Dois Abusos

Nem de propósito. Num dia em que o poema publicado foi dedicado
ao vinho, o leader Liberal-Democrata do Reino Unido confessou ter,
nos últimos 18 meses, vivido um grave problema de alcoolismo, que o
forçara a procurar ajuda médica. Já há algum tempo corriam rumores
a respeito, tendo sido aventada como explicação para a sua falta a
votações importantes, ou para o ar desorientado que evidenciava
em debates fundamentais. Ele sempre os tinha negado. Razão que
pode configurar três abusos em vez de um só. O da bebida e o da
credulidade e confiança dos seus compatriotas, ao mentir-lhes
descaradamente e ao não cumprir o melhor que podia os deveres do
cargo pelo qual era pago. Se o primeiro pode ser desculpável, os dois
últimos são razão mais do que bastante para o afastamento. Há, de
resto, a suspeita de que a confissão seja truque para captar simpatias
de uma sociedade minada por fraquezas similares, bem como para
tentar afastar as alternativas que se perfilavam à sua contestada
liderança, confiando em que os principais candidatos não avançassem,
por não quererem ser vistos como "carrascos de um homem doente".
Dois ministros-sombra importantes já se declararam, com cara
circunspecta e dentes a ranger, solidários com Charles Kennedy.
Todos os olhos estão agora postos no presidente do partido, Hughes,
que não quis pronunciar-se a quente. Tenho forte desconfiança de
que está à espera dos resultados de uma certa sondagem...