Leitura Matinal -227
Muitos dos mistérios da torrente da Vida residem no próprio ser que vive e faz viver. Das suas insuficiências, porque não quer escutar o que as vozes
proféticas lhe transmitem, anunciando a inexorabilidade dos fins, , ou por, na fatalidade da sua condição, não lhe der possível o conhecimento do mais importante que gera, ocupado que vai estando em correr, ignorando a nova esperança que desponta, confinado à marcha para baixo que se não revoga. Degrada-se assim, pela
ausência do conhecimento, resultando do e o ocultamento que de si faz. Até que, com o envelhecimento e desfecho, ou qualquer outro fim, sobrevenha a compreensão do processo e das identidades, tornando menos limitada a solidão de quem semeou na ignorância e está já na hora de apenas poder colher o certificado que apazigua, apesar do travo que deixa na boca a parte inalcançável que o couraça.
De Joaquim Manuel Magalhães, o TREZE de «os meus
versos», de «ANTÓNIO PALOLO»:
1
O touro abatido e sagrado
triângulo e círculo cobrindo o sol
consumia o mercado dos homens.
Movidos para o fogo
cada um ia sendo o centro de outro.
Até ao cimo.
2
A cabeça escuta as profecias.
Aquele que sabe as partes do céu
enterra seu gosto na areia.
O inverno cresce entre as plantas pequenas,
o que fizermos não valerá por nós.
3
Um deles cantava.
Um disse: trago para ti a neve.
O corpo estava morto eu tocava-lhe a boca.
O outro sorria.
Com as mãos nos olhos
água sémen terra
depois morri.
4
Esta semente o intermediário leva-a
às coisas do alto.
Reproduz nisso a felicidade.
Semelhante à matéria
semelhante ao espírito
abandonada nos vãos da casa.
5
O curso inferior do rio não vê
a terra que fertiliza.
Frágeis restos
perde-a para sempre.
O rio, o escondido,
não é o rio.
6
Nas trevas
pequenas cabeças chegam até mim.
Com inesperada voz abandono-as.
Junto dos mortos aprendo
suas metamorfoses sem uso.
Os astros transparentes no rosto
a aura líquida dos dedos
a ambígua ternura do saber
os dentes escuros escrevendo um nome.
Além do homem que imita o avestruz, trouxe-Vos
a hermética «Profecia», de Quincy Anderson.
proféticas lhe transmitem, anunciando a inexorabilidade dos fins, , ou por, na fatalidade da sua condição, não lhe der possível o conhecimento do mais importante que gera, ocupado que vai estando em correr, ignorando a nova esperança que desponta, confinado à marcha para baixo que se não revoga. Degrada-se assim, pela
ausência do conhecimento, resultando do e o ocultamento que de si faz. Até que, com o envelhecimento e desfecho, ou qualquer outro fim, sobrevenha a compreensão do processo e das identidades, tornando menos limitada a solidão de quem semeou na ignorância e está já na hora de apenas poder colher o certificado que apazigua, apesar do travo que deixa na boca a parte inalcançável que o couraça.
De Joaquim Manuel Magalhães, o TREZE de «os meus
versos», de «ANTÓNIO PALOLO»:
1
O touro abatido e sagrado
triângulo e círculo cobrindo o sol
consumia o mercado dos homens.
Movidos para o fogo
cada um ia sendo o centro de outro.
Até ao cimo.
2
A cabeça escuta as profecias.
Aquele que sabe as partes do céu
enterra seu gosto na areia.
O inverno cresce entre as plantas pequenas,
o que fizermos não valerá por nós.
3
Um deles cantava.
Um disse: trago para ti a neve.
O corpo estava morto eu tocava-lhe a boca.
O outro sorria.
Com as mãos nos olhos
água sémen terra
depois morri.
4
Esta semente o intermediário leva-a
às coisas do alto.
Reproduz nisso a felicidade.
Semelhante à matéria
semelhante ao espírito
abandonada nos vãos da casa.
5
O curso inferior do rio não vê
a terra que fertiliza.
Frágeis restos
perde-a para sempre.
O rio, o escondido,
não é o rio.
6
Nas trevas
pequenas cabeças chegam até mim.
Com inesperada voz abandono-as.
Junto dos mortos aprendo
suas metamorfoses sem uso.
Os astros transparentes no rosto
a aura líquida dos dedos
a ambígua ternura do saber
os dentes escuros escrevendo um nome.
Além do homem que imita o avestruz, trouxe-Vos
a hermética «Profecia», de Quincy Anderson.
2 Comments:
At 2:57 PM, Viajante said…
As insuficiências e as grandezas, ainda assim (e também).
A surdez do «não quer escutar» ou a fatalidade de «não lhe ser possível o conhecimento do mais importante», afirmais. Apetece acrescer que a hipersensibilidade ou o enciclopedismo do conhecimento, são igualmente capazes, ambos, do resultado "do e o ocultamento de si"!
Sim, é triste «semear na ignorância» - mesmo que o gesto seja belo ou generoso, porque será duvidosa a colheita das sombras.
Mas talvez, um mero e provável talvez, da angústia possa ressaltar e renascer grandeza.
Beijo, sem travo amargo.
At 8:44 PM, Paulo Cunha Porto said…
Mil Graças Senhora.
A fé na angústia foi a esperança existencial. Mas enfermava de um pecado apriorístico, embora pouco ORIGINAL: o de querer traçar rotas para a sensibilidade e de cair na dependência dos estímulos fortes. Que é o contrário do aprofundamento da susceptibilidade que se deve procurar e que, parece-me, procurais - o da busca do sentido através, também, das coisas que a vista desarmada que é a passagem apressada poderia considerar insignificantes.
Não há amargor possível no que de Vós provenha.
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