Ficções Políticas
Não posso estar em desacordo maior com as declarações do
Prof. Cavaco, ao repetir o estafado estribilho de que os
políticos devem ser aumentados para permitir o recrutamento
de pessoas capazes que, com estes ordenados, «fugirão para
o sector privado». Não acreditem nisso, é uma história da
carochinha tão grande como a das obras-primas da literatura
que morreram na gaveta pela maldade imensa da Comissão de
Censura. O poder político não precisa de quem o procure para
ganhar mais umas massas. Necessita é de quem sinta, tanto
quanto o regime e o sistema lhe permitem, o apelo de servir
e acredite ter condições para o fazer. Homens públicos pagos
a peso de ouro nas gestões, quer privada, quer de empresas
públicas, não se têm se coibido de descer até à indigência da
governação. Por bons motivos, talvez. Mas mesmo quem, em
abstracto, ponha a bolsa à cabeça das motivações, sabe bem que
o que uma passagem pelo governo faz ganhar em contactos e
estatuto, compensa bem, no futuro profissional os dois ou
três anitos perdidos...
Só que um dos outros candidatos, opondo-se também a esta posição,
veio com uma conversa mole ainda maior, ao debitar a banalidade
de que «a política é uma actividade nobre». Era-o quando os que
a exerciam eram escolhidos pelo Rei e a Ele serviam. Nobreza
veio a ser, no Ocidente, a classe que colaborava, na temporalidade,
mais de perto com o Poder Régio, ao contrário das aristocracias, as
quais se permitiam apropriar do mando por direito que consideravam
próprio, ou das oligarquias que o faziam por seu interesse. Trata-
-se pois de um erro. A menos que o referido candidato presidencial
tivesse no subconsciente o seu nome do meio e pretendesse dizer
que era coisa sua. Em trinta anos de Terceira República
há que reconhecer-lhe, factualmente, alguma razão. Mas é caso
para lamentar.
Prof. Cavaco, ao repetir o estafado estribilho de que os
políticos devem ser aumentados para permitir o recrutamento
de pessoas capazes que, com estes ordenados, «fugirão para
o sector privado». Não acreditem nisso, é uma história da
carochinha tão grande como a das obras-primas da literatura
que morreram na gaveta pela maldade imensa da Comissão de
Censura. O poder político não precisa de quem o procure para
ganhar mais umas massas. Necessita é de quem sinta, tanto
quanto o regime e o sistema lhe permitem, o apelo de servir
e acredite ter condições para o fazer. Homens públicos pagos
a peso de ouro nas gestões, quer privada, quer de empresas
públicas, não se têm se coibido de descer até à indigência da
governação. Por bons motivos, talvez. Mas mesmo quem, em
abstracto, ponha a bolsa à cabeça das motivações, sabe bem que
o que uma passagem pelo governo faz ganhar em contactos e
estatuto, compensa bem, no futuro profissional os dois ou
três anitos perdidos...
Só que um dos outros candidatos, opondo-se também a esta posição,
veio com uma conversa mole ainda maior, ao debitar a banalidade
de que «a política é uma actividade nobre». Era-o quando os que
a exerciam eram escolhidos pelo Rei e a Ele serviam. Nobreza
veio a ser, no Ocidente, a classe que colaborava, na temporalidade,
mais de perto com o Poder Régio, ao contrário das aristocracias, as
quais se permitiam apropriar do mando por direito que consideravam
próprio, ou das oligarquias que o faziam por seu interesse. Trata-
-se pois de um erro. A menos que o referido candidato presidencial
tivesse no subconsciente o seu nome do meio e pretendesse dizer
que era coisa sua. Em trinta anos de Terceira República
há que reconhecer-lhe, factualmente, alguma razão. Mas é caso
para lamentar.
4 Comments:
At 12:38 PM, Anonymous said…
Caro amigo; vossemecê disse tudo (por isso ninguém comentou). Cumpts.
At 1:23 PM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigadíssimo, Amigo meu. Por momentos temi que a banalidade do tema tivesse encontrado a mesma medida no comentário.
Muito obrigado por me sossegar.
At 1:50 PM, JSM said…
Caro Paulo Cunha Porto
Venho atrasado, mas venho. Permita-me por uma vez corrigi-lo a si e ao candidato Cavaco. Não em relação à sua análise, perfurante como sempre, mas em relação a um dos perigos invocados - o sector privado em Portugal! Não existe o risco de ninguém fugir para lado nenhum.Há muito tempo que o nosso sector 'privado' vive anexo ao Orçamento de Estado. Era só isto.
Um abraço e felicidades para o seu novo desafio na blogosfera.
At 2:21 PM, Paulo Cunha Porto said…
Tem razão, tem muita razão, Caríssimo JSM. Sector privado, de boa saúde e autónomo, em Portugal, cabe numa mão fechada. Com todas as conotações...
Um grande abraço.
Post a Comment
<< Home