Leitura Matinal -210

.

Pensar o Nada: como suprema opressão, ou como a libertação das intensidades que ferem, mal compensando a confirmação da vida pela afirmação existencial, em todos os sentidos imagináveis do termo. É difícil manter a constância dos estados de alma e duvido que fosse gratificante fazê-lo. Queixarmo-nos da chaga que a sensibilidade desperta em nós, saída do que mais procuramos, ora a emoção intelectualizada de uma leitura, ora a sua contraparte, assente sobre os sentimentos que beneficiaram
da colaboração dos sentidos, pode instigar a nossa alma à difusa crença de havermos passado já por um estado de angelismo despreocupado e satisfeito que nunca daríamos como sinónimo de "Felicidade" enquanto perdurasse, mas que excita a nossa tendência a desejar o oposto do que obtivemos. Tendo sido o alimento das aspirações, sonharemos sempre com a paz que se desprenderia da ausência delas, como, se estivéssemos vivendo esse idílio com a quietude; onde transporíamos o distante supremo contentamento para uma época sonhada em que experimentávamos e nos era possível sentir.
De António Teixeira e Castro:

NADA

digo ao poeta
o que me dói é não ser nada
nesta página que reacende os olhos
na noite que não durmo
sobre os braços ou o colo que me cedeste.

estou sempre do outro lado da vida
poeta amigo
nessa interioridade básica que nos permite
ir
suspeitando de algum dia termos sido felizes


Uma reprodução de Keats, belamente editado, mais «Um Anjo
Brilhante e Feliz», de David Bryne, acompanham.