Do Vento e do Chão
«O Beijo da Solidão» de Nicholas Rosal.
Dúvida: não será sempre este o impulso que leva a começar um blog, por muito
rodeado que se esteja? E a procura dessa uníão com o Incerto almejado, não levará ao desencantamento da constatação de uma lei da gravidade espiritual que encontra a obrigatória detença no solo que é a escrita? O Autor de um livro talvez saiba o que esperar; mas que espera de concreto o fazedor de posts? Não é a companhia a essência dessa espera, pois muitos e bons blogs há com caixas de comentários fechadas...
Dúvida: não será sempre este o impulso que leva a começar um blog, por muito
rodeado que se esteja? E a procura dessa uníão com o Incerto almejado, não levará ao desencantamento da constatação de uma lei da gravidade espiritual que encontra a obrigatória detença no solo que é a escrita? O Autor de um livro talvez saiba o que esperar; mas que espera de concreto o fazedor de posts? Não é a companhia a essência dessa espera, pois muitos e bons blogs há com caixas de comentários fechadas...
12 Comments:
At 12:39 AM, Viajante said…
Caro Misantropo: o impulso parece-me ser plural, ainda que inclua um desejo de expressão de si. E poderá ter pitadas de lazer, de voyeur, de exibicionismo, de construção "de um mural", de abertura ao desconhecido, de experiência e descoberta, de desafio, enfim, miríades de possibilidades.
Gostei mesmo da lei da gravidade espiritual! Sem desencantamento... Mas só pode ocorrer/ser «depois», não é? :) E quando se começa, a rede virtual de partilha e de "atracção" é apenas uma (ainda) vaga hipótese.
A imagem é bela. Pungente e bela. Belamente só. E as mãos...
Silencio-me, no silêncio da noite.
Beijo.
At 1:16 AM, M Isabel G said…
Paulo ou alguém que me ajude:
Quem escreveu esta frase "O Homem inventou a palavra para esquecer o pensamento" -Pimandro???
Obrigada
At 7:21 AM, Paulo Cunha Porto said…
Querida Miss Pearls: Embora não tivesse presente essa frase, suponho-a atribuída ao lendário Hermes Trimegisto, Pai de todos os esoterismos, de quem um «Pimandro» é o ex-libris.
Querida Viajante:
Pois eu adorei as «pitadas de voyeur», que foram empregues no sentido originário de "gostar de ser visto" e não no adulterante mais comunmente usado de "gostar de ver". «Gravidade» pareceu-me ilustrativa, pela multiplicidade de sentidos que oferece, mas claro que é momento posterior. A imagem: as mãos, claro, como o pormenor, aparentemente banal, da visibilidade da espinha...
At 8:50 AM, Anonymous said…
Amigo Paulo: El link de "O misantropo enjaulado" ya figura en el blog "En defensa de Occidente".
At 10:01 AM, Anonymous said…
E também é esse o impulso de quem procura um blog - alguém ou algo -para companhia, ao comentar.
Mesmo que viva no meio da multidão concerteza está só.
É o tentar a todo o custo erguer-se do Chão com a ajuda do Vento que sempre se espera do outro lado,é triste quando não sopra.
At 10:08 AM, Jansenista said…
Miss Pearls, desconheço a origem da frase, mas nada podia ser mais falso do que ela. Não há pensamento sem palavras (experimente ter um pensamento inarticulável: impossível). Há coisas inefáveis que atravessam o nosso espírito e as nossas percepções, mas para serem pensamento já foram filtradas pela nossa linguagem. Os fenomenologistas (Husserl & alii) ainda tentaram explorar esse limbo do pré-articulado, mas não chegaram a lado nenhum. Admitamos que a linguagem poética, que não é puramente designativa ou referencial e tem dimensões evocativas e até directamente sensoriais (melódicas) pode estar perto de uma comunhão com essa inefabilidade, mas não consegue, por definiçãoi, "passar para o lado de lá". Talvez por isso hoje predomina o entendimento do "segundo Wittgenstein", de que a linguagem é tudo, e não há outro "fundamento" para o pensamento do que o de constituir um "jogo de linguagem": possivelmente arbitrario, ou então submetido a uma lógica adaptativa, darwinista, uma "astúcia da razão" que está para lá das nossas capacidades de designação.
Em directo de Konigsberg, atentamente, O Jansenista
At 3:20 PM, M Isabel G said…
Obrigada a ambos
At 3:22 PM, M Isabel G said…
Se bem que :
"Meu pensamento, dito, já não é
...
Se falo, sinto
...
Assim, quanto mais digo, mais me engano,(...)"
"Novas Poesias Inéditas"- Fernando Pessoa, ed. Ática 1973, pag. 148
At 9:01 PM, Paulo Cunha Porto said…
Na parte que me toca, foi um prazer.
Conseguiu encontrar o texto, Esotérica Miss?
At 10:43 PM, Jansenista said…
Prazer meu, igualmente.
O que Miss Pearls procura é uma passagem de _Armance_, de Stendhal:
"Elle lui dit un autre jour qu'elle gagerait qu'il avait deviné tout seul ce grand principe : que la parole a été donnée à l'homme pour cacher sa pensée.". Ao que se diz, Stendhal terá encontrado inspiração no diálogo _Le Chapon de la Poularde_, do grande Voltaire: "Il ne se servent de la pensée que pour autoriser leurs injustices et n'emploient les paroles que pour déguiser leurs pensées."
Greetings from 221B Baker Street!
At 11:26 PM, Paulo Cunha Porto said…
Essa está lindíssima!
Temos que pôr no retrato um chapéu de caça por cima da cabeleita empoada.
Um Delírio de sagacidade!
At 1:41 AM, M Isabel G said…
Obrigada a ambos de novo.
Caro Jansenista,
Muito interessante. Mesmo muito interessante, mas eu continuo a gostar mais do Ricardo Reis , mesmo na onda esotérica.
Estas coisas não são fáceis e eu tenho a vida do lar à minha espera :)
É sempre um gosto aprender por aqui.
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