Leitura Matinal -315
Não serão precisos outros aditivos, para além da Lua e da Poesia,
que nos levem ao confronto da mediocridade consumista e padronizada das cidades, extremo insuperável é a arrasadora presença do supermercado, expondo os frutos da natureza em oferta industrial e asséptica, capaz de fazer nascer nos nossos corações as nostalgias da beleza e da dignidade, com esta contínua e anónima comercialização contrastantes.
Claro que a contestação desta ameaça pode acarretar os seus perigos, como os da pouco ortodoxa aludida sexualidade do poema, nas franjas da pedofilia. Mas não é isso o principal. Este reside na fantasia a que a sensibilidade se dá, para imaginar o retorno aos grandes espaços livres de onde os contemporâneos fogem a bom fugir,
como na aspiração a uma nova vida em comum com a natureza, que faça germinar, do que de grande há na solidão, um ressurgir de um mundo mais eminentemente cantável e atractivo do que o da rotina enfileirada e etiquetada com preços e promoções. Para que a irreversibilidade seja banida, a barca de Caronte possa dar meia volta e nós consigamos retirar das águas do esquecimento um Passado Majestoso.
De Allen Ginsberg:
A SUPERMARKET IN CALIFORNIA
What thoughts I have on you tonight, Walt Whitman, for I walked down the sidestreets under the trees with a headache self-conscious looking at the full moon.
In my hungry fatigue, and shopping for images, I went into the neon fruit supermarket, dreaming of your enumerations!
What peaches and what penumbras! Whole families shopping at night! Aisles full of husbands! Wives in the avocados, babies in the tomatoes! and you, Garcia Lorca, what were you doing by the watermelons?
I saw you, Walt Whitman, childless, lonely old grubber, poking among the meats in the refigerator and eyeing the grocery boys.
I heard you asking questions of each: Who killed the pork chops? What price bananas? Are you my Angel?
I wandered in and out of the brilliant stacks of cans following you in my imagination by the store detective,
We strode down the open corridors together in our solitary fancy tasting artichokes, possessing every frozen delicacy, and never passing the cashier.
Where are we going, Walt Whitman? The doors close in an hour. Which way does your beard point tonight?
(I touch your book and dream of your odyssey in the supermarket and feel absurd.)
Will we walk all nightthrough solitary streets? The trees add shade, lights out in the houses, we´ll both be lonely.
Will we stroll dreaming of the lost America of love past blue automobiles in driveways, home to our silent cottage?
Ah, dear father, graybeard, lonely old courage teacher, what America did you have when Charon quit poling his ferry and you got on a smoking bank and stood watching the boat disappear on the black waters of the Lethe?
Eis também «Flora do Supermercado», de Jacob Lawrence, «Retrato de Walt Whitman», de Thomas Eakins e «A Casita na Neve», de Camille Pissarro.
que nos levem ao confronto da mediocridade consumista e padronizada das cidades, extremo insuperável é a arrasadora presença do supermercado, expondo os frutos da natureza em oferta industrial e asséptica, capaz de fazer nascer nos nossos corações as nostalgias da beleza e da dignidade, com esta contínua e anónima comercialização contrastantes.
Claro que a contestação desta ameaça pode acarretar os seus perigos, como os da pouco ortodoxa aludida sexualidade do poema, nas franjas da pedofilia. Mas não é isso o principal. Este reside na fantasia a que a sensibilidade se dá, para imaginar o retorno aos grandes espaços livres de onde os contemporâneos fogem a bom fugir,
como na aspiração a uma nova vida em comum com a natureza, que faça germinar, do que de grande há na solidão, um ressurgir de um mundo mais eminentemente cantável e atractivo do que o da rotina enfileirada e etiquetada com preços e promoções. Para que a irreversibilidade seja banida, a barca de Caronte possa dar meia volta e nós consigamos retirar das águas do esquecimento um Passado Majestoso.
De Allen Ginsberg:
A SUPERMARKET IN CALIFORNIA
What thoughts I have on you tonight, Walt Whitman, for I walked down the sidestreets under the trees with a headache self-conscious looking at the full moon.
In my hungry fatigue, and shopping for images, I went into the neon fruit supermarket, dreaming of your enumerations!
What peaches and what penumbras! Whole families shopping at night! Aisles full of husbands! Wives in the avocados, babies in the tomatoes! and you, Garcia Lorca, what were you doing by the watermelons?
I saw you, Walt Whitman, childless, lonely old grubber, poking among the meats in the refigerator and eyeing the grocery boys.
I heard you asking questions of each: Who killed the pork chops? What price bananas? Are you my Angel?
I wandered in and out of the brilliant stacks of cans following you in my imagination by the store detective,
We strode down the open corridors together in our solitary fancy tasting artichokes, possessing every frozen delicacy, and never passing the cashier.
Where are we going, Walt Whitman? The doors close in an hour. Which way does your beard point tonight?
(I touch your book and dream of your odyssey in the supermarket and feel absurd.)
Will we walk all nightthrough solitary streets? The trees add shade, lights out in the houses, we´ll both be lonely.
Will we stroll dreaming of the lost America of love past blue automobiles in driveways, home to our silent cottage?
Ah, dear father, graybeard, lonely old courage teacher, what America did you have when Charon quit poling his ferry and you got on a smoking bank and stood watching the boat disappear on the black waters of the Lethe?
Eis também «Flora do Supermercado», de Jacob Lawrence, «Retrato de Walt Whitman», de Thomas Eakins e «A Casita na Neve», de Camille Pissarro.
2 Comments:
At 4:44 PM, Jansenista said…
Whitman, Ginsberg, Eakins, Pissarro: um verdadeiro choque glicémico!
At 8:16 PM, Paulo Cunha Porto said…
Hihihihihihi! Estas "overdoses" não são nocivas, ao menos...
Ab.
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