Leitura Matinal -218

Quero dedicar o poema de hoje ao JSarto. A sua Autora foi a grande Poetisa italiana Cristina Campo, que com ele compartilhou a devoção pela liturgia pré-conciliar de Vaticano II, apesar de, na parte final da vida, se ter aproximado da Igreja Ortodoxa, o que, possivelmente, repugnaria ao nosso Homenageado. Antes, porém, tinha-se continuamente batido para que a reforma que considerava cedência espúria à secularização não fosse avante.
Depois de contínuas tomadas de posição, acabou por promover e apresentar um manifesto de vários escritores e artistas, como Dreyer, Auden, Borges, Bresson, Chirico, Julien Green, Maritain, Montale, Quasimodo, Evelyn Waugh, Zambrano, etc., para que o ofício divino em língua latina fosse mantido.
Não sendo, eu próprio, um intransigente nesta matéria, vejo com profunda simpatia Aqueles que resistem à destruição dos rituais que formaram a Identidade da Igreja, como igualmente a algumas reformas de disciplina descaracterizadores e susceptíveis de criar um ambiente propício a desconstruções dogmáticas que conduzam à derrocada. Parece-me até que não será de todo descabido sentir uma vaga similitude de sensibilidades entre o que foram as actualizações da celebração da Santa Missa e o móbil de Lutero, quando iniciou a tradução da Bíblia. E penso que a chamada dos leigos a um desejável aumento de participação na actividade eclesial pode bem ocorrer fora do Momento Sagrado que culmina na Eucaristia. Parafraseando o Eclesiastes, "haveria tempo para a participações activas de outro género e tempo para o respeito pela Majestade do Senhor". Sendo que este encontrará maior facilidade e felicidade de existência num Cerimonial que liga directamente a fases anteriores da Herança.
Mas, como digo, não tenho posturas inflexíveis, nestas matérias. Consigo conviver com as novas normas. Lamento profundamente é que sejam marginalizados os que fazem da questão um ponto de honra.
Olçamos então Cristina, na versão de José Tolentino Mendonça:

NOBILÍSSIMOS SACERDOTES

Nobilíssimos sacerdotes,
dou graças pelo silêncio,
a abstençao, a santa
gnose da distância,
o jejum dos olhos, o veto dos véus,
o negro cordão que liga aos céus
com cento e cinquenta vezes sete nós de seda
cada tremor do pulso,
o augusto cânone do amor imperturbável,
a dança divina do escondimento:
incêndio imperial que acende
como em Teófano o Grego e em André Diácono,
de mil Tabores o ouro das vossas cúpulas,
abre olhos do coração nos tão azuis espaldares,
reveste os torreões de Sangue...

A proximidade extingue
como chuva de cinzas.