O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Saturday, February 18, 2006

A Nação dos Nacionalismos

O Jansenista - de cuja escrita e preocupações gosto cada vez mais - veio dizer-nos por que razão não era nacionalista. Estriba-se na proclamação nietzsheana da morte de Deus e na previsão do mesmo pensador originária, segundo a qual, faltos Desse Referencial Aglutinador, os homens dariam livre vazão aos seus egoísmos, extremados e fortificados por cumplicidades de propagandas "nacionalistas". O Je Maintiendrai, em comentário, louva o texto, belíssimo, aliás, desafiando a tertúlia para debater o tema. Como estou aqui para falar do que sei e do que ignoro, não me furtarei. Aí vai.
Participei, não há muito tempo, em dois grupos devorantes que agrupavam membros que se diziam nacionalistas. Num e noutro havia matizes vários, que se traduziam em diferenças incontornáveis. Mas em um e outro encontrei auto-proclamados nacionalistas que perfilhavam princípios muito próximos dos que me atrevo a eleger. Num dos referidos grupos, a par dos que se assumiam como tais, Um existia, Espírito brilhantíssimo, por sinal, que se dizia «pós-nacionalista; e outro, sem fulgor algum, este pobre alinhador de palavreado, o qual tendo em vista as produções ideológicas da Revolução Francesa, sempre se declarou "pré-nacionalista". O que não impedia a identidade de valores com os acima referidos Arautos da Nação.
Quanto a mim, o nacionalismo será o que se quiser fazer dele. Poderá ser factor gregário e é nesse sentido que o nosso Engenhoso Amigo o entende. Ou poderá privilegiar a exclusão, como Outros preferem. Tudo por duas ordens de razões: as da identidade da Nação a que refere e as das expressões grupais que traduza. Começando pela segunda, o problema maior de vários nacionalismos políticos está em as associaçoes que os invocam não conseguirem, jamais, reunir o pleno nacional que ambicionariam. E de desilusão em despromoção, acabam por ir restringindo as realidades colectivas que representam. Às tantas, o que queria ser uma imagem do Todo não espelha mais do que um partido, uma sociedade secreta, ou um clube de reflexão, sempre em vias de cisões e fragmentações. Já a primeira fia mais fino, e diz respeito à eleição do objecto da defesa que empreendem. Quem eram os nacionalistas no ImpérioÁustro-Húngaro? Os que defendiam a grande Pátria da Monarquia Dual, com todos os ingredientes que a compunham, ou os irredentistas sérvios que deram cabo dela? E quem eram os nacionalistas no pan-germanismo, ou na Unificação Italiana? Os que pretendiam ver as nações nos diversos estados existentes, ou os que a defendiam referida a uma ideia a estabelecer. A resposta é... os que ganharam, pois em tabuleiros de xadrez semelhantes, o pan-eslavismo, ou o pan-helenismo da antiguidade, costumamos atribuir o título aos que pugnaram pelas fracções da idealização, tendo triunfado. no primeiro caso, e vencido culturalmente, no segundo, em função do «semi-barbarismo» colado aos macedónios.
Concordo com a aspiração do Nosso Amigo a Um Superior Critério de Coexistência e Coompreensão. Deus, certamente, Mas, num plano mais imediato, a Coroa. Gosto muito de um Grande Escritor que era várias coisas que não sou: Joseph Roth, um judeu, simpatizante da social-democracia; mas que se afirmou numa outra condição que compartilho, a de monárquico, defensor dos Habsburgos como o grande Factor Institucional de Paz e Entendimento entre os vários Povos e Culturas do Império. Leiam-lhe «A MARCHA DE RADETSZKI» . Mas corram os olhos, igualmente, pelo conto «O BUSTO DO IMPERADOR». Deixo-Vos as palavras que, perto do fim, põe na boca de uma das personagens, o Conde Morstin: «Pude constatar que as pessoas inteligentes se podem tornar estúpidas; os sábios, loucos; os verdadeiros profetas, mentirosos; os amantes da verdade, falsos. Nenhuma virtude humana tem consistência nesta vida, excepto uma única: a verdadeira religião. A fé não nos pode desiludir, porque não nos promete nada desta terra. O verdadeiro crente não nos desilude, porque não procura vantagens na terra. Transposto para a vida dos povos, isto significa que é em vão que se procuram as pretensas virtudes nacionais, mais incertas ainda que as individuais. Por isso odeio nações e estados nacionais. Só a minha velha pátria, a Monarquia, era uma grande casa com muitas portas e muitos quartos, para muitas espécies de pessoas. Dividiram a casa, fenderam-na, fizeram-na em ruínas. Já nada tenho a ver com ela. Estou habituado a viver numa casa, e não em compartimentos».
E tenho notícia de que, noutra obra, «A CRIPTA DOS CAPUCHOS», Roth escreveu: «A Áustria imperial não é um Estado, não é uma Pátria, não é uma nação, é uma religião». Religião que seria o inverso dos exclusivismos e iria ao encontro da própria definição, universalista, que o nome «Catolicismo» encerra. Por isso, Caro Jansenista, Lhe deixo a luva do desafio que é a da amizade e a da admiração: declare-se pelo Rei. Sem partidarizar-se, sem transigir. Mas seja coerente com o que, no belíssimo post com que nos brindou, defendeu. Porque ambos detestaríamos ver as nossas efígies quadrarem no diagnóstico do velho Friedrich. Coragem!

2 Comments:

  • At 9:27 PM, Blogger Jansenista said…

    Obrigado pela inspirada réplica! Por muito extensa, escrevi a tréplica lá no Ashram. Eu, monárquico? Shocking!

     
  • At 10:01 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    O.K., vou já para Lá. Mas não me censure por tentar.
    Ab.

     

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