O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Monday, January 30, 2006

O Nó Górd(on)io



Foi o título que Ernst Junger deu a um livro seu, sobre a problemática de Ocidente e Oriente. Altura para homeagear um Homem notável que ao serviço simultâneo do seu País e do Governo Imperial Chinês ajudou, primeiro na restrição do tráfico do ópio, depois na eficaz repressão dos rebeldes Taiping, evitando horrores como os cometidos mais tarde, durante a Revolta dos Boxers. Mais lembrado pelo seu martírio sudanês, deveria sê-lo sempre por esta memorável acção no Oriente, salvando Xangai e recebendo o título de Titu, uma espécie de macharelato chinês: o General «Chinese» Gordon. Dedicado ao Je Maintiendrai e ao Pedro Botelho, que despoletaram o tema.

23 Comments:

  • At 12:31 PM, Blogger Jansenista said…

    Criou-se uma aura de mártir em torno dele que acabou por imortalizá-lo. Mas simpatizo mais com Kitchener, um homem muito mais eficiente nesse conflito e nos posteriores (salvo na WWI, em que estava já num segundo plano, embora fosse ainda a cara dele a aparecer nos posters de recrutamento).

     
  • At 12:48 PM, Blogger MRA said…

    O teu blog está cada vez mais fascinante...obrigado pelas leituras...

     
  • At 2:00 PM, Blogger Pedro Botelho said…

    Prezado Jansenista,

    A acção do Sirdar foi de facto das mais civilizadoras. Parece que a própria rainha Vitória adorava beber o seu copito pelos crânios dos inimigos, como ele fez pelo do Mahdi, depois de lhe ter deitado os restantes ossitos ao Nilo.

    Há que confessar que o Sirdar era mais imaginativo que o papa-óstias do chinoca incendiário, apesar das diatribes do jovem Churchill, no River War que, há muito tempo, encontrei esquecidas numa antiga livraria! O Winnnie tinha-o na mesma conta e estima em que o Mahdi tinha a carne de reco...

    Prezados Misantropo, Jansenius e Maintiendrai: para vos pagar as adoráveis pin-ups que tendes flutuado à compita em vossos domínios imperialistas, deixei-vos lá umas quantas no meu covil. A filha do D'Artagnan já está reservada: podeis disputar as outras três entre vós.

     
  • At 4:14 PM, Anonymous Anonymous said…

    En la película "Khartum", 1.966, premonitoria conversación entre Gordon (Charlton Heston) y el Madji(Laurence Olivier), en el que éste último le manifiesta las "saudades" del Mundo Arabe por los califatos de Damasco y Córdoba (Al Andalus).......

     
  • At 5:15 PM, Blogger o engenheiro said…

    Que cambada de lambe botas anglófilos! Qual Gordon qual carapuça ! Missão civilizadora na China ?! Mas está tudo doido? O que o capitão Gordon fez foi defender os interesses dos comerciantes europeus e americanos garantindo o negócio do ópio e, en passant,os corruptos e xenófobos Manchus.
    Os revoltosos T'ai-p'ing eram uma das várias seitas milenaristas que a História da China conheceu ao longo dos tempos (como a Lotus Branco que daria origem à dinastia Ming). Foi criada por Hong Xu-qiuan, um cantonês Hakka que pela prédica dos missionários protestantes, achou que era o irmão mais novo de Jesus e tomou o título de Rei Celste. Os aventureiros americanos Ward e Burgevine, mercenários contratados pelos interesses económicos europeus comandaram as forças repressoras auxiliados por tropas do corrupto governo Manchu. Ward morreu e Burgevine passou-se para os T'ai p'ing. Gordon encabeçou então esse exército que gradualmente foi derrotando os sublevados que, por não possuirem cavalaria, não dispunham de tanta mobilidade. Uma das maiores acções civilizadoras de Gordon foi a limpeza de Nanquim onde mais de 100.000 pessoas foram passadas ao fio da espada. Cá se fazem no Sudão se pagam...

     
  • At 5:52 PM, Blogger João Villalobos said…

    Concordo com o Engenheiro. Essa vossa visão civilizadora Europocêntrica à la séc. XIX é assim a modos que um bocadinho anacrónica. Mas, por outro lado, também reconheço que é esse anacronismo que vos garante o devido charme...

     
  • At 6:54 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caros João e Engenheiro:
    Não culpem o Jansenista e o Pedro Botelho pelas minhas opiniões, já que o ponto de vista Deles está muito mais próximo do Vosso do que do meu. Tê-lo-ieis percebido, se não houvesse tanta pressa em responder ao meu europocentrismo, que aqui reafirmo. Essa de ver os Taiping como um modelo de honestidade e idealismo não lembraria sequer aos próprios, que não queriam mais do que ir impunemente para a frente com as suas traficâncias. E Gordon fez muitíssimo bem em defender os interesses do seu País. Gostaria que por cá os militares tivessem sempre feito outro tanto. Mais, a dureza na repressão da hedionda revolta é tanto mais estimável quanto impediu que essa nefasta seita cometesse as atrocidades que os Boxers, anos mais tarde, levaram a cabo, contra Ocidentais e Chineses, quando constataram um pulso mais fraco opondo-se-lhes.
    Sou europocentrista, dentro do respeito da gente de bem de outras paragens, que não inclui banditagem! Sou anglófilo! Sou!ocidental.
    Disse.

     
  • At 6:55 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro MRA:
    Obrigadíssimo pelas Tuas palavras. Tentarei sempre merecer a Tua aprovação, que para mim é muito importante.

     
  • At 7:49 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caro Amigo de Espanha:
    Falámos, justamente, dessa fita no "post" "linkado" no texto.
    Abraço.

     
  • At 8:05 PM, Anonymous Anonymous said…

    Amigo Paulo: ante los majdis contemporáneos.....¡Que el burgalés San Julián de Cuenca y San Lesmes nos amparen......!

     
  • At 8:09 PM, Anonymous Anonymous said…

    Sugerencia: el filme "El Viento y el León": Sean Connery, Brian Keith, Candice Bergen.....

     
  • At 8:13 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Hihihihihi!
    Amen e obrigado pela sugestão, Caro Amigo.

     
  • At 12:05 AM, Blogger Pedro Botelho said…

    Amigo Misantropo,

    Mais uma vez, conviria subir até às origens: poucas guerras terão tido móbiles tão vergonhosos como as ditas "do Ópio" impostas à China pelos ocidentais. Foi no decurso da segunda dessas guerras que o nosso "Chinese" Gordon realizou uma dss suas célebres campanhas e incendiou o que pôde incendiar ("que pena não termos tido tempo para saquear" dizia ele do antiquíssimo palácio de Verão em chamas). Os Taiping -- mais uma vez -- são uma reacção, não caem do céu.

     
  • At 8:11 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Oh, meu Caro Pedro:
    estava mesmo a ver que o meu Amigo embarcava nessa lenda negra. Não, não foram os ingleses que introduziram esse bom hábito na China. Foram os árabes, no século XIII, sendo que no princípio do Século XVII, uns duzentos anos antes de predomínios britânicos, estava generalizado o fumo, atingindo prporções paralisadoras da população em geral na vasta região do Yunan. De tal forma que quando a paralisia descambou em inactividade, no primeiro terço do Séc. XVIII, um decreto imperial tentou pôr cobro à situação, sem qualquer sucesso. A Companhia das Índias limitou-se a lucrar com o vício, em concorrência directa com os Taiping e... o governo imperial, nessa data.
    Quanto à "tristeza" de Nanquim, sabe por que razão houve essa mortandade, não sabe? É que eram todos adeptos da insurreição, que tinham passado a fio de espada toda a população residente, ao tomarem a cidade, não deixando vivalma. Como destruído tudo o que por lá havia, tal a emblemática Torre de Porcelana, uma das maiores maravilhas do Oriente.
    É bom não lermos só wikipedias, uns livritos também dão jeito. Ou por enciclopédias, coisas melhorzinhas, como a venerável «Britannica», de 1911. Mas melhor, muito melhor, a «Life of General Gordon», Londres, 1886, que não é um simples exercício de hagiografia. Lá é dada conta de como o chefe taiping e os seus wang´s foram buscar o núcleo duro dos adeptos às associações de criminosos comuns, engrossando-os com a pior escumalha, até atingir centenas de milhar. E de como esse mesmo Hung levantou a demagógica bandeira do extermínio da raça manchu, coisa que, pelos vistos, para Vocês é agradável, destruindo em nome dela todas as colheitas e povoações CHINESAS por onde passava e a população se mostrava renitente em juntar-se-lhe.
    O Pedro diz: «os Taiping(...) não caem do céu. Eu também acho que não. Mas tivesse ido dizer isso ao chefão deles, que se intitulava Rei Celeste e não teria sobrevivido para... o defender.
    Ao Engenheiro: vale o arrazoado anterior e mais um pequeno acerto de pormenor. Na primeira guerra contra esses infames e sectários bandidos, Gordon era major, não capitão. E foi promovido, no fim dela, por mérito.

     
  • At 8:15 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Agora um golpe baixo, para pôr as Leitoras do meu lado. O chefe taiping que estes Amigos idolatram era um homem preocupadíssimo com a Condição Feminina. Era sua prática reiterada matar as amantes de que se fartava a pontapé, sentindo especial prazer em prolongar-lhes a agonia. Mas é canalha desta que aqui vejo defendida contra o Exército Britânico! Ora, vão brincar com outras histórias!

     
  • At 10:22 AM, Blogger o engenheiro said…

    Ai Paulo, Saulo, I beg your pardon ?


    Todos os livros que tenho mencionam Gordon como capitão e não major. Mas também não importa porque o que ele era era um chefe de milhares de jagunços. Até podia ser General como o Nino Vieira ou o Otelo.
    Não me viste defender que os Taiping eram meninos de coro !
    Nem tenho por eles qualquer simpatia. São Chineses e basta !
    Mas entrar numa louvaminheira campanha de exaltação do Gordon ?!
    E já agora, um reparo. Não foram árabes mas sim iranianos (provavelmente tadjiques) que introduziram o uso do ópio como estupefaciente no Grão Cataio. As fontes falam dos Se-mu, uma das quatro categorias em que os Mongóis dividiam a gentinha do Império: – os Mongóis, os Se-mu (apesar da expressão significar semitas, designava povos turcos e iranianos, maioritariamente islâmicos), os Han-jen (habitantes do Norte da China, incluindo as tribos manchus) e, finalmente na cauda da escala social, os Nan-jen (habitantes do Sul que haviam vivido sob a dinastia Sung). Os Hui, descendentes de mercadores islâmicos (incluindo alguns árabes do Califado) foram os mercadores iniciais da substância da qual os civilizadíiiiissimos ingleses se limitaram a tirar proveito (mais ou menos o que o civilizadíiiiiiissimo ZéDu tem feito em Angola).Bom, ainda havia os judeus de Kaifeng! Nunca se sabe...
    Tem juízo Paulo e fuma menos cachimbadas (metaforicamente falando, é obvio).

     
  • At 10:56 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caro Engenheiro:
    A referida Britannica cita "árabes", como intermediários. Quer dizer, não rebates uma única das razões que dou. E ainda menos que as mortes de Nanquim tenham sido um acto de justiça. Até me admira, em Quem, com justiça, se revoltou contra os assassinatos de portugueses brancos e negros pelos terroristas da UPA, nenhuma lágrima vertida por chineses das várias raças mortos às centenas de milhar pelos Taiping. É a história do Mandarim de Claretie/Eça, não é? O que está longe não conta.
    O único cachimbo que admito fumar é o da paz. Retribuo com um abraço o conselho "ajuizador".

     
  • At 11:02 AM, Blogger João Villalobos said…

    caro Paulo,
    Clarificar episódios da História do Oriente com a ajuda da Enciclopédia Britânica parece-me...como direi...suspeito. Ou o título da mesma não te diz nada? ;)

     
  • At 11:34 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Como sabes, caro João, a 11ª edição dela, apesar do nome, já era... norte-americana, proveniência que é tudo excepto meiga para com o chamado "imperialismo" europeu.

     
  • At 1:23 PM, Blogger Pedro Botelho said…

    [Resposta a alguns equívocos do prezado Misantropo]

    Não, não foram os ingleses que introduziram esse bom hábito na China.


    Claro que não no sentido estrito, mas foram eles que impuseram o consumo mínimo por tratado imposto manu militari. Nao se concroda com essas coisas. Eu não.

    Quanto à "tristeza" de Nanquim, sabe por que razão houve essa mortandade, não sabe?

    Não confunda os seus vários interlocutores. Nunca falei em Nanking. O que houve em Nanking foi uma successão de massacres.

    É bom não lermos só wikipedias, uns livritos também dão jeito.

    Retribuo o cumprimento. Leia por exemplo os comentários do Bertrand Russell depois da sua viagem à China, de onde veio profundamente encantado nos anos vinte -- ao contrário da viagem ao país dos sovietes de onde resultou a Theory and Practice of Bolshevism -- e note a forma como ele refere o profundo ressentimento dos chineses pelas vergonhosas Guerras do Ópio. É que uma coisa é dar a missanga aos canibais, outra é tratar de pôr a ferros uma civilização milenar para assegurar a exprotação do ópio imperial.

    O Pedro diz: «os Taiping(...) não caem do céu. Eu também acho que não.

    Ora nem mais. Ainda bem que concorda.

    Mas tivesse ido dizer isso ao chefão deles, que se intitulava Rei Celeste e não teria sobrevivido para... o defender.

    Alucinações opiáceas? Onde é que me viu defender o "Rei Celeste"?

    O amigo Jansenista tem uma certa tendência para demolir espantalhos à cacetada. Deve ser das cachimbadas.

    E, já agora, numa nota bem-humorada, a propósito do seu "golpe baixo, para pôr as Leitoras do meu lado" e das suas referências à Britannica, olhe que a minha diz que eram os Taiping que proibiam a moda dos pézinhos amachucados...

    Lá mudam as Leitoras de partido...

     
  • At 4:17 PM, Blogger Pedro Botelho said…

    O post anterior foi escrito à pressa, entre duas corridas, e contém várias gralhas. Corrijo a mais importante: onde está "O amigo Jansenista tem [etc.]" queria eu dizer "O amigo Misantropo tem [etc.]".

    E no princípio era "Nao sei se concorda com essas coisas. Eu não."

    As minhas desculpas.

     
  • At 8:52 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caro Pedro:
    Não se preocupe, era perfeitamente perceptível a quem se dirigia.
    "Manus militari", acho que apenas reservaram uma pequena quota de mercado. E acabaram com os concorrentes que tratavam do abastecimento geral...
    Russell, quantos anos depois? Na altura em que a História estava sendo reescrita para desculpabilizar a Grande Nação Asiática e dar-lhe forças para agir...
    Quanto aos pés: Ora aí está um argumento de peso. Estou quase a simpatizar com os Taiping. Mas não substime a vontade das Leitoras terem um pezinho elegante. E quando a alternativa é ser golpeada até à morte por pés que o são pouco...

     
  • At 4:28 AM, Blogger Pedro Botelho said…

    Quanto ao Russell, foi em 1920-21, mas o ponto é que a referência ocidental na China eram ainda as Guerras do Ópio, como exemplos acabados dos piores aspectos do imperialismo europeu.

    Quanto aos pézinhos elegantes das chinas, acho que ficariam um pouco como os da quimera grega (como no Herculano)...

    O Maintiendrai tem lá uma com a cabeça tapada pelo dragão, mas com os pés visíveis em sapatinhos apropriados. Que lindo... Devia andar aos saltinhos, com certeza...

     

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