Do Poder
Interessantíssimo o artigo que Anselmo Borges, Professor e Sacerdote, publica hoje, também no «DIÁRIO DE NOTÍCIAS», sobre o Poder. Mas, quanto a mim, enferma de um vício antigo. Ao classificar a concepção mais estendida da Omnipotência Divina como «infantil», está o Ilustre Articulista a retomar argumentações teológicas de Antanho que decidiam não poder Deus tudo, por Lhe estar vedado o Mal. O nosso Homem diz que à Divindade está interdito o suicídio - o que é, precisamente, a mesma linha de argumentação. Ora, tudo parte de uma errada e errónea concepção do Poder. Este é passível de ser exercido, ou não; e a opção por uma ou outra das alternativas faz tanto parte da Potência definidora como a outra. A mudança de condição que a escolha do Mal, ou do Fim, pela Divindade, implicaria é puramente acessória, embora, por outro lado, essencial ao Estatuto Dela. Deus pode, quando quiser, deixar de sê-Lo. A nada está Condenado. Mas por, ininterruptamente, poder prescindir da Altíssima Condição que é a Sua e não o fazer, Deus continua. Uma faculdade de opção é uma coisa. O sentido dela é outra. E não podem ser confundidos. Para Esperança de todos nós, Deus pode o Bem e o Mal. Por optar sempre pelo Primeiro, Deus continua a Ser. Mas há que não confundir o que deve constituir objecto de Agradecimento, com o conteúdo de uma ilegítima acusação de impotência.
8 Comments:
At 5:20 PM, Jansenista said…
Deus pode o mal, continuando a ser Deus? Deus pode abdicar definitivamente da omnipotência, continuando a ser Deus?
Mais do que perplexidades sobre paradoxos de omnipotência, de que falei há tempos no Ashram, parece-me estarem aqui em causas verdades analíticas, aquelas que, sendo "por definição", se evaporam com um contra-exemplo (podemos nós admitir um Deus falível e admitir isso na definição que inicialmente inclui a infalibilidade?).
Se houvesse aqui juízos indutivos ou "sintéticos" (para usarmos uma sugestão kantiana) talvez pudéssemos admitir uma mistura mais "sincrética" de atributos, em resultado de um encontro dialéctico de opiniões. Assim não, o intuito doxástico deve transferir-se para um plano meta-teórico, que será quando muito o da legitimidade de pensarmos analiticamente nestes temas (a priori, transcendentalmente, sem qualquer ligação à comprovação empírica). Se o aceitamos (eu tenho as minhas dúvidas humeanas), então temos que admitir verdades apodícticas, a priori, e quem tem razão é o padre...
Retournons à nos moutons (et brebis)...
At 7:42 PM, Paulo Cunha Porto said…
A resposta, Caro Immanueliano, está no advérbio «definitivamente». ninguém pensa em tal contorno, numa abdicação, mas sim na abstenção permanente, sempre com a possibilidade de renúncia, que vai reiterando a Divina Condição, enquanto - ou se - esta última não for exercida.
A omnipotência implica poder degradar-se. Como essa faculdade não foi utilizada, de cada vez que o caso se pudesse pôr, reafirmava-se o Divino. O livre arbítrio é parte da condição humana, mas lá por isso não se queira negá-lo ao Criador.
Mas claro que não se pode pedir nem perder na Humanidade uma comprovação empírica das Escolhas Celestiais, fora da validade da Revelação. Porque seria absurdo pedir que a pequenez nossa conseguisse abarcar a Experiência do Infinito, fora dos limites que por Ele nos são manifestados. O que, já se sabe, está muito longe de se traduzir numa desistência do Conhecimento...
Abraço.
At 7:59 PM, Anonymous said…
Caríssimo Paulo Cunha Porto:
Só lhe queria deixar aqui um "comment" de parabéns pelo seu óptimo blog. Um abraço, e saudações benfiquistas, FTF
At 8:12 PM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigadíssimo, Caro Francisco T. F.. Espero poder beneficiar de mais visitas e comentários Seus.
Abraço
At 12:19 AM, Je maintiendrai said…
Com vénia à erudição, permitam-me comentar que sermões destes só em Avelãs de Cima... Professor de Filosofia? na Universidade da mesma localidade?
At 9:30 AM, Paulo Cunha Porto said…
Um Polo universitário promissor, pelos vistos, esse, de A.de C.
Hihihihihi!
Ab.
At 4:01 PM, Miles said…
Os argumentos do "progressista" Borges são de comédia, do estilo: "Se Deus está em toda a parte, também está no Inferno?", ou "Se Deus tudo pode, pode criar um pedregulho tão grande que nem Ele próprio o consiga segurar?" Enfim...
At 7:22 PM, Paulo Cunha Porto said…
Ora ainda bem que Alguém aparece a desmascarar a falácia, Amigo Sarto. Era aí, precisamente, que eu queria que fosse dar a pobre contestação que tentei empreender.
Grande abraço.
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