A Força das Imagens
Não é o ingénuo pessimismo de acreditar que o que os outros possam dizer de nós será, forçosamente, mal. As reacções que a publicação de cartoons sobre Maomé na imprensa dinamarquesa e norueguesa está a levantar, mesmo a nível oficial, entre os Países Árabes menos anti-ocidentais, como a Arábia Saudita e o Egipto, repousa na própria reprovação da representação do Profeta por imagens. Com efeito, a cabeça do Fundador do Islão com uma bomba em lugar da cabeça ou a sua representação como guerrilheiro, ou suicida, por si só, não daria ensejo a tanta má vontade, já que o explosivo engenho e a vocação mencionada até desfrutam de razoável prestígio nos dias que correm. O problema reside na representação plástica do Arauto do Maometismo, proibida antes para impedir a idolatria, proscrita hoje para afastar a profanação. Que é encontrável numa qualquer brincadeira inocente, que vê a inocência negada por ser brincadeira. Enquanto não perceber isto o Ocidente herdeiro do Cristianismo não perceberá coisa alguma. O Judaísmo, que com ele compartilha a cultura e o culto do humor, já se apercebeu da diferença. Mas claro, por muito americanizada que esteja, trata-se de uma Cultura que também encontra a sua fonte na interdição das imagens. Facto que, paradoxalmente, faz com que não coincidam entendimento e compreensão.
2 Comments:
At 10:05 AM, Flávio Santos said…
Por isso é que alguns autores falam com desdém do cubismo como "arte de judeus".
At 10:09 AM, Paulo Cunha Porto said…
e do abstraccionismo, em geral. Justamente.
Ab.
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