Leitura Matinal -287
Da noção do incómodo dos outros, ou pior, da preocupação com a
imagem de perturbação que se teme transmitir nascem mecanismos de defesa formais que, frequentemente, redundam em coisa bastante pior. De tanto conter a expressão da dor, gera-se, por vezes, um hábito que corresponde à pior das perversões - a incapacidade de sentir já alguma coisa. São as falsificações da mente que tentam reagir
contra o falsete que julga identificar. Tentando apartar-se das exteriorizações que crê exageradas e, por isso indignas de estima, depressa cai na atribuição dessa carga a qualquer manifestação de sofrimento, adoptando artificiais bordões linguísticos e trejeitos codificados que evitem trair a interioridade.
Mas o pior está para vir. De tanto se rotinar nessas reacções de bom-tom, é a própria alma que fica engarrafada e pronta a servir, o exagero inverso que remete o que há de humano em qualquer de nós para o limbo da insensibilidade às mais merecedoras das perdas, à negação da própria humanidade. Os exageros da prudência transformam-na noutra coisa - na mineralização do Homem.
De Marc-Ange Graff:
esta
Estação das altitudes
ou lixeira das abstenções
ao trepanar assim
tudo o
que se torna afectação já não tem
sequer
a verdade nem a esperança
das suas lamúrias
já não há muita neve
diz ele
e a sua voz clara nega-lhe o luto.
Espartilhado entre «Esperança», de Scott Cumming,
«Vedrdade», de Jules-Joseph Lefebvre e «Vamos
Parar de Fingir», de Stella Lai.
imagem de perturbação que se teme transmitir nascem mecanismos de defesa formais que, frequentemente, redundam em coisa bastante pior. De tanto conter a expressão da dor, gera-se, por vezes, um hábito que corresponde à pior das perversões - a incapacidade de sentir já alguma coisa. São as falsificações da mente que tentam reagir
contra o falsete que julga identificar. Tentando apartar-se das exteriorizações que crê exageradas e, por isso indignas de estima, depressa cai na atribuição dessa carga a qualquer manifestação de sofrimento, adoptando artificiais bordões linguísticos e trejeitos codificados que evitem trair a interioridade.
Mas o pior está para vir. De tanto se rotinar nessas reacções de bom-tom, é a própria alma que fica engarrafada e pronta a servir, o exagero inverso que remete o que há de humano em qualquer de nós para o limbo da insensibilidade às mais merecedoras das perdas, à negação da própria humanidade. Os exageros da prudência transformam-na noutra coisa - na mineralização do Homem.
De Marc-Ange Graff:
esta
Estação das altitudes
ou lixeira das abstenções
ao trepanar assim
tudo o
que se torna afectação já não tem
sequer
a verdade nem a esperança
das suas lamúrias
já não há muita neve
diz ele
e a sua voz clara nega-lhe o luto.
Espartilhado entre «Esperança», de Scott Cumming,
«Vedrdade», de Jules-Joseph Lefebvre e «Vamos
Parar de Fingir», de Stella Lai.
2 Comments:
At 8:58 PM, Viajante said…
Do controle à indiferença. Do tido por correcto (ainda que visto apenas a partir de si) à frieza dos gestos. Polidez demais, prudência demais, «qualquer» demais já não é virtuoso. E destrói, muito mais do que estrutura. E o de-menos? quase-oposto, por defeito. Mas próximos nos resultados fatais.
Junto-os na armadilha da inautenticidade....
At 10:01 PM, Paulo Cunha Porto said…
Lembrai-Vos da Vossa inquirição sobre a polidez?
Quando se trai a razão que é o respeito, pelo repulsivo, que corresponde à frieza, émeio caminho andado para magoarmos o próximo, com a atitude que deveria servir parra o evitar.
E sempre, uma mentira.
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