Leitura Arrastada, de Matinal Que se Quis -258
Sobreviver na memória dos que foram próximos é a derradeira esperança de todos os que viram fracassar o ideal de glória,
como dos que nunca o alimentaram. Porque não há maneira mais fácil de conceber a imortalidade e o sentido, embora também não exista uma mais difícil de alcançar, do que permanecer na recordação dos sobrevivos. Qualquer extensão do nosso tempo de vida, pela rememoração do nome que usámos, como, enquanto viventes, a lembrança dele pelos que partilharam a snossas órbitas; constituem a maneira que julgamos mais segura de opor algo
ao vácuo que a conta das nossas vidas sugere. Aí contentamo-nos com bem pouco. Não voltamos já as antenas das nossas ambições para o reconhecimento de prestígios que sabemos sem correspondência duradoura, ou para a retribuição dos sentimentos demasiado interessados não tão que fomos, socialmente, testemunhando. Basta a pálida ideia de um significado desperto pela associação que se faça a partir do nome que nos individualizou. Pois nas baixíssimas expectativas em que derrocámos é esse o único varão salvador a que nos podemos agarrar, na marcha sem regresso, em direcção ao zero absoluto. Se já não colhe a ilusão de a pó não tornar, faz-se subsistir ainda uma nesga que permite crer não voltar apenas a essa poeira. Que afinal é também a de qualquer biografia, sempre que se põe à frente do dar o receber. Substituindo o carinho real pelo virtual.
De Soares de Passos
Um nome é uma lembrança: neste mundo
De que servem lembranças e memórias?
Tudo se esvai no pélago profundo
Que sorve gerações, vidas e glórias.
Tudo se esvai na tumba regelada,
Tudo morre, afinal tudo se esquece,
E após o esquecimento resta o nada,
Como os espaços onde um som fenece.
Busquemos, já que tudo se consome,
Busquemos à memória um doce abrigo:
Eu só quisera soletrar meu nome
Gravado em mais dum coração amigo.
Com gravura «In Memoriam» de RGF e
«O Dia sem Nome», de Sara Douglass.
como dos que nunca o alimentaram. Porque não há maneira mais fácil de conceber a imortalidade e o sentido, embora também não exista uma mais difícil de alcançar, do que permanecer na recordação dos sobrevivos. Qualquer extensão do nosso tempo de vida, pela rememoração do nome que usámos, como, enquanto viventes, a lembrança dele pelos que partilharam a snossas órbitas; constituem a maneira que julgamos mais segura de opor algo
ao vácuo que a conta das nossas vidas sugere. Aí contentamo-nos com bem pouco. Não voltamos já as antenas das nossas ambições para o reconhecimento de prestígios que sabemos sem correspondência duradoura, ou para a retribuição dos sentimentos demasiado interessados não tão que fomos, socialmente, testemunhando. Basta a pálida ideia de um significado desperto pela associação que se faça a partir do nome que nos individualizou. Pois nas baixíssimas expectativas em que derrocámos é esse o único varão salvador a que nos podemos agarrar, na marcha sem regresso, em direcção ao zero absoluto. Se já não colhe a ilusão de a pó não tornar, faz-se subsistir ainda uma nesga que permite crer não voltar apenas a essa poeira. Que afinal é também a de qualquer biografia, sempre que se põe à frente do dar o receber. Substituindo o carinho real pelo virtual.
De Soares de Passos
Um nome é uma lembrança: neste mundo
De que servem lembranças e memórias?
Tudo se esvai no pélago profundo
Que sorve gerações, vidas e glórias.
Tudo se esvai na tumba regelada,
Tudo morre, afinal tudo se esquece,
E após o esquecimento resta o nada,
Como os espaços onde um som fenece.
Busquemos, já que tudo se consome,
Busquemos à memória um doce abrigo:
Eu só quisera soletrar meu nome
Gravado em mais dum coração amigo.
Com gravura «In Memoriam» de RGF e
«O Dia sem Nome», de Sara Douglass.
3 Comments:
At 8:10 PM, Anonymous said…
El profesor Cavaco Silva....¿Continuador de la obra que inició el fallecido Sa Carneiro?
At 8:58 PM, Anonymous said…
Como dice la cancion de los años 70 de Julio Iglesias "La vida sigue igual"....Y al final, las obras quedan las gentes se van....otros que vienen las continuarán....¡La vida sigue igual....!
At 9:22 PM, Paulo Cunha Porto said…
Foi Ministro, Dele, Caro Amigo. Mas se a Sua observação se refere à ideia de «uma maioria, um governo, um presidente», só se poderá responder afirmativamente no sentido de que, desgraçadamente, os políticos do chamado "Arco Constitucional" português são demasiado próximos uns dos outros...
Pois segue. Mas cada homem quer sempre, no seu íntimo, ser uma excepção.
Grande Abraço.
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