A Dor e o Pacto

Logo pela manhã um choque, em que, para lá da Vida e da Morte assenta araiais a inabitualidade. Leio nas «Últimas» do «CORREIO DA MANHû, uma nova horripilante: que uma Inglesa e o Filho Autista, de 12 anos, se terão atirado ao Rio Humber. Se um suicídio pactado, sobretudo envolvendo géneros diferentes, provoca sempre uma entristecida meditação sobre a necessidade de sublinhar pelo acto terreno último uma união intangível que é sempre clivagem, face ao resto do Mundo, estamos mais propensos a conhecê-lo em razões de Amizade ou de Amor Carnal. Assim fica-nos sempre o travo de imaginar o grau de desespero que se encontraria por detrás daquela Mãe, encarando, eventualmente, como libertação do Filho, tão falsa saída. Mas fazendo questão de mostrar que, ao contrário de outros casos, de outra ordem, não queria libertar-se do Filho. E continuo, cada vez mais emocionado e desconfortável, pensando que papel teria o estabelecimento da convenção entre Ambos desempenhado na derrota das dificuldades de comunicação que os afligiriam; como se a fortíssima proximidade resultante da iminência desse momento final não teria sido o factor capital da decisão.

Os testemunhos das possibilidades imensas da morte pactícia são mais do que muitos. Heinrich von Kleist insistiu em que a noite de despedida passada com a sua aceitante co-suicida teria valido até a derrota da impotência sexual que o atingira. No plano espiritual, muitos bilhetes celebram o acto dual como a certeza do encontro do Amor único.

Mas não se costuma tratar de uma Mãe e de um Filho.