O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Monday, January 30, 2006

Umbigos Ligados

Sabe-se como o uso de imagens pelos políticos portugueses costuma redundar em catástrofe. A constatação voltou a ocorrer-me, ao ler o depoimento de uma figura de relevo do PSD e seu cabo açoreano, o ex-Ministro Costa Neves, ao sustentar, no «DN», que «o PSD deve deixar de olhar para o seu umbigo». Eu ignorava que fosse aí que o mencionado partido tivesse postos os olhos. Se assim foi, está explicada a razão de as últimas legislativas terem para ele resultado num grande buraco. Mas a expressão, longe de se remeter a uma qualquer perversão fetichista, ou, melhor, parcialista, poderia indicar o caminho que tornasse os partidos menos partidários, ou mais conscientes das necessidades da generalidade da População. Seria assim, caso esse olhar inamovível tivesse como objectivo detectar o cordão umbilical que liga a parte à Nação. É, desgraçadamente, preocupação que se encontra arredada da natureza dos partidos; e este não é excepção. Na Grécia Antiga, o Oráculo de Delfos era apelidado «O Umbigo do Mundo» e todos para ele volviam os olhares. Por cá, quando se encontra uma orientação para essa parte anatómica, preconiza-se a sua supressão. É natural, cada um tem o umbigo que merece.

11 Comments:

  • At 5:37 PM, Blogger Je maintiendrai said…

    Hahaha! Belíssimo!

     
  • At 5:46 PM, Anonymous Anonymous said…

    A concepção anatómica da nação, como viam os antigos, atribuía às partes do corpo uma função necessária ao bem comum. Os partidos são excrescências da anatomia social; não têm nada que os ligue ao corpo. Pondo de modo simples: ceifeiros, padeiros, hortelãos, pescadores, aguadeiros, médicos, soldados, professores, &c., &c. têm funções definidas e necessárias ao corpo social. Que função têm os senhores dos partidos? Cumpts.

     
  • At 6:40 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Obrigado, Caro Je Maintiendrai.

    Caro Bic Laranja: depois do que disse, cumprimentos não chegam. Deixe-me abraçá-Lo.

     
  • At 4:38 PM, Blogger Pedro Botelho said…

    Escreveu Bic laranja: "Os partidos são excrescências da anatomia social [...] Que função têm os senhores dos partidos?"

    Noto que foge um pouco à questão, passando dos "partidos" para os "senhores". Portanto permito-me o atrevimento de responder à pergunta imaginária que não chegou a sair do ovo:

    A óbvia função dos partidos é não só agrupar em torno de ideias, mas sobretudo permitir a transitoriedade do poder e, através dela, algum grau de prestação de contas dos governantes aos governados.

     
  • At 10:25 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Céus, Caro Pedro. Em vez de «permitir», a minha definição colocaria "impedir".
    Ab.

     
  • At 11:45 PM, Anonymous Anonymous said…

    Penso que concordamos todos: com o Pedro Botelho no bondoso postulado dos partidos; e com o amigo Cunha Porto na substantiva inversão da práxis. É por ela que podemos derivar para os ditos 'senhores'; é por ela que concluo a tal escrescência. Cumpts. e obrigado a ambos.

     
  • At 4:02 AM, Blogger Pedro Botelho said…

    Prezado Misantropo,

    Quem, tendo o poder real sem convocar parlamentações, só sai do poder para a cova, é que não presta contas a ninguém.

    A não ser, segundo calculo, no Além, o que pode ser suficiente para o meu caro amigo, mas compreenderá que não seja assim para todos...

     
  • At 10:22 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Eu sou a favor da convocação de parlamentações. As tradicionais, das nossas Cortes Gerais. Só posso falar por mim, não tenho procuração de ninguém, mas tenho todo o gosto na troca de ideias que possa limar as imperfeições alheias, como as próprias, quando seja o caso.

     
  • At 2:19 PM, Blogger Pedro Botelho said…

    As tradicionais, das nossas Cortes Gerais.

    Como ainda não sois rei, tenho que vos colocar as perguntas:

    Obrigatoriamente convocadas? E de quanto em quanto, e por quanto, tempo?

    Tenho curiosidade em conhecer as limitações que colocareis a vosso futuro soberano.

    Just curious...

     
  • At 6:03 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Onde leu obrigatoriamente? Essa só em alturas de crise dinástica, para exercer o EXCEPCIONAL poder electivo. Defendo sim uma prática prudente, mas reiterada.
    O meu reino é do Mundo da Fidelidade.
    Os Reis são melhores respondedores a perguntas do que os políticos, que tentam desviar a conversa, quando não interessa.

     
  • At 10:38 PM, Blogger Pedro Botelho said…

    Misantropo: "Onde leu obrigatoriamente?"

    Julgo que não tereis reparado no meu ponto de interrogação.

    "Os Reis são melhores respondedores a perguntas do que os políticos, que tentam desviar a conversa, quando não interessa."

    Que bom político me saístes, a avaliar pela amostra acima...

     

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