Leitura Matinal -270
Seria bom que o Homem se harmonizasse com a Natureza, em razão do respeito que lhe pudesse inspirar uma Obra
da Suprema Arte, que torna desprovida de significado antagónico a concepção que diz ser o labor do artista imitação do natural. É combatendo duas tendências extremas, a que vê tudo em volta como utensílios potenciais, desprovidos da dignidade que incita à convivência e preservação, como o nefasto panteismo que pretende a sujeição esmagadora em nome de falsas moradas, que se pode chegar ao princípio mais são - o do lugar devido a manifestações várias da Obra Divina, sejam as plantas, os animais, as pedras, ou a própria Humanidade.
É na mitologia que podemos encontrar o símbolo do que queremos, em Pan, antes de ser demonizado. No sentido de agir sobre a nossa consciência, incutindo-nos a ideia de que cada elemento vivo ou aparentemente inanimado da paisagem tem um espírito próprio que conviria não afrontar. Não por entender estar a atacar o Próprio Criador - o que sob a capa de um extremo cultual é maneira acrescida de fantasiar sobre as potencialidades destruidoras da nossa pobre espécie - mas em nome de uma solidariedade entre filhos do mesmo Pai, que teve um cativante expoente na mensagem de Amor de São Francisco de Assis. Acima de tudo: não exagerarmos o nosso poder e não abusarmos arrogantemente do pouco que temos. Enfim, o contrário do que a História nos dá.
A voz de Gérard de Nerval:
Homme, libre penseur! te crois-tu seul pensant
Dans ce monde où la vie éclate en toute chose?
Des forces que tu tiens ta liberté dispose,
Mais de tous tes conseils l´univers est absent.
Respecte dans la bête un esprit agissant;
Chaque fleur est una âme à la Nature éclose;
"Tout est sensible!". Et tout sur ton être est puissant.
Crains, dans le mur aveugle, un regard qui t´épie:
A la matière même un verbe est ataché...
Ne la fais pas servir à quelque usage impie!
Souvent dans lêtre obscur habite un dieu caché;
Et comme un oeil naissant couvert par ses paupiéres,
Un pur esprit s´accroit sous l´écorce des pierres!
E vão «O Homem e os Animais na Natureza», de Heirich
Campendonk e «Os Aposentos de Pan», de Richard Westall.
da Suprema Arte, que torna desprovida de significado antagónico a concepção que diz ser o labor do artista imitação do natural. É combatendo duas tendências extremas, a que vê tudo em volta como utensílios potenciais, desprovidos da dignidade que incita à convivência e preservação, como o nefasto panteismo que pretende a sujeição esmagadora em nome de falsas moradas, que se pode chegar ao princípio mais são - o do lugar devido a manifestações várias da Obra Divina, sejam as plantas, os animais, as pedras, ou a própria Humanidade.
É na mitologia que podemos encontrar o símbolo do que queremos, em Pan, antes de ser demonizado. No sentido de agir sobre a nossa consciência, incutindo-nos a ideia de que cada elemento vivo ou aparentemente inanimado da paisagem tem um espírito próprio que conviria não afrontar. Não por entender estar a atacar o Próprio Criador - o que sob a capa de um extremo cultual é maneira acrescida de fantasiar sobre as potencialidades destruidoras da nossa pobre espécie - mas em nome de uma solidariedade entre filhos do mesmo Pai, que teve um cativante expoente na mensagem de Amor de São Francisco de Assis. Acima de tudo: não exagerarmos o nosso poder e não abusarmos arrogantemente do pouco que temos. Enfim, o contrário do que a História nos dá.
A voz de Gérard de Nerval:
Homme, libre penseur! te crois-tu seul pensant
Dans ce monde où la vie éclate en toute chose?
Des forces que tu tiens ta liberté dispose,
Mais de tous tes conseils l´univers est absent.
Respecte dans la bête un esprit agissant;
Chaque fleur est una âme à la Nature éclose;
"Tout est sensible!". Et tout sur ton être est puissant.
Crains, dans le mur aveugle, un regard qui t´épie:
A la matière même un verbe est ataché...
Ne la fais pas servir à quelque usage impie!
Souvent dans lêtre obscur habite un dieu caché;
Et comme un oeil naissant couvert par ses paupiéres,
Un pur esprit s´accroit sous l´écorce des pierres!
E vão «O Homem e os Animais na Natureza», de Heirich
Campendonk e «Os Aposentos de Pan», de Richard Westall.
6 Comments:
At 11:40 AM, Maria Carvalhosa said…
Querido Paulo,
Gosto mesmo (muito) de quase tudo o que escreves. Ler-te tornou-se um hábito diário que já não dispenso.
Só aqueles posts das raparigas todas provocantes é que me irritam um bocadinho... mas já conheces as razões:(pois, a tal maldita da inveja, afinal característica a somar às outras que, em dada altura, te levaram a atribuir-me o papel de "Iago travestido", meu mouro de Veneza!...)
Beijo.
At 7:12 PM, Paulo Cunha Porto said…
Querida Maria:
Vou tentar compensar-Te. Ao resto, respondi mais abaixo.
At 9:27 PM, Viajante said…
Abri a pensar que «a leitura matinal» me tenta quase sempre.
Vinha com a companhia de Hans Jonas a saltitar nas teclas.
Li o comentário da Maria e sorri.
Acho que a cativação de leitores segue regras diversas consoante os interesses dos próprios, o género, a orientação estética, etc, etc.
Leio os post «a eito» e depois escolho aqueles em que vou ficar a pensar. Um ou dois, de vez em quando (risos).
"não exagerarmos o nosso poder e não abusarmos arrogantemente do pouco que temos". Ainda que o pouco que temos seja altamente letal. E arrogância fatal, ao serviço de causa própria.
Beijos.
At 10:40 AM, Paulo Cunha Porto said…
Chère Voyageuse:
Dou Graças aos Céus e a Vós, Senhora, por um ou dois "posts" de toda a fornada merecerem a Vossa detença. Maneira subtil de corroborar a critica da Maria, dela desviando, à primeira vista?
Mas é uma luta sem pausas a de um pobre bloguista para encontrar temáticas e tratamentos que conciliem os seus interesses com os dos vários sectores e estados de espírito da audiência.
É justamente o perigo mortal do que o Homem pode a razão de esta leitura ter sido transformada em "post". Eu sou, por natureza, hostil ao que penso ser medida erada das coisas. Não quereria ver Deus em tudo, quando bastaria ver a obra de Deus, para obviar à destruição que nasce da soberba (des)humana. E, em última análise, o pensamento é válido para a nossa própria espécie, apesar de a culpa poder mitigar o horror cósmico universal que do conhecimento da sua destruição pudesse emergir. De quem é a causa, afinal? Pergunta tão pertinente, julgo, como a que, por a ignorarmos, lhe deu origem. A qual seria: "de quem é a casa, afinal?"
Dobrados.
At 8:43 PM, Viajante said…
Ora, querido Misantropo, um ou dois para ficar a pensar, é imenso! Que dou tantas voltas aos temas, que eles se estafam entontecidos (risos).
E não corroboro, nem em obliquidade, que às vezes, levo um desses, sobre a feminilidade ou o género, ou a precaridade associada, ou o que move as pessoas. O que não me interessa, no momento, passo os olhos e sigo adiante (com o que eu escrevo, também!).
Do que mais gosto, em Hans Jonas, muito para lá da heurística do medo, é a noção do risco incerto e da precaução. Mas disso sabeis, e escuso de vos maçar.
Beijos.
At 10:11 PM, Paulo Cunha Porto said…
Senhora, a Vossa gentileza confunde-me quase tanto como Vossa erudição. Mas não será bom tomar este paupérrimo interlocutor pelo mesmo estalão. O meu conhecimento do Autor é "muito pela rama", Por isso, no meu próprio interesse, fingindo que é no dos Leitores, para fazer boa figura, peço-Vos que preciseis, se Vos aprouver.
Toco, reverentemente, chão que pisais.
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