Ingenuidades
João Luís César das Neves insiste, no seu artigo de opinião no «DN» de hoje em repisar uma tecla que já não aguenta mais ser tocada e em levantar um velho lebrão que dormitava na sua toca, tudo a propósito da já saturante mas ainda dominante questão dos conflitos que ameaçam o Ocidente. A primeira situação brota ainda dos desenhos dinamarqueses, ao considerar que os autores e os defensores da liberdade de eles os publicarem são aqueles «para quem a liberdade é mais sagrada que Deus e estão dispostos a incendiar o mundo pelo direito à caricatura». A caricatura não inventou coisa alguma, nem resolveu começar a matar a esmo. Pintou uma situação reconhecível que já vai ceifando imensas vítimas inocentes. E só pecou por não esclarecer que dava a sua visão da concepção religiosa dos terroristas, permitindo assim interpretações que estendessem o terrorismo a uma convicção da generalidade dos maometanos.
A segunda argumentação firma-se sobre o "fim do horror à guerra". Esse horror sempre existiu, tendo-se apenas massificado com as duas guerras mundiais. Mas também coexistiu sempre com os conflitos. A fracção islamita que odeia os estilos de vida alheios sempre quis atacar os inimigos que elege. Não o fez durante a Guerra Fria, porque hesitava entre qual dos dois antagonistas que se perfilavam era o mais urgente adversário do Islão. Entre o ateísmo impositivo do comunismo e o ateísmo intrusivo do consumismo, do ponto de vista deles, que viesse o Diabo e escolhesse. O Diabo veio, realmente. Mas chamava-se paralisia, pelo que os fundamentalismos não encontravam saída e os regimes alinhavam por um ou outro bloco, conforme se estava no Afeganistão e na antiga Índia Britânica, ou no sempre presente problema Israelo-Árabe. É grande inocência pensar que se pode pôr cobro aos conflitos . A propósito do pacto Briand-Kellog, Maurras lembrava que ele «não tinha posto a guerra fora da lei, apenas a tinha colocado fora do direito». O que se pode e deve é fazer o que sempre se fez: negociar quando é possível, lutar quando o não é. E não desistir, com entregas que representam o abandono da cabeça ao algoz. A Diplomacia e os Militares têm a sua razão de ser. Porque acabar com a guerra, desgraçadamente, só quando se acabar com a Humanidade. O que é capaz de já ter estado mais longe.
2 Comments:
At 10:57 AM, MRA said…
E como podes estar tão perto da verdade...como podes estar tão perto...abraços em tempos agrestes!
At 10:59 AM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigado Amigão, é bem de temê-lo.
Abraço.
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