Um Suspiro Suplementar
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Doutrinariamente tudo me separava dele. Monárquico e Católico sou, onde Ministro Republicano no exílio e panfletário anti-religioso ele foi. Nos gostos secundários, porém, irmanam-nos muitas atracções. O que me traz à lembrança, transplantada do matrimónio para a relação entre Autor e receptor, uma frase de Kléber Haedens que rezava assim: «é perfeitamente possível a relação em que se difira nas grandes opções de vida, desde que se concorde nos pequenos prazeres da existência». Assim, a atracção, surreal, evidentemente, pelo inexplicável, com algum polido desprezo pela parte da psicanálise que o tenta aprisionar. Gostos similares pelo disfarce consequente e pelas armas de fogo. A ele se deve a melhor explicação que conheço de uma idêntica atitude, rejeitando o whiskey e idolatrando um bom tinto. O seu livro de memórias «O MEU ÚLTIMO SUSPIRO», é do mais conseguido que conheço. E, claro, há o cinema.
Fez o melhor filme do mundo sobre o masoquismo, com uma Deneuve em estado de Graça. Mais do que muitas das obras-primas do período mexicano, prefiro o segundo e final período francês, sendo «ESSE OBSCURO OBJECTO DO DESEJO» uma das fitas a que mais facilmente volto, com um extraordinário Fernando Rey. Tenho aliás, sendo um católico por convicção, com o Alce, como católico educado, o velho projecto de peregrinar a pé, rumo a Santiago de Compostela, na esperança de contactar com o sobrenatural sugerido pelo herético mas apaixonante «VIA LÁCTEA». A sua maior obra foi também tida por ofensiva da Religião, salvo por Franco, que lhe não viu mal maior, o que é eminentemente simpático à minha costela de esteta: falo de «VIRIDIANA», está mesmo a ver-se. A auréola das amizades com Lorca e Dali, à medida que o tempo passa, vai, cada vez mais, aureolando é esses outros Grandes. E, no entanto, se me pedirem para ecolher O filme que prefiro, de toda a extensa obra, que bem conheço, indicaria um por que poucos optam - «O ANJO EXTERMINADOR». Senhoras e Senhores, um dos cinco Realizadores Cinematográficos de que mais gosto, cujo aniversário se celebraria hoje, Luís Buñuel.
Doutrinariamente tudo me separava dele. Monárquico e Católico sou, onde Ministro Republicano no exílio e panfletário anti-religioso ele foi. Nos gostos secundários, porém, irmanam-nos muitas atracções. O que me traz à lembrança, transplantada do matrimónio para a relação entre Autor e receptor, uma frase de Kléber Haedens que rezava assim: «é perfeitamente possível a relação em que se difira nas grandes opções de vida, desde que se concorde nos pequenos prazeres da existência». Assim, a atracção, surreal, evidentemente, pelo inexplicável, com algum polido desprezo pela parte da psicanálise que o tenta aprisionar. Gostos similares pelo disfarce consequente e pelas armas de fogo. A ele se deve a melhor explicação que conheço de uma idêntica atitude, rejeitando o whiskey e idolatrando um bom tinto. O seu livro de memórias «O MEU ÚLTIMO SUSPIRO», é do mais conseguido que conheço. E, claro, há o cinema.
Fez o melhor filme do mundo sobre o masoquismo, com uma Deneuve em estado de Graça. Mais do que muitas das obras-primas do período mexicano, prefiro o segundo e final período francês, sendo «ESSE OBSCURO OBJECTO DO DESEJO» uma das fitas a que mais facilmente volto, com um extraordinário Fernando Rey. Tenho aliás, sendo um católico por convicção, com o Alce, como católico educado, o velho projecto de peregrinar a pé, rumo a Santiago de Compostela, na esperança de contactar com o sobrenatural sugerido pelo herético mas apaixonante «VIA LÁCTEA». A sua maior obra foi também tida por ofensiva da Religião, salvo por Franco, que lhe não viu mal maior, o que é eminentemente simpático à minha costela de esteta: falo de «VIRIDIANA», está mesmo a ver-se. A auréola das amizades com Lorca e Dali, à medida que o tempo passa, vai, cada vez mais, aureolando é esses outros Grandes. E, no entanto, se me pedirem para ecolher O filme que prefiro, de toda a extensa obra, que bem conheço, indicaria um por que poucos optam - «O ANJO EXTERMINADOR». Senhoras e Senhores, um dos cinco Realizadores Cinematográficos de que mais gosto, cujo aniversário se celebraria hoje, Luís Buñuel.
30 Comments:
At 10:41 PM, Anonymous said…
Inteiramente de acordo - e tenho a vantagem de não ser católico, hehehehehe!
At 10:54 PM, Paulo Cunha Porto said…
Grande Eurico! Ainda havemos de limar essa solitária imperfeição...
Hihihihihihi!
Abraço.
At 12:07 AM, Je maintiendrai said…
Bravo!
Lá se vai uma das homenagens programadas no cardápio da casa. Mas, ficou em melhores mãos...
Voto também por "Viridiana" e ... (esqueço-me do título daquela película fabulosa com S. Simão Estilita no topo da coluna...)
At 12:13 AM, Jansenista said…
Bela evocação!
At 1:54 AM, Anonymous said…
Particular respeito pela "Belle de Jour", que vi no Forum Picoas e me deixou estupefacto.
Quanto ao teu catolicismo, a tua perspectiva sobre os prazeres da carne não é a mesma (e muito bem) da Igreja Católica Apostólica Romana.
À luz dos senhores, achas mesmo que eles te consideram católico?
At 7:36 AM, Paulo Cunha Porto said…
Caro Je Maintiendrai:
«SIMÃO DO DESERTO»? É excelente.
Obrigado, Caro Jansenista. O mérito é todo do Buñuel.
Caro Luís: o «melhor filme do mundo sobre o masoquismo» é, evidentemente, a «BELLE...».
Consideram, consideram. A paciência da Santa Madre para com os pecadores é imensa.
E a perspectiva não é tão afastada como pode parecer, apenas um pouco mais... diversifivada, numericamente, sobretudo. Mas sobre isso falarei, um dia, num "post".
At 8:34 AM, Anonymous said…
¿Tristana (1.970)?
At 10:01 AM, Paulo Cunha Porto said…
Também, excelente, uma transfiguradora abordagem de um fetichismo.
Ab.
At 10:11 AM, Flávio Santos said…
Estou banzado!
Nem uma palavra sobre um dos filmes mais abomináveis jamais feitos, "Le Journal d'une Femme de Chambre", onde os sátiros, boçais, lêem a Action Française e dão vivas a Chiappe. É de uma demagogia nojenta.
"El", embora muito bom filme, também vai pelo mesmo caminho em termos ideológicos: o ciumento compulsivo tem um ódio enorme à humanidade e, ao ver as pessoas do alto, só lhe apetece esmagá-las. Só faltou dizer que é fascista.
"Viridiana" é muito bom. "Belle de Jour"´será bom para voyeurs e todos os que gostam de zurzir as taras da burgusia (reflexo marxista).
"O Anjo Exterminador" também é bastante irritante, mais uma digressão sobre os fantasmas da burguesia. Não há pachorra!
O filme mais impressionante de Bunuel, "Los Olvidados", foi passado em claro na tua análise.
Ah. a auto-biografia, independentemente das ideias do autor, é de facto muito boa.
At 10:49 AM, Anonymous said…
Soy ateo, gracias a Dios (Luis Buñuel)
At 10:51 AM, Anonymous said…
Amigo Paulo, te sugiero un post sobre el gran actor galaico/español Fernando Rey
At 10:56 AM, Paulo Cunha Porto said…
Caríssimo: FG Santos:
Sabes, eu, reconhecendo, muito embora, a força de «Los Olvidados», nunca consegui aderir a ele, como adiro aos outros.
A «...CRIADA...», bom, correndo o risco de mimar o João Villalobos, tenciono abordá-la à parte, cotejando-a com a versão de outro grande Realizador, em cumprimento de um desafio da Zazie. E apesar da cenazita maldosa que referes.
Agora, «O Anjo Exterminador é muito mais do que filme de crítica de classe. A festinha burguesa está lá, porque era o terreno ideal para reunir tanta gente num ambiente em que houvesse possibilidade de contender a atenção com o absurdo. É a inexplicabilidade de comportamentos que num momento parecem imperativos e, vistos a frio, incompreensíveis, um dos meus interesses maiores.
Abração.
At 10:58 AM, Paulo Cunha Porto said…
Caro Amigo de Espanha:
a ver vamos se consigo, um dia destes, fazer um "post" sobre esse Grande Actor e, já agora, sobre a famosa frase do Buñuel.
Ab.
At 12:13 PM, João Villalobos said…
Mima-me, mima-me! ;)
P.S. O almoço amanhã está combinado.
At 12:15 PM, Paulo Cunha Porto said…
O.K., ao meio-dia, entonces na Camp.
Ab.
At 12:22 PM, o engenheiro said…
Paulo
Sem desmerecer a tua escolha, não coloco Lorca e o seu jovem amante no mesmo plano que Buñuel. É um realizador pouco constante, com o melhor e o pior, a que subjaz em coerência essencialmente o carácter caricatural da burguesia.
Como Arrabal, usa a violência em termos panfletários e gratuitos (por vezes, quase à P3), cedendo à tentação do politicamente correcto do mainstream cultural.
Por aquelas deambulações do destino, convivi nos E.U.A., durante alguns anos com a sua sobrinha Maria, casada com um galego filocomunista, ambos visitas de minha casa. Pude, por isso, reforçar a simpatia limitada que tinha por parte da sua obra (embora a totalidade seja sempre o testamento), sobretudo pela evolução política que, em segunda mão, colhi sobre o seu posicionamento face à Guerra Civil Espanhola, suas causas e consequências.
Belle de Jour e Viridiana dizem-me algo, a mim que sou católico, gracias a Dios!
At 12:35 PM, Anonymous said…
Fernando Rey, el actor preferido del critico cinematografico luso- español Fernando Mendez Leite
At 12:52 PM, Anonymous said…
Buñuel, tremendismo carpetovetonico.....
At 1:35 PM, Anonymous said…
Material para el guion de una pelicula: la convivencia entre el sobrio/serio Fernando Rey y el galán venezuelano/vivalavirgen Espartaco Santoni, rodando un filme en la Rias Bajas Pontevedresas....
At 1:42 PM, João Villalobos said…
Como talvez te recordes, aquilo só abre mais perto da uma. E a essa hora ainda estou a digerir a bolacha do pequeno-alomoço. Combinemos antes às 12.30 e tomamos um aperitivo ao lado. Abraço
At 1:49 PM, Anonymous said…
Los portugueses se están "españolizando"....ya hasta van de "tapas".....
At 5:11 PM, Anonymous said…
Peliculas prohibidas en la epoca de Franco: Viridiana, La dolce vita, La naranja mecanica, El ultimo tango en Paris, El gran dictador, La guerre est fini, Morir en Madrid, Por quien doblan las campanas, Y llegó el dia de la venganza(Pale horse), La espoir (Sierra de Teruel), El Decameron
At 5:12 PM, Anonymous said…
El gran Berlanga: Bienvenido Mr. Marshall, La escopeta nacional, El verdugo, Placido.....
At 7:12 PM, Anonymous said…
Caro Paulo,
são justas as referências ao Buñuel. Neste assunto,como em outros,as nossas preferências coincidem. Talvez a minha predilecção não vá(tanto)para "Belle de jour".
Quanto à nossa peregrinação a pé a Santiago, não está esquecida. Continua, portanto, de pé.
At 7:36 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro João:
Tinha-me esquecido dessas dificuldades de arranque. Seja então como dizes, às 12.30H.
Alce: Óptimo, já tenho o meu chapéu de romeiro...
Caro Cinéfilo Espanhol:
Interessante, a lista. E compreensível, em função das preocupações predominantes na época. Mascreio saber, como indico no "post" que a interdição de «VIRIDIANa» passou ao lado da vontade do Caudilho...
Caro Engenheiro:
Desacordo completo. Acho que constância nunca lhe faltou, mesmo nos filmes de que gosto menos a intencionalidade e a arte são óbvias. Quanto à crítica à burguesia, o universo buñueliano transcende-a, em muito. Claro que está lá, mas creio que só se continua a pô-la à frente de coisas muito mais importantes e pertencentes a toda a Espécie, por causa do título nada discreto de um dos filmes.
At 7:41 PM, Anonymous said…
Amigos Cunha Porto y De Barros: ¿Qué peliculas estaban "banidas" en el Portugal del Dr. Oliveira Salazar?
At 8:08 PM, Paulo Cunha Porto said…
Caro Amigo, assim de repente... talvez o Eurico tenha uma lista à mão.
Mas a seguir à mudança de regime era "chic" perguntar se já se tinha ido ver «O Último Tango...», que foi, para uma certa classe o símbolo das fitas a que, desde aí, se podia aceder.
At 10:36 PM, Anonymous said…
Entonces...¿El ultimo tango se estrenó en Portugal en 1972?
At 12:23 AM, João Villalobos said…
72? A nossa revolução foi em 1974, ó hermano ;)
At 5:47 AM, Anonymous said…
Ergo ....estuvo "banida" dos años......
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