O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Thursday, January 05, 2006

Do Vento e do Chão

«O Beijo da Solidão» de Nicholas Rosal.
Dúvida: não será sempre este o impulso que leva a começar um blog, por muito
rodeado que se esteja? E a procura dessa uníão com o Incerto almejado, não levará ao desencantamento da constatação de uma lei da gravidade espiritual que encontra a obrigatória detença no solo que é a escrita? O Autor de um livro talvez saiba o que esperar; mas que espera de concreto o fazedor de posts? Não é a companhia a essência dessa espera, pois muitos e bons blogs há com caixas de comentários fechadas...

12 Comments:

  • At 12:39 AM, Blogger Viajante said…

    Caro Misantropo: o impulso parece-me ser plural, ainda que inclua um desejo de expressão de si. E poderá ter pitadas de lazer, de voyeur, de exibicionismo, de construção "de um mural", de abertura ao desconhecido, de experiência e descoberta, de desafio, enfim, miríades de possibilidades.
    Gostei mesmo da lei da gravidade espiritual! Sem desencantamento... Mas só pode ocorrer/ser «depois», não é? :) E quando se começa, a rede virtual de partilha e de "atracção" é apenas uma (ainda) vaga hipótese.

    A imagem é bela. Pungente e bela. Belamente só. E as mãos...
    Silencio-me, no silêncio da noite.
    Beijo.

     
  • At 1:16 AM, Blogger M Isabel G said…

    Paulo ou alguém que me ajude:
    Quem escreveu esta frase "O Homem inventou a palavra para esquecer o pensamento" -Pimandro???

    Obrigada

     
  • At 7:21 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Querida Miss Pearls: Embora não tivesse presente essa frase, suponho-a atribuída ao lendário Hermes Trimegisto, Pai de todos os esoterismos, de quem um «Pimandro» é o ex-libris.

    Querida Viajante:
    Pois eu adorei as «pitadas de voyeur», que foram empregues no sentido originário de "gostar de ser visto" e não no adulterante mais comunmente usado de "gostar de ver". «Gravidade» pareceu-me ilustrativa, pela multiplicidade de sentidos que oferece, mas claro que é momento posterior. A imagem: as mãos, claro, como o pormenor, aparentemente banal, da visibilidade da espinha...

     
  • At 8:50 AM, Anonymous Anonymous said…

    Amigo Paulo: El link de "O misantropo enjaulado" ya figura en el blog "En defensa de Occidente".

     
  • At 10:01 AM, Anonymous Anonymous said…

    E também é esse o impulso de quem procura um blog - alguém ou algo -para companhia, ao comentar.
    Mesmo que viva no meio da multidão concerteza está só.
    É o tentar a todo o custo erguer-se do Chão com a ajuda do Vento que sempre se espera do outro lado,é triste quando não sopra.

     
  • At 10:08 AM, Blogger Jansenista said…

    Miss Pearls, desconheço a origem da frase, mas nada podia ser mais falso do que ela. Não há pensamento sem palavras (experimente ter um pensamento inarticulável: impossível). Há coisas inefáveis que atravessam o nosso espírito e as nossas percepções, mas para serem pensamento já foram filtradas pela nossa linguagem. Os fenomenologistas (Husserl & alii) ainda tentaram explorar esse limbo do pré-articulado, mas não chegaram a lado nenhum. Admitamos que a linguagem poética, que não é puramente designativa ou referencial e tem dimensões evocativas e até directamente sensoriais (melódicas) pode estar perto de uma comunhão com essa inefabilidade, mas não consegue, por definiçãoi, "passar para o lado de lá". Talvez por isso hoje predomina o entendimento do "segundo Wittgenstein", de que a linguagem é tudo, e não há outro "fundamento" para o pensamento do que o de constituir um "jogo de linguagem": possivelmente arbitrario, ou então submetido a uma lógica adaptativa, darwinista, uma "astúcia da razão" que está para lá das nossas capacidades de designação.
    Em directo de Konigsberg, atentamente, O Jansenista

     
  • At 3:20 PM, Blogger M Isabel G said…

    Obrigada a ambos

     
  • At 3:22 PM, Blogger M Isabel G said…

    Se bem que :
    "Meu pensamento, dito, já não é
    ...
    Se falo, sinto
    ...
    Assim, quanto mais digo, mais me engano,(...)"
    "Novas Poesias Inéditas"- Fernando Pessoa, ed. Ática 1973, pag. 148

     
  • At 9:01 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Na parte que me toca, foi um prazer.
    Conseguiu encontrar o texto, Esotérica Miss?

     
  • At 10:43 PM, Blogger Jansenista said…

    Prazer meu, igualmente.
    O que Miss Pearls procura é uma passagem de _Armance_, de Stendhal:
    "Elle lui dit un autre jour qu'elle gagerait qu'il avait deviné tout seul ce grand principe : que la parole a été donnée à l'homme pour cacher sa pensée.". Ao que se diz, Stendhal terá encontrado inspiração no diálogo _Le Chapon de la Poularde_, do grande Voltaire: "Il ne se servent de la pensée que pour autoriser leurs injustices et n'emploient les paroles que pour déguiser leurs pensées."

    Greetings from 221B Baker Street!

     
  • At 11:26 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Essa está lindíssima!
    Temos que pôr no retrato um chapéu de caça por cima da cabeleita empoada.
    Um Delírio de sagacidade!

     
  • At 1:41 AM, Blogger M Isabel G said…

    Obrigada a ambos de novo.
    Caro Jansenista,
    Muito interessante. Mesmo muito interessante, mas eu continuo a gostar mais do Ricardo Reis , mesmo na onda esotérica.
    Estas coisas não são fáceis e eu tenho a vida do lar à minha espera :)
    É sempre um gosto aprender por aqui.

     

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