Leitura Matinal -143
Em que medida a Escrita ganha com a clarificação que lhe
seja dada pela luz abrasadora dos títulos? Enquanto eles
actuam como conformação originária da produção, marcando-lhe
os limites mas servindo de fonte que a origina, temos, como na marcha
solar ou num acto de amor, a sequência que rasga e frutifica. Quando,
mais tarde, o paroxismo se vai esbatendo, esvai-se a clareza da
submissão ou da fusão e levanta-se, com força até aí adormecida, a voz
do elemento individual com a sua específica dificuldade de descodificação,
acompanhada da atracção que o Único e os seus mistérios despertam.
Mas é certo e sabido que a mira está assestada para um novo momento
de luz e calor, de cuja perda a escuridão afirmativa e apelativa é, de
certo modo, o lamento, tal como o íman-receptáculo do seu renascer.
De Francis Ponge:
O SOL INTITULA A NATUREZA
O sol de certa forma intitula a natureza. Eis de que
forma.
Durante a noite aproxima-se dela por debaixo. Depois
aparece no horizonte do texto, incorporando-se por instantes
na sua primeira linha, da qual aliás logo se desliga. E há
aí um momento sangrento.
Erguendo-se pouco a pouco, atinge então o zénite a situação
exacta de título, e tudo então fica justo, tudo se refere a
ele segundo raios iguais em intensidade e em extensão.
Mas a partir daí, ele declina pouco a pouco, em direcção
ao ângulo inferior direito da página, e quando transpõe
a última linha, para voltar a mergulhar na obscuridade e no
silêncio, há um novo momento sangrento.
Rapidamente então a sombra cresce pelo texto que em
breve deixa de ser legível.
É então que o brado nocturno da indignação ressoa.
seja dada pela luz abrasadora dos títulos? Enquanto eles
actuam como conformação originária da produção, marcando-lhe
os limites mas servindo de fonte que a origina, temos, como na marcha
solar ou num acto de amor, a sequência que rasga e frutifica. Quando,
mais tarde, o paroxismo se vai esbatendo, esvai-se a clareza da
submissão ou da fusão e levanta-se, com força até aí adormecida, a voz
do elemento individual com a sua específica dificuldade de descodificação,
acompanhada da atracção que o Único e os seus mistérios despertam.
Mas é certo e sabido que a mira está assestada para um novo momento
de luz e calor, de cuja perda a escuridão afirmativa e apelativa é, de
certo modo, o lamento, tal como o íman-receptáculo do seu renascer.
De Francis Ponge:
O SOL INTITULA A NATUREZA
O sol de certa forma intitula a natureza. Eis de que
forma.
Durante a noite aproxima-se dela por debaixo. Depois
aparece no horizonte do texto, incorporando-se por instantes
na sua primeira linha, da qual aliás logo se desliga. E há
aí um momento sangrento.
Erguendo-se pouco a pouco, atinge então o zénite a situação
exacta de título, e tudo então fica justo, tudo se refere a
ele segundo raios iguais em intensidade e em extensão.
Mas a partir daí, ele declina pouco a pouco, em direcção
ao ângulo inferior direito da página, e quando transpõe
a última linha, para voltar a mergulhar na obscuridade e no
silêncio, há um novo momento sangrento.
Rapidamente então a sombra cresce pelo texto que em
breve deixa de ser legível.
É então que o brado nocturno da indignação ressoa.
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