Leitura Matinal -228
Têm os marinheiros dos «Grandes Lagos» americanos desdém imenso pelos lobos do mar dos oceanos exteriores, por acharem a arte deles menos exigente, facilitada que está
pela inexistência, ao virar de cada esquina, dos obstáculos que estão habituados a enfrentar. Também assim, nas navegações interiores, em que a viagem em Rio, portadora do brilho próprio que prescinde da imensidade das águas exteriores, estende o tempo na cadência dos seus movimentos e colhe da reflectida cor do céu a sensação de irrealidade concentrada que só a proximidade das margens equilibra. E de que só elas oferecem posssibilidade de libertação da letargia.
Donde, no poema que segue, a "areal" poderia bem ser retirado o "a" com que inicia. Deste percurso, ou desta flutuação, sempre com a terra desmitificadora à vista, não é no espaço que rodeia que se pode encontrar a alforria oposta, a que quebra as grilhetas da realidade opressora. É no diálogo do olhar com a água e na celebração íntima do ritmo particular que dele se desprende. Pois se a glória está longe e a prudência que manda travar combates perto de casa tem mau nome, grande parte da culpa se deve à intransmissibilidade do que, em cada experiência, é pessoal.
De Xosé Lois Garcia:
O comum do azul vos prolonga
a flutuar no tempo indefinível,
que se multiplica nas horas,
com a fraterna perfeição dos remos.
As navegações são tão íntimas
que a inclinação dos movimentos
nos mantém em livre acesso ao areal.
Pulsai, pulsai o cintilante sono
com o marinheiro, de afãs seguidos
que não esquece ao velho do Restelo
em sua barca de rio, possuindo o mar.
Acrescentado de «Luz Íntima: Azul», de Robert Natkin,
«Navegação Perante um Promontório», de Pirre Paget e
de uma representação de Hipnos, Deus grego do sono e
funcionário do local para onde vão os mortos.
pela inexistência, ao virar de cada esquina, dos obstáculos que estão habituados a enfrentar. Também assim, nas navegações interiores, em que a viagem em Rio, portadora do brilho próprio que prescinde da imensidade das águas exteriores, estende o tempo na cadência dos seus movimentos e colhe da reflectida cor do céu a sensação de irrealidade concentrada que só a proximidade das margens equilibra. E de que só elas oferecem posssibilidade de libertação da letargia.
Donde, no poema que segue, a "areal" poderia bem ser retirado o "a" com que inicia. Deste percurso, ou desta flutuação, sempre com a terra desmitificadora à vista, não é no espaço que rodeia que se pode encontrar a alforria oposta, a que quebra as grilhetas da realidade opressora. É no diálogo do olhar com a água e na celebração íntima do ritmo particular que dele se desprende. Pois se a glória está longe e a prudência que manda travar combates perto de casa tem mau nome, grande parte da culpa se deve à intransmissibilidade do que, em cada experiência, é pessoal.
De Xosé Lois Garcia:
O comum do azul vos prolonga
a flutuar no tempo indefinível,
que se multiplica nas horas,
com a fraterna perfeição dos remos.
As navegações são tão íntimas
que a inclinação dos movimentos
nos mantém em livre acesso ao areal.
Pulsai, pulsai o cintilante sono
com o marinheiro, de afãs seguidos
que não esquece ao velho do Restelo
em sua barca de rio, possuindo o mar.
Acrescentado de «Luz Íntima: Azul», de Robert Natkin,
«Navegação Perante um Promontório», de Pirre Paget e
de uma representação de Hipnos, Deus grego do sono e
funcionário do local para onde vão os mortos.
2 Comments:
At 11:21 AM, MRA said…
Bom dia..
fantástico este post...
E assim os dias começam melhor!
At 11:41 AM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigadíssimo, Amigão.
Que TODOS continuem magnificamente.
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