O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Sunday, January 29, 2006

Leitura Matinal -252

Não há maneira de evitar a terrível ambição de conhecer o que virá. À consciència da inferioridade da condição que conhecemos soma-se o
tremendo acicate da curiosidade. Temos sempre a expectativa de podermos determinar o porvir, o que de todo é impossível sem o conhecer. Mas se o conhecemos e modificamos, deixa, evidentemente de ser futuro. A História e as mitologias estão repletas de relatos de possuidores de informações sobre o amanhã que tentaram remar contra a maré
e falharam, ou por interpretações erradas dos discursos divinatórios, ou por acidentes que, aparentemente, confirmam a supremacia de um destino sem falhas sobre os esforços dos minúsculos seres humanos que se pretendem fazedores das suas vidas, à imagem da única entidade que no mundo greco-latino estava acima da quase totalidade dos deuses e, quando muito, em igualdade com o maior deles, que, sábio, não se atrevia a contrariá-lo muitas vezes.
A grande revelação estabelecer-se-á, em consequência, no mistério do interesse, não já concretizado na abstracção que é o Vindouro (Des)conhecido), antes no meio que privilegiamos ao tentar percepcioná-lo. Diz mais acerca de cada um tal escolha do que a biografia consumada ou prevista. Consciência que nos leva a entender que o nosso futuro vive afinal se não no, pelo menos do nosso Pasado.
Chegamos então à frustrante conclusão de que o nosso labor sobre visões do que virá se cinge a trabalho interpretativo igualzinho ao que elaboramos sobre obras e factos do Pretérito. Essa leitura,à luz da nossa estrita contemporaneidade individual ou geracional, abrir-nos-á os olhos para que o material merecedor da opção do nosso olhar é o conjunto de dados, sim, mas no sentido de elementos postos perante nós no e pelo Passado, não no de acessórios dum jogo de azar, embora de jogo, outro jogo, igualmente se trate.
De Susanne Vega:

PREDIÇÕES

Vamos prever o futuro.
Vamos descobrir como tem sido feito.
Por números. Por espelhos. Pela água.
Por pontos feitos ao acaso num papel.

Pelo sal. Por dados.
Por comida. Por ratos.
Por massa de bolos.
Por fogo sacrificial.

Por fontes. Por peixes.
Coisas escritas em cinzas.
Pássaros. Ervas.
Fumo do altar.

Um anel suspenso
Ou a maneira de rir
Seixos retirados de uma pilha
Uma destas coisas
Dir-te-á qualquer coisa.

Vamos prever o futuro.
Vamos descobrir como tem sido feito.
Por sonhos. Por rostos. Por letras.
Pelo gotejar de cera quente em água.

Por pregos reflectindo os raios do sol.
Pelo caminhar em círculo.
Por ferro em brasa.
Por trechos de livros.
Um machado em equilíbrio.

Um anel suspenso
Ou a maneira de rir
Seixos retirados de uma pilha
Uma destas coisas
Dir-te-á qualquer coisa.

Vamos prever o futuro
Vamos descobrir como tem sido feito.
Descobrir como tem sido feito.


Temos ainda «Um Posto Avançado num Longínquo Muito
Distante», de Michael Bohme, «Futuro Ousado I e II, de
Packard e «Esfera Profética Reflectindo», de M. C. Escher.

2 Comments:

  • At 7:19 PM, Anonymous Anonymous said…

    Gostei muito. Não conhecia a poesia da Suzanne Vega; está musicada?

     
  • At 8:29 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Penso que sim, que é a letra de uma das canções dela. Se descobrir maiores concretizações, junto de um Amigo especializado, contar-Lhas-ei.
    Ab.

     

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