedrich Nietzsche: "My memory says this did happen. But my conscience says ’t were better it had not. Gradually memory yields to the dictates of conscience."
Speidel’s family sat in a tense half circle around us, eager for his reply. My pencil waited. He heaved his bulk into an easier sitting position. "Herr Irving," he said finally, "my conscience is clear."
At 6:40 AM, Pedro Botelho said…
A lenda diz que, interrogado preliminarmente pela GESTAPO, ele teria feito valer a sua fama de filósofo, que também tinha; e dado respostas tão "fora do mundo" que teria convencido os investigadores de que nunca uma conjura integraria um incapaz daqueles!
Faz bem em referir como lenda, porque tem todo o aspecto de ser um daqueles contos morais cheios de encanto para fazer esquecer a falta de lógica. Já estou a imaginar a situação:
-- Fala! De quem foi a ideia da bomba?...
-- A lógica, para Hegel, é uma parte da metafísica, e além disso...
-- Sim, mas e a bomba?! Quem é que pôs a bomba?
-- Schopenhauer, nos seus Parerga e Paralipomena...
-- Ach! Este tipo é impossível. Desistimos. Vá-se lá embora...
Quanto aos pormenores humilhantes, há documentos oficiais com alguns.
Se puder "mostre" esses documentos porque estou curioso.
Não sei se a corda de violino estará lá,
Na versão mais corrente são cordas de piano. Mas pode ser que também tenham usado violino. Esperemos que não tenham usado a orquestra toda, senão qualquer dia temos aí um desses historiadores alemães que escrevem sobre o assunto a dizer que não só filmaram mas até gravaram um concerto especial para deleite do Hitler, com harpa e tudo.
mas existe registo, por exemplo da instrução para que Olbricht fosse enforcado nu.
É possível, mas muito estranho pelas razões seguintes:
1) Uma das histórias diz que tinham sido tiradas fotos dos cadáveres nus, o que não me espanta nada. Outra diz que tinham sido filmados os enforcamentos, o que me parece bastante crível. Depois outra -- que o Irving aceita (ou aceitou até dada altura, não estou certo) -- diz que o Goebbels mandou fazer um filme para passar nos cinemas mas o Hitler proibiu essa exibição (se é que o filme existiu mesmo). Depois vem outra história segundo a qual os próprios enforcamentos tinham sido todos "nudistas", de que encontra alguns ecos, por exemplo, na Wikipedia. Veja, por exemplo: Witzleben: "According to some accounts, he was hanged naked. Some sources also claim that he was hanged with piano wire, and that the execution was filmed on Hitler's orders"; ou Hoepner: "sentenced to death, and executed (hanged naked) on August 8", etc. Não existem nem fotos nem filmes de nada disto, o que não quer dizer nada, é claro. Mas documentos indiscutíveis com instruções precisas seriam muito bem-vindos, pela minha parte. Já agora, repare na relativa improbabilidade de se fazerem filmes com enforcamentos nudistas com intenção de os exibir ou de preservar as cenas edificantes para a posteridade. A história dos enforcamentos desnudos para divertir o Hitler cheira-me bastante a alcatifa ratada, testículo único, parafilias exóticas etc....
2) Mais grave ainda: como o Olbricht foi fuzilado (vestido) ao mesmo tempo que o Von Stauffenberg, logo após a tentativa de golpe, isso quer dizer que o despiram depois do fuzilamento e o enforcaram muitas semanas depois de morto.
Se puder, envie a tal "instrução" para eu poder formular o meu próprio juízo. É do próprio tribunal e faz parte do processo? Tenho as minhas dúvidas.
os vexames dos julgamentos também constam das actas, como Freisler a interrogar Hoepner acerca de ele ser um cão, da resposta negativa deste e sequente admissão de ser um asno.
Não me admira nada, mas também se registam algumas tiradas de tipo heróico (julgo que as últimas alegações do Witzleben, por exemplo, em que prevê um idêntico futuro para os que o vão condenar). É interessante notar que o próprio Hitler se insurgiu contra o "circo Freisler" e exigiu mais expediência.
Aliás, a impressão geral de quem assistiu ao "julgamento" foi de que o ex-cabo de blindados tinha sido drogado. Segundo se diz, o único que parecia deter algum domínio de si seria Schulenburg, talvez por ter acabado de ser preso e ainda não estar demasiado torturado.
É bem possível.
Mas sobre a Nina, a maior parte das notícias da morte, nos jornais estrangeiros, davam conta dessa parte da vida.
Julguei que tinha mais referências. Se tiver referências concretas a campos diga, se puder. Era essa a parte que mais me interessava. Primeiro porque julgo que ela não foi excepção na questão das pensões concedidas a todas as famílias dos executados (foram executados cerca de 140), em 44 como em 34. Segundo, porque a notícia de que ela (grávida) e os filhos tinham sido internados em sítios diferentes e todos tinham sobrevivido me pareceu curiosa. Que campos seriam esses? Como sabe, havia uma enorme diferença entre internamentos como o do Léon Blum na "zona VIP" de Buchenwald (onde até tinha direito a criado e se encontrava de muito boa saúde à data da libertação) e o dos desgraçados de um campo-fábrica como Auschwitz.
Procurei os artigos de imprensa que menciona e todos repetem o mesmo telegrama de agência noticiosa:
"Ms. von Stauffenberg, who was pregnant with their fifth child at the time, was held in a camp in Frankfurt an der Oder, while the four other children were kept in an orphanage under false names. The children were reunited with their mother and new sibling after the war."
Achei curioso não indicarem o nome do campo, mas percebe-se que pelo menos os filhos não parecem ter ido para campos nenhuns. Parecem ter estado em orfanatos (como os filhos do Léon Degrelle, depois de os avós terem morrido na prisão aliada). Mas o mais estranho é a forma como a coisa está apresentada na Wikipedia. Repare:
*** Entrada "Klaus":
"Stauffenberg had married Nina Freiin von Lerchenfeld on 1933-11-26 in Bamberg. They had five children: Berthold, Heimeran, Franz-Ludwig, Valerie and Konstanze. She was interned in a concentration camp after her husband's execution."
Novamente um campo sem nome?
*** Entrada "Nina":
"Nina was arrested by the Gestapo and sent to Sippenhaft, along with her children and all other bearers of the Stauffenberg name. Nina was pregnant at the time. The government put her children in an orphanage under false names, in Bad Sachsa, Lower Saxony. Nina von Stauffenberg was forced to give birth to her fifth child, Konstanze, on 17 January 1945, while imprisoned in a Nazi maternity center in Frankfurt an der Oder. That same year, her mother Anna died in a Russian camp. By the war's end, she had been moved to South Tyrol, where she was held as a hostage in return for the redemption of Nazi property."
Aqui já fia mais fino. O campo já parece ter nome (com maiúscula apropriada e tudo): Sippenhaft. Mas, é claro, não existe campo nenhum com esse nome. "Sippenhaft" quer dizer simplesmente "punição familiar" (o que em inglês se traduziria como "punishment of kin" e que, hoje em dia, os israelitas aplicam às famílias dos bombistas). Mas note como a coisa soa forçada e ambígua com a introdução da palavra alemã: "sent to Sippenhaft, along with her children and all other...".
Quando se referem ao local é apenas como: "was forced to give birth to her fifth child [...] while imprisoned in a Nazi maternity center in Frankfurt an der Oder." E a mãe dela que era germano-balta e não uma "bearer of the Stauffenberg name", está deslocada no contexto: morre, aliás, num campo aliado e não alemão (a família era oriunda da Lituânia), mas é preciso estar atento para apanhar essa nuance...
E outra revelação: "she had been moved to South Tyrol, where she was held as a hostage in return for the redemption of Nazi property." Teria estado sob custódia como refém ou moeda de troca, dada a proeminência do falecido marido?
É provável que, como as famílias dos restantes executados, a viúva Von Stauffenberg estivesse a receber a pensão do marido, e que não tivesse sido internada em campos de concentração, como a estadia na maternidade parece sugerir.
Isto dá uma (muito ténue) ideia da habitual dificuldade de distinguir o trigo do joio nas narrativas oficiosas da guerra.
Se tiver mais coisas, afixe s.f.f.. Obrigado.
At 10:56 AM, Paulo Cunha Porto said…
Pois, Caro Pedro, continuo a não ver vestígios de traição aos conjurados. E parece-me que os interesses dos aliados residiriam em increpar os que tivessem bufado, entregando os conspiradores contra Hitler, não promover-lhes as carreiras...
Abraço.
At 4:00 PM, Pedro Botelho said…
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At 5:18 PM, Pedro Botelho said…
"continuo a não ver vestígios de traição aos conjurados."
Depende da forma como considera o papel do próprio Rommel. Se o Rommel esteve de facto (passivamente) metido na conjura, o testemunho do Speidel, segundo o qual lhe teria relatado o contacto com o Hofacker sem que ele tivesse procedido em conformidade, equivaleria a uma traição simples (revelação de uma cumplicidade implícita do Rommel que, ao contrário do Speidel, ficaria comprometido).
E se o Rommel nem sequer passivamente estivesse envolvido, então aí até seria traição agravada (uma vez que o amigo Rommel, ao contrário do próprio Speidel, estaria inocente).
Como evitar inculpar o Rommel? Negando ter-lhe transmitido o que quer que fosse, é claro, e desempenhando o papel do intermediário que preferiu não entregar o recado. Mas aí o candidato a cúmplice teria sido o próprio Speidel, mesmo que ninguém suspeitasse do seu verdadeiro grau de envolvimento.
O tour de force é que o Speidel estava implicado até ao pescoço no grupo, mas teria conseguido fazer figura de simples intermédiario cumpridor do seu dever ao colocar todo o peso das omissões sobre os ombros do Rommel. Fica-se com curiosidade de saber o que estaria escrito no documento assinado por ele e pelo Hofacker.
Note que não estou a atribuir cargas morais a palavras como conspiração, culpado, etc.. Estou só a usar os termos que seriam lícitos do ponto de vista legal.
Quanto à posição na Alemanha do pós-guerra (e na NATO), parece-me que a "fragilidade" das lideranças locais em relação aos ocupantes não seria mal recebida. "Resistentes" com algumas secretas manchas no cartório até podem ser mais convenientes que os de todo "impecáveis" (do tipo Willy Brandt). E os méritos profissionais eram evidentes, ou não tivesse sido chefe de estado-maior do Rommel.
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