A Força das Ventosas

Manuel Alegre foi entrevistado pelo «DN». Simpaticamente,
mostra-se um optimista. Diz que, numa reunião de orgão
nacional do PS a que pertence, mas do qual se ausentara,
a maioria pretendeu «ostracizar» os seus apoiantes. Digo
eu: não quis tal. O Ostracismo Ateniense implicava que o
cidadão assim sancionado, findo o período determinado,
regressasse à Polis, retomando todos os seus direitos e
a sua posição. Se a direcção socialista perder a eleição
presidencial, não será isso que desejará aplicar ao Poeta
candidato. Já dirigentes de responsabilidades advogaram a
sua expulsão. No mínimo quererão mandá-lo para uma prateleira
dourada de onde não volte a incomodar.
Diz Manuel Alegre, e bem, que os portugueses estão cansados
dos partidos. Mas, ao cair na fraqueza de os continuar a
achar necessários, corre o risco de ter de se desdizer,
quando afirma que a sua candidatura, porque independente,
não visa formar mais um. Acredito piamente que fosse
essa a sua pura intenção. Os adversários internos dentro
da nova capelinha do Rato, todavia, não lhe darão descanso,
se a coisa correr mal. E, a menos que o afecto a este partido
como "coisa sua" o demova, fatalmente terá de criar um
Mouvement des Citoyens português. Chevénement também
começou por uma candidatura presidencial heterodoxa.
O polvo partidário tem tentáculos mais asfixiantes do
que (se) imagina.