Leitura Matinal -314
Há dias era do desejo da recordação após a morte que se falava.
Porque tudo tem deve e haver, hoje refere-se a dor de certas memorizações dos finados. Aquela que está presente quando usamos o mecanismo da recordação, não para honrar ou orar, amar ou atentar no exemplo, mas para que seja a protecção Deles a resolver os problemas que os vivos criaram e só a eles compete solucionar, nem que seja o da solidão,
ao pedinchar-Lhes a palavra que alivie. Não pensamos, pobres egoístas, que a mesmíssima infracção ao silêncio que seria a nossa consolação, pode para eles ser tormento impossível de ultrapassar, porque impotentes para proferirem o som que nos desse e Lhes desse essa satisfação, encerrados na fortaleza de que se não podem evadir, a da contemplação das evoluções e involuções dos
sobrevivos, à qual foi interdita a interferência verbal. Neste sentido a sua invocação pela memória, aquela que forjamos, será agitação que lhes acarrete o sofrimento. Mas, por outro lado, ninguém nos diz que as exortações a que tentemos deixar de distinguir as cores que se percepcionam com um grau de luminosidade esbatida, não correspondem, também, a um sentimento pouco generoso de quem julga viver por cá - o de não nos icomodarmos com rememorações susceptíveis de abrandar o ritmo das nossas piores marchas...
De Boris A. Novak, traduzido por
Casimiro de Brito:
A SUDESTE DA MEMÓRIA
(pequena balada)
É terrível quando um vivo chama
um morto com a força da memória
e espera da testemunha muda
que o vazio comece a falar,
o silêncio sagrado da festa
que ressoa no ar invernal.
Estreita é a lucarna póstuma:
deixa os mortos na penumbra!
Seja como for para os mortos
a palavra é a sua dor:
contemplam em silêncio os rebentos
a sudeste da memória.
O cofre de sonhos, tal um segredo,
fecha-se aos passos do estranho:
A paz é o seu vale:
deixa os mortos na penumbra!
Chama antes as vivas colinas,
chama-te a ti com voz do filho,
chama a manhã, o amanhã e as aves!
Quem sabe da brancura que passsa
através do sangue dos crimes?
Quem és tu, que julgas a papoila
em que todo o sangue se transforma?
Deixa os mortos na penumbra!
Bem profunda é a claridade.
A forma, como nas nuvens
oculta a verdade - falsa memória.
Deixa os mortos na penumbra!
Ensombrado por «Cemitério», de Vasily Polenov,
«Recordar», de David Loeb e «Penumbra», de
Glenn Badham.
Porque tudo tem deve e haver, hoje refere-se a dor de certas memorizações dos finados. Aquela que está presente quando usamos o mecanismo da recordação, não para honrar ou orar, amar ou atentar no exemplo, mas para que seja a protecção Deles a resolver os problemas que os vivos criaram e só a eles compete solucionar, nem que seja o da solidão,
ao pedinchar-Lhes a palavra que alivie. Não pensamos, pobres egoístas, que a mesmíssima infracção ao silêncio que seria a nossa consolação, pode para eles ser tormento impossível de ultrapassar, porque impotentes para proferirem o som que nos desse e Lhes desse essa satisfação, encerrados na fortaleza de que se não podem evadir, a da contemplação das evoluções e involuções dos
sobrevivos, à qual foi interdita a interferência verbal. Neste sentido a sua invocação pela memória, aquela que forjamos, será agitação que lhes acarrete o sofrimento. Mas, por outro lado, ninguém nos diz que as exortações a que tentemos deixar de distinguir as cores que se percepcionam com um grau de luminosidade esbatida, não correspondem, também, a um sentimento pouco generoso de quem julga viver por cá - o de não nos icomodarmos com rememorações susceptíveis de abrandar o ritmo das nossas piores marchas...
De Boris A. Novak, traduzido por
Casimiro de Brito:
A SUDESTE DA MEMÓRIA
(pequena balada)
É terrível quando um vivo chama
um morto com a força da memória
e espera da testemunha muda
que o vazio comece a falar,
o silêncio sagrado da festa
que ressoa no ar invernal.
Estreita é a lucarna póstuma:
deixa os mortos na penumbra!
Seja como for para os mortos
a palavra é a sua dor:
contemplam em silêncio os rebentos
a sudeste da memória.
O cofre de sonhos, tal um segredo,
fecha-se aos passos do estranho:
A paz é o seu vale:
deixa os mortos na penumbra!
Chama antes as vivas colinas,
chama-te a ti com voz do filho,
chama a manhã, o amanhã e as aves!
Quem sabe da brancura que passsa
através do sangue dos crimes?
Quem és tu, que julgas a papoila
em que todo o sangue se transforma?
Deixa os mortos na penumbra!
Bem profunda é a claridade.
A forma, como nas nuvens
oculta a verdade - falsa memória.
Deixa os mortos na penumbra!
Ensombrado por «Cemitério», de Vasily Polenov,
«Recordar», de David Loeb e «Penumbra», de
Glenn Badham.
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