Leitura Matinal -269
É um velho vício humano acreditar que as escolhas que faz correspondem à inultrapassável natureza de uma
influência exterior e previamente concebida. Resume assim a vida aos azares do coração e à dor, irmanando-se ao uivo dos lobos em noite de lua cheia, acabando por se entreter a pensar o que tem por irreprimível como consequência do mistério de uma vontade criadora, cujas razões não consegue ou deseja conhecer, por muito retóricas perguntas que faça, no sentido contrário.
O álibi reside todo em reflexos que invertem, como em erros de sonhos poderosos e instituidores, como ainda na crueldade que dispensa maiores explicações. De tanta ânsia por outras liberdades, banaliza-se a parcela que coube, tomando-a por conformidade com um padrão imposto. Este primeiro passo de desresponsabilização do sofrimento
está tão presente no desabafo, como na poesia que invoca as metamorfoses de luz, ou a reflexão filosófica que chega à bem pobre conclusão pelo absurdo das atribulações penadas, falhanço total em compreender o vivido, fora das peias da inexplicabilidade e do permanente erro que vitima o «pobre homem». Homem bem pobre, sem dúvida, mas não pelo que pensa, sim pelas espertezas a que recorre e pelas dúvidas para onde se recambia, quando a coisa corre mal. Como esta.
Escreveu João de Castro Osório:
BALADA DO SONHO-LUAR
Pode bem ser que a vida seja,
Qual uma sombra de luar,
Reflexa luz de outro sonhar
Que não sabemos onde esteja...
E a morte, sombra que negreja
Quando a lua se faz distante...
Mas porquê sempre o mal uivante?
......Por quê clamar?
Talvez que seja puro engano
De um infinito dormitar
Que, sem desejo de criar,
Um dia por capricho insano,
Moldou o coração humano...
Mas por quê a forma de taça
Onde tam bem cabe a desgraça?
.......Por quê chorar?
Ou será mesmo a crueldade
A natureza do sonhar
Daquele Sol? E êste luar
De prantos por fatalidade
E só nas lágrimas verdade?
Mas por quê, sempre na tortura
O doce amparo da ternura?
.......Por quê amar?
Sonho infinito, indiferente
ao nosso humilde meditar,
Fizeste mal em nos criar,
Se queres tudo eternamente
Igual. Êste luar gemente
Vai refluir no Sol que dorme
E fazer que Deus se transforme
.......Noutro sonhar.
E fui compondo com «O Coração da Criação»,
de Tracey Sanderswood, «O Sol Sonhando»,
por Rick Hartner e o «Atingido pela Lua»,
de Bernie Jestembek-Hart.
influência exterior e previamente concebida. Resume assim a vida aos azares do coração e à dor, irmanando-se ao uivo dos lobos em noite de lua cheia, acabando por se entreter a pensar o que tem por irreprimível como consequência do mistério de uma vontade criadora, cujas razões não consegue ou deseja conhecer, por muito retóricas perguntas que faça, no sentido contrário.
O álibi reside todo em reflexos que invertem, como em erros de sonhos poderosos e instituidores, como ainda na crueldade que dispensa maiores explicações. De tanta ânsia por outras liberdades, banaliza-se a parcela que coube, tomando-a por conformidade com um padrão imposto. Este primeiro passo de desresponsabilização do sofrimento
está tão presente no desabafo, como na poesia que invoca as metamorfoses de luz, ou a reflexão filosófica que chega à bem pobre conclusão pelo absurdo das atribulações penadas, falhanço total em compreender o vivido, fora das peias da inexplicabilidade e do permanente erro que vitima o «pobre homem». Homem bem pobre, sem dúvida, mas não pelo que pensa, sim pelas espertezas a que recorre e pelas dúvidas para onde se recambia, quando a coisa corre mal. Como esta.
Escreveu João de Castro Osório:
BALADA DO SONHO-LUAR
Pode bem ser que a vida seja,
Qual uma sombra de luar,
Reflexa luz de outro sonhar
Que não sabemos onde esteja...
E a morte, sombra que negreja
Quando a lua se faz distante...
Mas porquê sempre o mal uivante?
......Por quê clamar?
Talvez que seja puro engano
De um infinito dormitar
Que, sem desejo de criar,
Um dia por capricho insano,
Moldou o coração humano...
Mas por quê a forma de taça
Onde tam bem cabe a desgraça?
.......Por quê chorar?
Ou será mesmo a crueldade
A natureza do sonhar
Daquele Sol? E êste luar
De prantos por fatalidade
E só nas lágrimas verdade?
Mas por quê, sempre na tortura
O doce amparo da ternura?
.......Por quê amar?
Sonho infinito, indiferente
ao nosso humilde meditar,
Fizeste mal em nos criar,
Se queres tudo eternamente
Igual. Êste luar gemente
Vai refluir no Sol que dorme
E fazer que Deus se transforme
.......Noutro sonhar.
E fui compondo com «O Coração da Criação»,
de Tracey Sanderswood, «O Sol Sonhando»,
por Rick Hartner e o «Atingido pela Lua»,
de Bernie Jestembek-Hart.
2 Comments:
At 9:19 PM, Viajante said…
Aí está um vício humano de que, a ter, terei o oposto.
As escolhas que faço, faço-as. E se é verdade que não posso escolher muito do que me acontece, escolho o que fazer com (espaço sublime e ocasionalmente perturbador do livre arbítrio).
Tenho uma dificuldade considerável em aceitar o princípio da fatalidade e recuso que «o que tiver de ser, será», máxima desresponsabilizante e que coloca fora de Si o decurso dos acontecimentos.
Considerando acasos e o acidentes, o risco da escolha é infinitamente mais aliciante do que a entrega ao exterior - ah, e a responsabilidade colocada fora de Si.
Homem bem pobre, dizeis.
Mesmo cuidando que podeis achar um exagero, penso que talvez traia o traço mais potencialmente humano de ser humano.
At 8:05 PM, Paulo Cunha Porto said…
Magna e Magnânima Viajante:
Escreveu Alfred Fabre-Luce que mesmo os mais empedernidos teóricos deterministas são obrigados, com prejuízo da própria coerência, a aceitar, mesmo que em doses moderadas, o livre arbítrio, já que, por exemplo, aceitam testemunhar em julgamentos criminais e agradecem actos de outros, seja favores que lhes façam, seja coisas tão simples como a abertura de uma porta para passarem. O ponto do Autor é ver nessa polida reacção um reconhecimento de alguma dose de liberdade, pois se acreditassem que os actos implicados estavam previamente determinados, não haveria espaço lógico para um agradecimento...
E não acho exagero algum. Só que essa extrema humanidade é também o lado de pobreza que ajuda a fazer-me misantropo. Sei que há uma faceta mais "próspera", não a quero denegar. Mas temos de econtrá-la noutro lado.
Beijo deslumbrado e... agradecido, sem inocência, considerando o discurso anterior (r).
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