O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Saturday, December 03, 2005

Leitura Matinal -198

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Não é tanto a insânia que pesa, mas a forma pela qual ela é aferrolhada. Se da vertigem onírica se acorda ao fim da noite, ou, tanta vez, no meio dela, o hospício é experiência de amplitude mais
notória que o sonho, mas pouco, uma vez comparado com a perspectiva obsessiva da vida desprovida de janelas que libertem o espírito. Une-se a esta última por ser biografia, enquanto que a produção mental do sonho raramente o é e, ainda assim, apenas quando filtrada pela razão depuradoura. Sendo que um e a outra podem funcionar como recíprocos contra-venenos e ambos contra o devaneio, que é, no fim de contas, o acto de sonhar acordado. E haverá alguma ameaça mais perigosa para o equilíbrio mental do que a intervenção exterior que acorde, num desses momentos de total e alienante entrega? Como se sabe, é perigoso despertar os sonâmbulos. Não o será mais interromper a abstracção do ambiente exterior, pelo menos tanto como se acredita ser intervalar este com o império absoluto da criatividade interna? Oiçamos quem conhece este antagónico jogo de pressões, em grau elevado.
De Alda Merini, que viveu as três experiências:

Manicómio é palavra bem maior
do que as obscuras voragens do sonho,
mas vinha por vezes naquele tempo
filamento de azul ou uma canção
distante de rouxinol ou a tua boca
entreabria-se mordendo no azul
a mentira feroz da vida.
Ou uma mão impiedosa de doente
subia devagar à tua janela
silabando o teu nome e finalmente
desfeito o número imundo reencontravas
.............................toda a seriedade da tua vida.

3 Comments:

  • At 11:42 AM, Blogger Macro said…

    Caro Paulo,
    brilhante este blog..
    Hoje tive um pesadelo com as presidenciais e a imagem que me navegou à vista foi essa mesma, as palavras também estão lá. Com sua licença irei surropiá-las para o macroscopio.
    Bem haja e um abraço
    RPM

     
  • At 7:18 PM, Anonymous Anonymous said…

    Querido Paulo:
    No se si suscribo enteramente este post tuyo.
    La dolencia mental es una de las dolencias mas terribles. Por ella misma, independientemente de como se llega a ella.
    Por otro lado no es lo mismo una psicosis que un episodio unico de depresion.
    Quizas haya todavia demasiados mitos acerca de la enfermedad mental.
    Un abrazo,
    Rafael Castela Santos

     
  • At 8:49 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Obrigado, Caro Rui, pelas palavras Amigas.
    Caríssimo Rafael: falando com um Especialista no ramo, tenho de deixar claro que não alinho nas teorias que querem esbater a fronteira entre as doenças mentais e as alterações psíquicas que ficam aquém delas. O que pretendi sublinhar foi a delicadeza que implica lidar com os afectados por essas maleitas, que, se vítimas de bruscas experiências, podem comprometer de vez a sua capacidade de, estabilizadamente, aceitar, sem violência interior, as dificuldades impostas pela existência. Por muito que, em casos excepcionais, esta luta estimule a criatividade.
    Mas o Rafael mais e melhor dirá.

     

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