Prefácio da Baixeza
Deve-se ao notável Duas Cidades publicação da intervenção parlamentar do Grande H. Barrilaro Ruas, que ainda tive a Honra de conhecer pessoalmente, onde é aflorado o ideário dos revoltosos republicanos de 31 de janeiro de 1891. Na véspera de uma Tragédia maior, cumpre fazer uma breve referência ao que foi a fonte de juventude de um credo que se arrastava colado à borda das calças do Henriques Nogueira, sem que alguém lhe ligasse a mínima. Cavalgou alegremente o equídeo odiado que foi a imagem do "ultimato inglês" do ano anterior para estender o seu prestígio a uma multidão de mestres-escola, médicos paroquiais e farmacêuticos de província que tinham sobre os seus influídos a vantagem de tomo de uma vaga noção de onde ficava África. O movimento, propriamente dito, foi o costume português. Umas quantas unidades que foram ocupar a Câmara Municipal do Porto, à espera de serem cercadas. Foram-no. Mas o movimento falhou por acaso, como 19 anos mais tarde triunfaria na Rotunda pela mesma razão: o grau de teimosia de quem estava circunscrito. Em 1891 era inferior ao dos empreendedores do cerco. Em 5 de Outubro de 1910, pela tenacidade do Comissário Naval Machado Santos, que toda a vida quis coisa diferente da que originou e por isso foi repugnantemente assassinado na Noite Sangrenta, teve melhor sorte. Que foi o azar de todos nós. Mas o Portugal contemporâneo sempre foi assim. Na infausta tentativa de complementar a Monarquia do Norte, implantada por Pava Couceiro, as forças monárquicas comandadas por Azevedo Coutinho e Aires de Ornelas foram, no pós-sidonismo, tranquilamente, acampar para Monsanto aguardando que as cercassem. No 25 de Abril de 1974 Marcello Caetano deu idêntico brinde, refugiando-se no Carmo. A história das revoltas políticas em Portugal está assombrada pelo vulto dos militares e pela ausência de correspondência entre a fé doutrinária e a competência golpista, que, sem a primeira, qualquer coronel centro-americano poderia leccionar. Nos acasos do Acaso reside a nossa tragédia maior. Mas isso é pecha de quem não soube manter, após o miguelismo, o enraizamento do Portugal tradicionalista capaz de resistir às sereias do tempo. Que culmina em encarar como curiosidade histórica a fé dos maiores que urge ressuscitar. Essa é a nossa tarefa. Mas só saberemos se delas somos capazes no fim. O que se pode aconselhar é: resistir, qualquer que pareça ser a força do cerco. Quem tiver mais vontade, que não abunda no nosso País, vence.
2 Comments:
At 6:22 PM, JSM said…
Pois é, pois é, o 'enraizamento'...
ou o seu contrário, para dizer a mesma coisa.
O corte na transmissão... nós falamos disso nos nossos textos. Alguém percebe a importância dessa palavra-ideia-sentimento...?
Vamos continuar a resistir, ou seja, a transmitir. É a nossa missão.
Um abraço.
At 8:14 PM, Paulo Cunha Porto said…
Caríssimo JSM:
Tudo ficar ao sabor de um golpe de sorte, da maior ou menor habiliidade de um "coup", revela tanto da fragilidade de um País...
Quereria que as ideias fossem baluartes contra as mediocridades dos homens. Não são. Nas mais das vezes funcionam para corroborar pequenas ambições e opções erróneas. Mas não atribuo o facto à educação medíocre. A educação tida como crescente tem falhado, tanto quanto a erudição tem cortado a força de reacção. Qual o caminho? Não sei, mas, por dever para com os nossos Maiores e para com o nosso Rei, vou continuando a deixar notícia dos nossos Artigos de Fé.
Abraço.
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