A Nação dos Nacionalismos
O Jansenista - de cuja escrita e preocupações gosto cada vez mais - veio dizer-nos por que razão não era nacionalista. Estriba-se na proclamação nietzsheana da morte de Deus e na previsão do mesmo pensador originária, segundo a qual, faltos Desse Referencial Aglutinador, os homens dariam livre vazão aos seus egoísmos, extremados e fortificados por cumplicidades de propagandas "nacionalistas". O Je Maintiendrai, em comentário, louva o texto, belíssimo, aliás, desafiando a tertúlia para debater o tema. Como estou aqui para falar do que sei e do que ignoro, não me furtarei. Aí vai.
Participei, não há muito tempo, em dois grupos devorantes que agrupavam membros que se diziam nacionalistas. Num e noutro havia matizes vários, que se traduziam em diferenças incontornáveis. Mas em um e outro encontrei auto-proclamados nacionalistas que perfilhavam princípios muito próximos dos que me atrevo a eleger. Num dos referidos grupos, a par dos que se assumiam como tais, Um existia, Espírito brilhantíssimo, por sinal, que se dizia «pós-nacionalista; e outro, sem fulgor algum, este pobre alinhador de palavreado, o qual tendo em vista as produções ideológicas da Revolução Francesa, sempre se declarou "pré-nacionalista". O que não impedia a identidade de valores com os acima referidos Arautos da Nação.
Quanto a mim, o nacionalismo será o que se quiser fazer dele. Poderá ser factor gregário e é nesse sentido que o nosso Engenhoso Amigo o entende. Ou poderá privilegiar a exclusão, como Outros preferem. Tudo por duas ordens de razões: as da identidade da Nação a que refere e as das expressões grupais que traduza. Começando pela segunda, o problema maior de vários nacionalismos políticos está em as associaçoes que os invocam não conseguirem, jamais, reunir o pleno nacional que ambicionariam. E de desilusão em despromoção, acabam por ir restringindo as realidades colectivas que representam. Às tantas, o que queria ser uma imagem do Todo não espelha mais do que um partido, uma sociedade secreta, ou um clube de reflexão, sempre em vias de cisões e fragmentações. Já a primeira fia mais fino, e diz respeito à eleição do objecto da defesa que empreendem. Quem eram os nacionalistas no ImpérioÁustro-Húngaro? Os que defendiam a grande Pátria da Monarquia Dual, com todos os ingredientes que a compunham, ou os irredentistas sérvios que deram cabo dela? E quem eram os nacionalistas no pan-germanismo, ou na Unificação Italiana? Os que pretendiam ver as nações nos diversos estados existentes, ou os que a defendiam referida a uma ideia a estabelecer. A resposta é... os que ganharam, pois em tabuleiros de xadrez semelhantes, o pan-eslavismo, ou o pan-helenismo da antiguidade, costumamos atribuir o título aos que pugnaram pelas fracções da idealização, tendo triunfado. no primeiro caso, e vencido culturalmente, no segundo, em função do «semi-barbarismo» colado aos macedónios.
Concordo com a aspiração do Nosso Amigo a Um Superior Critério de Coexistência e Coompreensão. Deus, certamente, Mas, num plano mais imediato, a Coroa. Gosto muito de um Grande Escritor que era várias coisas que não sou: Joseph Roth, um judeu, simpatizante da social-democracia; mas que se afirmou numa outra condição que compartilho, a de monárquico, defensor dos Habsburgos como o grande Factor Institucional de Paz e Entendimento entre os vários Povos e Culturas do Império. Leiam-lhe «A MARCHA DE RADETSZKI» . Mas corram os olhos, igualmente, pelo conto «O BUSTO DO IMPERADOR». Deixo-Vos as palavras que, perto do fim, põe na boca de uma das personagens, o Conde Morstin: «Pude constatar que as pessoas inteligentes se podem tornar estúpidas; os sábios, loucos; os verdadeiros profetas, mentirosos; os amantes da verdade, falsos. Nenhuma virtude humana tem consistência nesta vida, excepto uma única: a verdadeira religião. A fé não nos pode desiludir, porque não nos promete nada desta terra. O verdadeiro crente não nos desilude, porque não procura vantagens na terra. Transposto para a vida dos povos, isto significa que é em vão que se procuram as pretensas virtudes nacionais, mais incertas ainda que as individuais. Por isso odeio nações e estados nacionais. Só a minha velha pátria, a Monarquia, era uma grande casa com muitas portas e muitos quartos, para muitas espécies de pessoas. Dividiram a casa, fenderam-na, fizeram-na em ruínas. Já nada tenho a ver com ela. Estou habituado a viver numa casa, e não em compartimentos».
E tenho notícia de que, noutra obra, «A CRIPTA DOS CAPUCHOS», Roth escreveu: «A Áustria imperial não é um Estado, não é uma Pátria, não é uma nação, é uma religião». Religião que seria o inverso dos exclusivismos e iria ao encontro da própria definição, universalista, que o nome «Catolicismo» encerra. Por isso, Caro Jansenista, Lhe deixo a luva do desafio que é a da amizade e a da admiração: declare-se pelo Rei. Sem partidarizar-se, sem transigir. Mas seja coerente com o que, no belíssimo post com que nos brindou, defendeu. Porque ambos detestaríamos ver as nossas efígies quadrarem no diagnóstico do velho Friedrich. Coragem!
Participei, não há muito tempo, em dois grupos devorantes que agrupavam membros que se diziam nacionalistas. Num e noutro havia matizes vários, que se traduziam em diferenças incontornáveis. Mas em um e outro encontrei auto-proclamados nacionalistas que perfilhavam princípios muito próximos dos que me atrevo a eleger. Num dos referidos grupos, a par dos que se assumiam como tais, Um existia, Espírito brilhantíssimo, por sinal, que se dizia «pós-nacionalista; e outro, sem fulgor algum, este pobre alinhador de palavreado, o qual tendo em vista as produções ideológicas da Revolução Francesa, sempre se declarou "pré-nacionalista". O que não impedia a identidade de valores com os acima referidos Arautos da Nação.
Quanto a mim, o nacionalismo será o que se quiser fazer dele. Poderá ser factor gregário e é nesse sentido que o nosso Engenhoso Amigo o entende. Ou poderá privilegiar a exclusão, como Outros preferem. Tudo por duas ordens de razões: as da identidade da Nação a que refere e as das expressões grupais que traduza. Começando pela segunda, o problema maior de vários nacionalismos políticos está em as associaçoes que os invocam não conseguirem, jamais, reunir o pleno nacional que ambicionariam. E de desilusão em despromoção, acabam por ir restringindo as realidades colectivas que representam. Às tantas, o que queria ser uma imagem do Todo não espelha mais do que um partido, uma sociedade secreta, ou um clube de reflexão, sempre em vias de cisões e fragmentações. Já a primeira fia mais fino, e diz respeito à eleição do objecto da defesa que empreendem. Quem eram os nacionalistas no ImpérioÁustro-Húngaro? Os que defendiam a grande Pátria da Monarquia Dual, com todos os ingredientes que a compunham, ou os irredentistas sérvios que deram cabo dela? E quem eram os nacionalistas no pan-germanismo, ou na Unificação Italiana? Os que pretendiam ver as nações nos diversos estados existentes, ou os que a defendiam referida a uma ideia a estabelecer. A resposta é... os que ganharam, pois em tabuleiros de xadrez semelhantes, o pan-eslavismo, ou o pan-helenismo da antiguidade, costumamos atribuir o título aos que pugnaram pelas fracções da idealização, tendo triunfado. no primeiro caso, e vencido culturalmente, no segundo, em função do «semi-barbarismo» colado aos macedónios.
Concordo com a aspiração do Nosso Amigo a Um Superior Critério de Coexistência e Coompreensão. Deus, certamente, Mas, num plano mais imediato, a Coroa. Gosto muito de um Grande Escritor que era várias coisas que não sou: Joseph Roth, um judeu, simpatizante da social-democracia; mas que se afirmou numa outra condição que compartilho, a de monárquico, defensor dos Habsburgos como o grande Factor Institucional de Paz e Entendimento entre os vários Povos e Culturas do Império. Leiam-lhe «A MARCHA DE RADETSZKI» . Mas corram os olhos, igualmente, pelo conto «O BUSTO DO IMPERADOR». Deixo-Vos as palavras que, perto do fim, põe na boca de uma das personagens, o Conde Morstin: «Pude constatar que as pessoas inteligentes se podem tornar estúpidas; os sábios, loucos; os verdadeiros profetas, mentirosos; os amantes da verdade, falsos. Nenhuma virtude humana tem consistência nesta vida, excepto uma única: a verdadeira religião. A fé não nos pode desiludir, porque não nos promete nada desta terra. O verdadeiro crente não nos desilude, porque não procura vantagens na terra. Transposto para a vida dos povos, isto significa que é em vão que se procuram as pretensas virtudes nacionais, mais incertas ainda que as individuais. Por isso odeio nações e estados nacionais. Só a minha velha pátria, a Monarquia, era uma grande casa com muitas portas e muitos quartos, para muitas espécies de pessoas. Dividiram a casa, fenderam-na, fizeram-na em ruínas. Já nada tenho a ver com ela. Estou habituado a viver numa casa, e não em compartimentos».
E tenho notícia de que, noutra obra, «A CRIPTA DOS CAPUCHOS», Roth escreveu: «A Áustria imperial não é um Estado, não é uma Pátria, não é uma nação, é uma religião». Religião que seria o inverso dos exclusivismos e iria ao encontro da própria definição, universalista, que o nome «Catolicismo» encerra. Por isso, Caro Jansenista, Lhe deixo a luva do desafio que é a da amizade e a da admiração: declare-se pelo Rei. Sem partidarizar-se, sem transigir. Mas seja coerente com o que, no belíssimo post com que nos brindou, defendeu. Porque ambos detestaríamos ver as nossas efígies quadrarem no diagnóstico do velho Friedrich. Coragem!
2 Comments:
At 9:27 PM, Jansenista said…
Obrigado pela inspirada réplica! Por muito extensa, escrevi a tréplica lá no Ashram. Eu, monárquico? Shocking!
At 10:01 PM, Paulo Cunha Porto said…
O.K., vou já para Lá. Mas não me censure por tentar.
Ab.
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